sexta-feira, 23 de julho de 2010

JULIÃO QUINTINHA


Assinala-se hoje a data em que faleceu um dos jornalistas portugueses que marcaram o século XX em Portugal: Julião Quintinha.

Nasceu em Silves a 19 de Dezembro de 1885 e faleceu em Lisboa a 23 de Julho de 1968, com 82 anos de idade.

Começa a trabalhar desde bastante jovem, como operário, em Silves, mais tarde aprende o ofício de alfaiate, tendo estabelecimento aberto na cidade, que o vai ocupar até à implantação da República.

Em 9 de Novembro de 1907, casou civilmente, na cidade de Silves, tendo como testemunhas do seu casamento outro dos importantes republicanos de Silves, Gregório Nunes Mascarenhas Netto (ou Mascarenhas Gregório).

Dedicou-se à colaboração com jornais, inicialmente nos periódicos republicanos locais e depois como correspondente de órgãos republicanos de Lisboa. Demonstrava grande esperança no novo regime, defendendo a sua implantação e fazendo propaganda a favor da causa republicana, participando em comícios. Esta circunstância permitiu-lhe o contacto com os mais conhecidos homens de letras de Portugal, particularmente os que eram ligados ao Partido Republicano.

Juntamente com Henrique Martins fundou e dirigiu a Alma Algarvia até que o governo republicano o nomeou administrador do concelho de Portimão e de Silves para o biénio de 1912 - 1914. Neste ano foi escolhido por concurso público para o lugar de chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Silves onde se manteve até 1920, quando se demite e parte para Lisboa com o objectivo de tomar posse do lugar de inspector de uma companhia de seguros.

Participou no Congresso do Algarve, realizado em 1916, apresentando uma tese intitulada Assistência à Mendicidade, onde manifestava as preocupações sociais que o acompanharam ao longo da vida. Mais tarde envolveu-se em polémica com Alfredo Pimenta, publicando um folheto A Solução Monárquica do Sr. Alfredo Pimenta (1916); No Fim da Guerra. Comentário político (1917).

A partir de 1920 começa a dedicar-se ao jornalismo de forma profissional e colabora com diversos periódicos, entre eles destacam-se O Século, Diário Popular, O Diabo, Mala da Europa, Actualidades e Diário Liberal.

Como chefe de redacção pertenceu ainda ao Diário da Tarde, Diário da Noite e Jornal da Europa. Colaborou ainda com o Diário do Alentejo, Tribuna, de Santos (Brasil), Diário Liberal, A Batalha, Rebate, O Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa, Globo, Bejense, Ilustração Portuguesa, Seara Nova, Voz do Sul, Província de Angola, Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e redactor do República de cuja redacção foi sub-chefe.

Notabilizou-se, pelos seus relatos de viagem em África, quando em 1925, em representação do Jornal da Europa percorre durante dois anos as colónias portuguesas, o Egipto, o Índico, Mar Vermelho e Mediterrâneo. Durante esse período escreveu dezenas de reportagens e diversos livros, tendo em 1930 recebido o prémio de Literatura Ultramarina com a sua obra A Derrocada do Império Vátua e Mouzinho de Albuquerque. Também os seus livros África Misteriosa (1928) e Ouro Africano (1929) foram bastante aplaudidos.

Escreveu também alguma ficção com obras como: Vizinhos do Mar (1921); Terras de Fogo (1923); Cavalgada de Sonho (1924); e Novela Africana (1933); no género reportagem publicou também Terras de Sol e da Febre (1932), e uma colectânea de estudos literários intitulada Imagens de Actualidade (1933). Como jornalista bastante conhecido foi também um defensor da sua classe sendo eleito por várias vezes para presidente do Sindicato dos Jornalistas e da Casa da Imprensa.

Pertenceu à geração que conhece as influências do Neo-Realismo, torna-se amigo de Ferreira de Castro, Assis Esperança, entre outros.

Durante o Estado Novo teve alguns problemas com a polícia política (PIDE) que lhe moveu apertada vigilância e algumas situações desagradáveis. Como era conhecido oposicionista, fez parte da Comissão Cívica Eleitoral. Sabe-se o apoio de concedeu à candidaturas goradas de Cunha Leal e de Ferreira de Castro, em 1958, antes de se confirmar a candidatura de Humberto Delgado.[José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960), Círculo de Leitores, Lisboa, 2005, p. 604-605].

Durante a década de cinquenta, do século XX, era um dos frequentadores habituais que se reuniam em tertúlia na Pastelaria Veneza, em Lisboa. Desse grupo faziam parte Ferreira de Castro, Luís da Câmara Reis, Roberto Nobre, Augusto Casimiro, entre outros [António Pedro Vicente, "Arlindo Augusto Pires Vicente", Dicionário de História do Estado Novo, vol. II, Dir. Fernando Rosas e José Maria Brandão de Brito, Bertrand Editora, Lisboa, 1996, p. 1006-1008]

Pertenceu à Maçonaria, tendo sido iniciado em Portimão, no triângulo nº 198, que ali existia em 1912, tendo o nome simbolico de Danton [A.H. Oliveira Marques, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol. II, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 1184].

Sobre Julião Quintinha recomendamos a visita aos seguintes espaços na blogosfera:
http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/2497.html
http://blogal.blogspot.com/2004/11/julio-quintinha.html
http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/188180.html

Consultar a homenagem que foi realizada pelo jornal República:
Aqui

Um artigo científico com algumas referências a Julião Quintinha:
Aqui.

E ainda as referências à sua actividade enquanto dirigente da classe dos jornalistas a consultar:
AQUI.

A.A.B.M.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho um livro do Juliao Quintinha, autografado por ele, de 1931 "Terras do Sol e da Febre" ...troco por qualquer coisa, sou Jorge em Beja: jjorgepaxjulia4@hotmail.com

Anónimo disse...

Seria muita sorte minha, poder ter esse livro. Agora atroco de quê? Teria de dizer-me o que mais aprecia para o poder recompensar.Mas... dado o tempo passado da sua oferta, já não deve tê-lo. Pode responder para cristal62@gmail.com.
Obrigada.