segunda-feira, 28 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (PARTE IV)



Entre 1908 e 1910, Luz de Almeida, integrou a última Alta Venda da Carbonária, juntamente com Machado dos Santos, António Maria da Silva, Henrique Cordeiro, António dos Santos Fonseca e Franklin Lamas. Sendo descobertas as suas actividades clandestinas, em 1909, foi obrigado a partir para o exílio em França depois de o implicarem num homicídio que deu muito que falar nesse ano e que ficou conhecido como o "crime de Cascais", para escapar ao mandato de captura policial, António Maria da Silva obriga Luz Almeida a fugir no automóvel de Américo de Oliveira, o exílio decorreu primeiro na Bélgica e a partir de 22 de Janeiro de 1909 em França, volta depois da Proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910.

Após a implantação da República, Luz de Almeida, que tinha sido um dos principais responsáveis da revolta foi eleito deputado às Constituintes de 1911, mas não chegou a tomar posse pois participou de forma activa da repressão dos movimentos monárquicos que eclodiram no Norte do País.

Alguns estudos e memórias da época indicam que Luz de Almeida se deslocou pelo País a coberto de vários disfarces, utilizando diversos nomes e profissões, ainda antes da implantação da República. Percorreu algumas terras da província e numa das suas deslocações visitou Vila Real, onde contactou Adelino Samardan. Era seu objectivo organizar núcleos carbonários em Trás-os-Montes, para isso contava com o apoio de um grupo de sargentos que também defendiam a causa republicana. Numa dessas viagens deslocou-se a Chaves. [Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 265-297] Tudo indica que nessa viagem, a intenção era realizar a iniciação do Dr. António Granjo e constituir na região um grupo de carbonários, facto que veio depois a concretizar. Após a implantação da República, quando surgiu a ameaça de invasão monárquica, comandada por Paiva Couceiro a partir da vizinha Espanha, Luz de Almeida acompanhou António José de Almeida na visita à região de Chaves. Como o governante tinha que partir de imediato para Lisboa, Luz de Almeida temendo pela segurança do novo regime acabou por permanecer na cidade transmontana durante cerca de cinco meses. [Júlio M. Machado, A República em Chaves, Grupo Cultural Aquae Flaviae, Vila Real, 1998, p. 40]

Durante esse período trabalhou juntamente com os carbonários locais no serviço de vigilância junto da fronteira e no interior da própria cidade de António Granjo. Neste período de permanência em Chaves envolveu-se de forma activa nos confrontos e foi mesmo alvo de um atentado à bomba que acabou por fracassar. Alvo de várias ameaças, enfrentou o perigo e deslocou-se pessoalmente à vila galega de Verin, onde viviam refugiados grande número de combatentes monárquicos. Regressou a Chaves onde recebeu calorosa “recepção de oficiais e civis que não dispensaram beber uma taça de champanhe e honra de tão corajosa atitude”[ Júlio M. Machado, idem, p. 41].

Com a consolidação do regime republicano, a Carbonária acaba por dissolver-se, mas Luz de Almeida continuaria com a fama de conspirador. Durante o governo de Sidónio Pais foi preso perto do Governo Civil de Lisboa, mas acabou por ser libertado algumas horas mais tarde porque um oficial (o major Esmeraldo ???) era seu amigo e também republicano. Algum tempo depois, ainda durante o sidonismo, Machado Santos, um dos apoiantes de Sidónio Pais, informou-o de estava prestes a ser preso, por haver informações de que ele estaria novamente envolvido em actividades conspirativas. Mais tarde, o próprio Machado Santos o convida para o desempenho de cargos políticos ao lado de Sidónio Pais, mas “recusou, recusou sempre”[Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 294]. No entanto, os boatos sobre o seu envolvimento em novas conspirações leva-o a aceitar o pedido de Machado Santos para que se ausente de Lisboa durante algum tempo.

Reinicia nessa fase nova conspiração criando uma nova sociedade secreta a Serrania. Esta nova sociedade envolveu ainda alguns processos de iniciação, mas surge num contexto tardio. Existiam muitas prisões arbitrárias, a vigilância era apertada e o ambiente não era tão favorável. Luz de Almeida publica anonimamente um folheto intitulado O Sonho dum Soldado, manifestando, tal como o título indicava, uma atenção especial ao elemento militar. Tudo indica que o folheto foi distribuído não só em Lisboa mas também nas províncias, porém as dificuldades aumentavam. Luz de Almeida ameaçado de prisão teve que passar à clandestinidade, onde se manteve durante algum tempo.

Com o movimento da Monarquia do Norte, o antigo líder da Carbonária reaparece e integra o grupo de cidadãos que se reúnem no Campo Pequeno para defender a República. Com Monarquia do Norte, Luz de Almeida alista-se novamente “como soldado no batalhão de voluntários organizado pela inspecção de Infantaria, não chegando a seguir para o norte – apesar de devidamente adestrado e completo de instrução – porque na véspera da partida foi a República restaurada no Porto pelo capitão Sarmento da GNR”[Magalhães Lima, Episódios da Minha Vida, Livraria Universal, Lisboa, 1928, p. 296].

Desempenhou funções como Inspector das Bibliotecas Populares e Móveis na reorganização dos Serviços das Bibliotecas e Arquivos Nacionais e publicou no âmbito desse trabalho, em 1918, Bibliotecas Populares e Móveis em Portugal, Relatório.

Faleceu a 4 de Março de 1939, com 75 anos.

Conhece-se a sua colaboração no seguinte jornal:
O Intransigente, Dir. Machado Santos, Lisboa, 1910-1915, no entanto deve ter colaborado em outras só que de forma anónima e não foi possível completar com mais elementos biobibliográficos que gostaríamos de fornecer aos nossos ledores.

Publicou:
- “A obra revolucionária da propaganda: as sociedades secretas”, in Luís de Montalvor (dir.), História do Regime Republicano em Portugal, Lisboa, 1932, vol. II, p. 202-256.
- Cartilha do Cidadão. Diálogos entre o Doutor Ribeiro (médico militar) e João Magala. Para Paisanos e Militares [l. fictício], 1909. (folheto na anónimo)
- O sonho dum soldado, folheto, s.d. (1918???)
- Bibliotecas Populares e Móveis em Portugal, Relatório, Lisboa, 1918.

[FOTO: Homenagem da Loja Montanha ao Fundador da Carbonária, publicada na Ilustração Portuguesa, nº 232, 27-02-1911, p. 264.]

A.A.B.M.

domingo, 27 de junho de 2010

A MAÇONARIA EM PONTE DE LIMA - POR CARLOS GOMES


A MAÇONARIA EM PONTE DE LIMA por CARLOS GOMES - retirado, com a devida vénia, da revista "O Anunciador das Feiras Novas", Ano XXIV, Série II, nº XXIV, Agosto 2007, pp 101-109 [clicar em FULL para ler em ecrã total]

Nota: capa - com foto de Norton de Matos, G. M. do G.O.L.U. em 31 de Dezembro de 1929 - da nossa responsabilidade.

J.M.M.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

EXPOSIÇÃO - CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO

EXPOSIÇÃO: Carolina Beatriz Ângelo. Intersecções dos sentidos/palavras actos e imagens. LOCAL: GUARDA (no MUSEU) INAUGURAÇÃO: DIA 24 DE JUNHO 2010 (17 horas) Exposição integrada no Programa para as Comemorações do Centenário da República sobre Carolina Beatriz Ângelo ["nasceu a 16 de Abril de 1878, na cidade da Guarda e revelou-se uma das figuras mais emblemáticas do feminismo e do republicanismo da 1.ª década do século XX, sabendo combinar a medicina com a militância associativa, política e maçónica assente na reafirmação incessante de direitos para as mulheres. Formou-se em Medicina em 1902 e envolveu-se, entre 1906 e 1911, na edificação do associativismo feminista de matizes pacifista, maçónico, republicano e sufragista. Conspirou, em 1910, pela República, bordando, com a colega, amiga e companheira Adelaide Cabete, as bandeiras hasteadas durante o 5 de Outubro e, com a República, transformou-se numa denodada batalhadora pelo sufrágio feminino, mesmo que abrangendo uma minoria" - ler TUDO AQUI], e contará com a participação dos alunos da Escola EB 2/3 de Santa Clara (Guarda) com o "cântico escolar 'SEMENTEIRA', com música de Júlio Cardona e versos de Luis Matta". J.M.M.

VII CURSO LIVRE DE HISTÓRIA DO ALGARVE


Encontra-se em preparação a VII edição do Curso Livre de História do Algarve, promovido pela Universidade do Algarve.

Aproveitando para promover a celebração do centenário da implantação da República, terá o tema O Algarve e a I República.

O curso decorre durante o próximo mês de Julho, todas as 3as e 5as feiras ao fim da tarde, das 17:30 às 19:30.

As palestras serão realizadas no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve, no edifício do Complexo Pedagógico. As sessões irão decorrer no Anfiteatro C.

O Plano do Curso é o que se segue:

1 Julho, 5ª feira:

António Rosa Mendes | A I República no Algarve

6 Julho, 3ª feira:

Vasco Barbosa Prudêncio | João Lúcio (1880-1918), poeta e político de transição entre a Monarquia e a República

8 Julho, 5ª feira:

Patrícia Palma | A actividade tipográfica algarvia ao serviço da causa republicana

13 Julho, 3ª feira:

Fernando Paulo Custódio | Manuel Teixeira-Gomes: o escritor, o diplomata, o Presidente da República

15 Julho, 5ª feira:

Teresa Valente e Idalina Santos | A primeira lista de Monumentos Nacionais: o caso do Algarve

20 Julho, 3ª feira:

João Vargues | O Futurismo no Algarve: o caso do jornal «O Heraldo»

22 Julho, 5ª feira:

Vanda Germano | O Poder Local na I República: o caso de Portimão

27 Julho, 3ª feira:

Paulo Pires | O paradigma laicista republicano e o seu impacto no universo pedagógico-religioso algarvio (1910-1914)

29 Julho, 5ª feira:

Joaquim Romero Magalhães | A I República Portuguesa

Para inscrições ver AQUI ou contactos ver AQUI.

A organização deste curso está a cargo do Professor Doutor António Rosa Mendes e da arquitecta Catarina Almeida Marado.

Uma actividade que voltamos a recomendar aos nossos ledores, este ano acresce o facto de se tentar vários aspectos da vida da 1ª República no Algarve, com vários especialistas na matéria em termos regionais.

A.A.B.M.

domingo, 20 de junho de 2010

UMA NOTA CURIOSA SOBRE JOSÉ SARAMAGO


Nas nossas deambulações e pesquisas entre jornais e revistas antigas encontramos esta referência à primeira obra de José Saramago. O autor do texto foi José Ribeiro Alves Júnior, autor nascido em Vila Real de Santo António a 24 de Dezembro de 1887 e veio a falecer em 2 de Março de 1973. Publicou diversos títulos entre os quais destacamos: Miscelânea, 1909; Sacrifício Inútil, 1923; Iniquidades Sociais, 1927; Fel e Vinagre, 1933; Eterno Enigma, 1939; Ferro em Brasa, 1941; Porque não Triunfará a Alemanha, 1941; e, Caturrices, 1943.

Colaborou em vários jornais como: O Século, Jornal de Sintra, Diário do Alentejo, O Sul, Correio do Sul, Alma Algarvia, entre outros.

Em 1914 deixa o Algarve e passa a residir em Lisboa, onde trabalha como guarda-livros numa casa importadora de artigos americanos. Em 1918 consegue alcançar o Doutoramento Honoris Causa, por proposta de Teófilo Braga e ingressa como Sócio Correspondente em várias instituições científicas, destacando-se a Academia de Ciências de Lisboa.

Participa em vários colóquios, com destaque para o Congresso Nacional Abolicionista (1926) e no 2º Congresso Feminista (1928), onde apresentou também teses da sua autoria.

Em 1950 foi também eleito sócio-correspondente da Real Academia Galega, com sede em La Coruña.

Publicou então em 1950, no semanário de Portimão, a seguinte nota a propósito da Terra do Pecado editada anos antes pelo autor agora falecido que deixamos aos nossos ledores:

Dizem-me, sem fundamento, ser este escritor algarvio; mas não afianço … De que terra?! Do Algarve! Como se o Algarve não fosse uma província de Portugal constituída por 16 concelhos, subdivididos em numerosas freguesias!

José Saramago publicou um livro com 336 páginas a que pôs o título de Terra do Pecado. É um escritor novo; não sei se na idade, posto que não o conheço pessoalmente, mas na literatura, visto estar informado de que é estes o seu primeiro romance. Como estreante promete. É uma verdadeira revelação. Mas deve deixar de se preocupar com pequenos nadas …Até pouco menos de um terço do livro, o autor espraia-se na narração muito pormenorizadamente do cenário aonde faz decorrer a acção do romance; e na apresentação das personagens que pretende mover ali.

José Saramago, no entanto, demonstra um espírito observador como psicólogo e como fisiologista. (…)

No geral, não desgostei do livro. O tema ainda que assaz carregado, não está mal conduzido. O final tem uma certa originalidade. Lisboa, IV/1950

Ze di Melo

- Alves Júnior, José Ribeiro, Escritores Algarvios: José Saramago, Comércio de Portimão, Portimão, 14-09-1950, Ano 25, nº 1250, p. 1, col. 3

A.A.B.M.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

OBRIGADO, JOSÉ SARAMAGO!



"Não era hoje um dia de palavras,
Intenções de poemas ou discursos,
Nem qualquer dos caminhos era nosso.
A deffinir-nos bastante um acto só,
E já que nas palavras me não salvo,
Diz tu por mim, silêncio, o que não posso
"

[José Saramago, in Os Poemas Possíveis]

ATÉ SEMPRE, SARAMAGO!

José Saramago (1922-2010) / Cronologia: A vida de José Saramago (EXPRESSO) / Morreu José Saramago: "Desaparece um enorme escritor universal"

J.M.M.

MANIFESTO ANTI-DANTAS, EM LOULÉ



Hoje, pelas 21 horas, vai realizar-se em Loulé, no Convento de Santo António, uma apresentação sobre o Manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros, por Afonso Dias.

Uma das várias actividades que têm vindo a ser desenvolvidas em Loulé no âmbito das Comemorações do Centenário da República.

A acompanhar com todo o interesse.
A.A.B.M.

LEILÃO DE MANUSCRITOS, AUTÓGRAFOS, FOTOGRAFIAS E EFÉMERA


A Livraria Luís Burnay vai levar a efeito no próximo dia 19 de Junho de 2010, no Hotel Roma, em Lisboa, um leilão de manuscritos e fotografias.

O leilão terá lugar na Sala Veneza do Hotel Roma, situado na Rua Infante D. Pedro, nº 6, a partir das 15 horas.

Entre os 320 lotes de documentos que vão a leilão destacam-se por exemplo:

-12 - ANDRADE, Gomes Freire de.- 1 Documento autógrafo (1p.; 17cm.)
Carta de recomendação autógrafa do notável marechal de campo, para o Alferes d’Avila “… Je cértifie que Monsieur d’Avilla sous Lieutenant au ci devant cinquiéme Reg.nt d’Inf.e de la Légion portugaise a toujours eu une conduite irréprochable, et qu’il a été proposé par sonColonel pour être emmené au grade de Lieutenant. Grenoble le 28 de Juillet 1811. Le Lieutenant Général Commandant la Légion portugaise – Gomes Freyre.”
Assinado e datado de Grenoble 28 de Julho 1811. O notável militar que viria a ser supliciado em São Julião da Barra seis anos depois, era nesta época comandante dos três batalhões da “Legião portuguesa” e dirigia-se para a Alemanha e Polónia ao serviço de Napoleão que o nomeou governador de Danzigue. Conserva o lacre.

- 15 - ARNOSO, Conde de.- 1 Carta autógrafa (4p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro a pedir colaboração artística:”…O Alfredo Guimarães e eu, em nome d’uma comissão de que fazemos parte e que promove uma recita de homenagem á Actriz Virgínia fomos há pouco a sua casa para lhe pedir para o Raphael se encarregar de desenhar o programa d’essa festa.” Explica depois o projecto da festa em si e reforça o pedido:”… Delegado pela comissão para lhe fazer tamanho pedido gustosamente nos encarregamos d’elle certos que V. admirador também da Virginia mtº folgará em lhe prestar também a homenagem do seu grande talento.”
Assinada e datada de 7 de Junho 1902. Em papel timbrado do “Turf Club” de Lisboa. Juntamos uma carta também dirigida a Bordalo e assinada por Fernando Reis que dá conta que o programa da homenagem teve que ser organizado á ultima da hora porque faltou muita da colaboração prometida.

- 17 - AZEVEDO, Guilherme de.- 1 Carta autógrafa (3p.; 18cm.)
Carta de Paris dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro, ainda antes da colaboração que Azevedo haveria de dar ao António Maria e provavelmente a propósito de uma caricatura sua que Bordalo havia publicado no Album das Glórias. Começa por dizer :” Depois de o reprehender devidamente pela sua traição cumpre-me agradecer a sua obra. Voçê fazer de mim uma celebridade da nossa Terra, reprezenta um excesso, caricaturar-me é para mim uma gloria. A caricatura, se bem que eu não me conheça em efígie sufficientemente, por nunca me ter dado attenção, parece-me admirável, a cor é um pouco de …. [ ? ] de condemnado, mas o lithographo la teria as suas razões. Em todo o cazo dois bons apertos de mãos, um pela obra do seu lápis, outro pelas boas palavras de Ramalho.[Ramalho Ortigão]” continuando a elogiar o Album das Glorias
,” Escuzo de lhe repetir que não só esta obra como todos os typos do Album das Glorias, são admirados pelas pessoas a quem os mostro. Voçê começa a ter um circulo de popularidade no bairro latino.[ em Paris] O ultimo numero do Antonio Maria é um primor.” faz ainda alguma ironia politica com a qualidade artística e humorística das caricaturas: “Quanto lhe deu o Conselheiro Arrobas por você o ter immortalizado vestido de moço de forcado ? Ainda que o próprio Conselheiro se vendesse a peso no Alentejo não seria capaz de pagar dignamente aquelle primoroso typo!” A carta continua com uma interessante descrição de Paris na altura, onde nevava e fazia uma temperatura de 10 ou 12 graus abaixo de 0 que Azevedo confessava” Ser um pouco insuportável”. Termina com a descrição de um costume académico no “Cartier Latin” que o surpreendeu:”Hontem quando vinha para caza […… ] encontrei dois estudantes
de medecina meus conhecidos [… … …], que me convidaram para ir ceiar com elles […
….] Entrámos n’uma Tartine conhecida[… …] Os rapazes compraram varias coisas: uma ceia [… …] Mas á sahida vejo um junto do trottoir a cavar na neve: aproximámo-nos: e nisto surge de dentro do montículo de gelo uma grande lagosta, que tinha arvorada no lombo uma bandeira de papel com este dístico- 10 francos. Enquanto uns compravam os outros roubavam este crustáceo. É o costume aqui no bairro. Quando um grupo entra assim n’uma loja vae sempre um encarregado de roubar uma peça importante.”.
Assinada e datada de Paris, 20 de Janeiro.

- 28 - BELDEMÓNIO (Eduardo de Barros Lôbo).- 1 Carta autógrafa (1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro.Na sua tão característica caligrafia quase microscópica Beldemónio “denuncia” : ” … e o facto suggere-me a idéa de lhe denunciar que não recebi convite para a segunda exposição de faianças. Denunciar, aqui, significa apenas isto: - o meu convencimento final de que o meu caro Bordallo ignorou essa exclusão do meu pobre nome da lista dos convidados – Não posso afinal acreditar que o seu espírito pudesse ser influenciado por um ressentimento qualquer em tal cazo; tanto mais que seria absurdo tal ressentimento. É possível é mesmo certo, que tem havido incompatibilidades críticas entre nós; não houve, porém, incompatibilidades artísticas, e muito menos incompatibilidades pessoaes. Dado o meu
alto conceito da sua individualidade como artista e como homem, aquella exclusão magooume,a principio, porque a principio a julguei um acto da sua vontade. [… .. …] Hoje que vejo de outra forma a exclusão digo-lha, - para que a saiba.”
Assinada e datada de Lisboa 12 de Julho 1886. Pequeno restauro na dobra.

- 41 - BRUNO, José Pereira de Sampaio.- 1 Carta autógrafa (1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Raphael Bordalo Pinheiro pedindo um favor: “… Deve seguir para ahi a Companhia do Theatro do Principe Real d’esta Cidade, que ahi vai dar uma série de recitas no Colyseu. Recommendo á sua benevolência esses artistas, entre os quaes conto alguns amigos.[….] Sei bem que não tenho títulos para lhe solicitar favores mas a gentileza da sua amizade incita-me a esta audácia.”
Assinada e datada do Porto, 19 de Março de 1890.

- 42 - CAMACHO, Brito.- 1 Carta autógrafa (1p.; 22cm.)
Carta dirigida seguramente ao Dr. Manuel de Sousa Pinto: “..Esqueci-me de lhe dizer [… … ] que o Forjaz [ Albino Forjaz Sampaio ?] tem no pelouro da critica litteraria a mesma posse plena e domínio absoluto que o Dr. tem no pelouro do Theatro. Há tempos elle pediu-me para fazer uma chronica sobre coisas theatraes, e eu disse-lhe que se entendesse com o Dr. Comprehende que, depois d’isto, o Forjaz tinha razão para se melindrar se lhe invadissem o campo, sem elle ser ouvido previamente. Assim, pois, o Dr. se entenderá com elle sobre o caso, ficando eu bem com os dois.”
Assinada. Em papel timbrado do Jornal A Lucta. Com furos de arquivador na margem superior.

- 49 - CARLOS I, Dom ( Rei de Portugal ).- 1 Carta autógrafa (2p.; 20cm.)
Carta dirigida ao Dr. José Vicente Barbosa du Bocage, então Ministro dos Negócios Estrangeiros após a famosa Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891 no Porto : “…. Peço-lhe que encarregue o Casal de agradecer muito calorosamente à Rainha o seu amabilíssimo interesse. Escrevi a J. Chrysóstomo, e A. Candido, ainda agora dizendo lhes que a minha opinião era que os do Porto ( paisanos ) deveriam ser julgados pelos tribunais militares. Contudo se a opinião do Conselho de Ministros não for essa sujeitar me hei com a melhor boa vontade.”
Assinada. Em papel timbrado do Paço de Belem – Lisboa.

[Conjunto interessante de 8 cartas de D. Carlos, abordadando questões que vão desde o período ao Ultimato até ao 31 de Janeiro de 1891, sobre os contactos estabelecidos nesse contexto.]

- 61 - CASTELO BRANCO, Camilo.- 1 Carta autógrafa (2p.; 21cm.)
Carta dirigida a Adelino das Neves e Mello a propósito da célebre “ Questão da Sebenta” : “… Muito obrigado pelas informaçoens contradictorias com as que o Dr. Callisto havia dado no Porto: que não recebêra a minha carta. Eu achava mais bonito que elle affoitamente asserverasse e confirmasse os insultos. Eu podia molesta-lo mais do que fiz nas mansas considerações á sebenta , se publicasse a parte da carta inclusa com a authorisação do Victorino da Motta; porém, quando esta carta me veio á mão, já o folheto corria os seus fados. Como quer que seja, desejo que V. Exª aquilate o carácter desse cathedratico dando-lhe conhecimento da carta que o define. É para deplorar que do seio da universidade, onde se presume florescerem ainda
respeitáveis professores, transpirem baixos ódios em baixas palavras, mais proprias das desbragadas piadas dos noticiaristas da imprensa diária. Nunca imaginei que teria de repellir affrontas de tal procedência.”
Assinada e datada de 12 Abril 1883. Juntamos o respectivo envelope.

- 73 - CASTRO, Ferreira de.- 1 Carta autógrafa (4p.;21cm)
Carta dirigida a Reinaldo dos Santos, escrita do Funchal onde o escritor se refugiou por motivos de saúde do Inverno continental. “Cá estou nesta Madeira maravilhosa, cujo Inverno é, na realidade, uma deslumbrante primavera. E não é sequer necessário sair do hotel para me extasiar perante as graças da natureza, cuja prodigialidade me surpreende [… …] vou, por isso, dentro de alguns dias, para o interior da Ilha.”.
Assinada e datada Janº 17 Funchal. Juntamos o respectivo envelope.

- 75 - CASTRO, José Luciano de.- 1 Carta autógrafa (2p.; 18cm.) + 1 Documento
Carta dirigida seguramente ao General Carlos Roma du Bocage : “….Por incommodo de saúde não pude ir hontem á noute assistir á sessão solemne da Sociedade de Geographia em que se rendeu a devida homenagem aos relevantes serviços e eminentes qualidades de seu Pae, e meu respeitável amigo. Venho pedir-lhe a elle , e a V. Exª desculpa da minha falta e associar-me por este modo ás justíssimas demonstrações de affectuosa admiração, e sincero reconhecimento prestadas pela actual geração a quem tão bem tem servido o seu pai.”
Juntamos um ofício do Ministério do Reino a convocar o Dr. José Vicente Barbosa du Bocage para uma reunião do Conselho d’Estado com a assinatura autógrafa de José Luciano de Castro.

- 81 - CHAGAS, João.- 1 Carta autógrafa (3p.; 18cm.)
Carta dirigida ao editor portuense Henrique Guedes de Oliveira. Chagas em Lisboa acaba de fundar “ A Marselhesa”, famoso periódico de cariz republicano e diz ao seu amigo, de quem esperava ilustrações e noticias para o seu jornal : “. .Compreendi e acceitei as explicações. O que não comprehendí e acceitei foi a falta dos prometidos retratos, por que espero e esperarei! Sobretudo aquella celebre cabeça de creança do que em vidas foi João Chagas, o predestinado, bem como aquelle presidiário [… …] Emfim!. Insisto junto de ti por que me descubras um homem para a famosa tirinha de papel com notícias inéditas, contanto que sejam apenas noticias, factos. Espero que em caso de necessidade, me envies quantos telegrammas sejam precisos. Que sejas finalmente no Porto a boa musa da Marselhesa. Esta vae bem – muito obrigado,como tu dizes. Mas precizo trabalhar e teimar muito para vencer todas as difficuldades que
me cercam aqui.”
Assinada e datada de Lisboa 10 de Outubro 1896. Juntamos o respectivo envelope.
[Conjunto de 4 cartas de João Chagas sobre variadas questões.]

- 85 - COELHO, J. F. Trindade.- 1 Carta autógrafa ( 4p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro, para o lembrar de fazer uma faixa artística para adornar um livro que ia editar:” Não me chame massador! Para quem não pensa n’outra coisa de dia e de noite – e até a dormir!- duas cartas não é nada. É que eu sei como é a physiologia doartista, que não gosta que o massem, - porque só espontaneamente trabalha e faz coisas lindas [… …] O livrinho está sahindo uma belleza, um encanto da typographia ! É uma perfeita novidade, e é um encanto ! Mas só o Bordallo lhe pode dar graça! A graça, que é o supremo encanto das coisas e …das mulheres, só o Bordallo lh’a pode dar… venha de lá essa faixa, meu grande Raphael! E olhe que pode acreditar que me tem sempre de joelhos deante de si, mesmo que não me veja… Ando sempre detraz de si, de joelhos e mãos postas, n’uma lamuria pegada:
- “ O’ Bordallo! O’ Bordallo da minha alma! O’ Grande Raphael” “
Assinada e datada de 11 Abril 1901. Em papel timbrado do 2º Districto Criminal.

-86 - COELHO, J.F. Trindade.- 1 Carta autógrafa ( 2p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro: “… Queria receber da sua mão os desenhos! Mas receio não o encontrar. Diga-me pelo portador quando, a que horas o encontro em casa. Eu sigo hoje á noite p. Paris e de lá lhe escreverei… Desejo levar eu próprio os desenhos, -- e pena é que não possa ir debaixo do palio dos Jeronymos!.”
Assinada e datada de 25 de Maio 1901. Em papel timbrado do Gabinete do Delegado do 2º
Distrito Criminal.

- 91 - CONTEMPORÂNEA Nº 14 .- 18 Documentos manuscritos e impressos
Trata-se do conjunto de originais e provas tipográficas destinadas ao 14º numero da Revista CONTEMPORÂNEA ainda reunidos por José Pacheco. É constituído por:
( 1f.).-Prova tipográfica da poesia CANÇÃO de António Boto , com correcções e acrescentos e uma nota marginal tudo autógrafo.
(7f.).-Original autógrafo da poesia SATURNO, com correcções.
(2f.).- Original autógrafo da poesia ENCONTRADO PERDIDO, com correcções.
(4f.).- Original dactilografado da poesia CORPO VISIVEL,de Cesariny de Vasconcelos, com correcções autógrafas.
(1f.).- Original autógrafo ( a lápis) da poesia PARTE D’ALMA, de Mário Saa.
(1f.).- Original autógrafo da poesia APÒLOGO DA MADRUGADA, e no verso, o original
também autógrafo da poesia MANIFESTO, ambas de Mário Saa.
(1f.).- Original autógrafo da poesia MARCHA QUÁSI FÚNEBRE, de José Queirós.
(1f.).- Prova tipográfica da poesia VARINA,de António Navarro, com correcções autógrafas.
(4f.).-Caderno já definitivo (3ªs provas ?) das páginas 17 a 24, com a poesia D. Sebastião de Fernando Pessoa, o artigo A Palavra elemento de Beleza de Mário Alves Pereira e o artigo O Pensamento alemão depois da guerra.
( 4f.).- Prova tipográfica da poesia DE LONGE,de Paradela de Oliveira com correcções e acrescentos tudo autógrafo.
(1f.).- Prova tipográfica da poesia QUASI, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) com correcções autógrafas.
(4f.).- Parte do original autógrafo de uma poesia.
(4f.).-Caderno, (2ªs provas ?) com poesia CANÇÃO de Antonio Boto, artigo TOMAZ G.
MASARYK em memória do seu 79º aniversario natalício pelo Dr. Francisco Kaderabek, a
poesia VATICINIO de Judith Teixeira, e o Artigo DEUS OS FEZ- Epilogo do romance de duas almas por Armando Ferreira.
(5f.).- Original autógrafo da poesia O ULTIMO POEMA D’AFRICA de Antonio de Navarro,
com correcções.
(5f.).-Original dactilografado das poesias EXERCICIOS ESPIRITUAIS I e II, de Casais Monteiro, com uma estrofe riscada.
(3f.).- Provas tipográficas do artigo O VIOLINISTA LUIZ BARBOSA de Carlos Parreira.
(6f.).- Provas tipográficas do poema LA VEJEZ DE BRADOMIN do Marquez de Quintanar,
com correcções autógrafas.
Este conjunto do maior significado literário, esteve inédito até 2005 quando dele se fez uma edição destinada a colecionadores com uma tiragem total de apenas 50 exemplares.(34-V)

- 96 - COSTA, Afonso.- 1 Carta autógrafa (2p.; 21cm.)
Carta dirigida a Adriano de Melo: “…. Recebi hoje a carta de seu irmão pedindo-me para avançar aqui uma pequena soma por causa de um Gramophone que lhe saiu em sorte… Encarreguei o Alfonsito de tratar do assunto e cá adeantarei o dinheiro se se tratar de coisa a valer [ …. ….] Como sabe, faz no dia 16 cinco anos que perdi o meu querido filho Fernando. Peço-lhe pois, que nesse dia vá levar algumas flores ao nosso mausoléu, pondo-as também e em especial junto do caixão […. ….] E não deixe de ir apontando todas as despesas que fizer….”
Assinada e datada de Paris 12 Dezembro 1929.
[Conjunto de três cartas de Afonso Costa escritas já no seu exílio em Paris.]

- 100 - COUCEIRO, Henrique de Paiva.- 3 Cartas autógrafas
Cartas dirigidas a um amigo e correlegionário monárquico a pedir ajuda na angariação de fundos para a aquisição de um presente dos monárquicos emigrados na Galiza, para o casamento do Rei D. Manuel com a Princesa Maria Augusta Victoria de Hohenzollern em Sigmaringen em 1913. 1ª carta- 18 Maio : “.. Abro uma subscripção com quota minima de 1 Fr. – entre os emigrados da Galliza, para offerecer a SMRei D. Manuel por occasião do seu casamento, e em nome da Galliza, um exemplar dos Lusíadas, d’edição escolhida, e capa artística fabricada no Leitão de Lisboa. Peço que abra ahi a dita subscripção entre os nossos amigos e companheiros da Galliza, - todos sem distincção nem excepção. – E que ao mesmo tempo lhes recolha as assignaturas n’uma folha de bom papel, sem designação outra senão o nome de cada um. Há urgência.”

2ª carta – 10 de Agosto : “..Venho agradecer os trabalhos a que ahi se entregaram
a respeito da subscripção – Recebi já os 416,66 Fr. E estou esperando as assignaturas. Remetto n’esta data ao nosso qdº amigo C. Martins de Carvalho photographia da capa dos Lusíadas, que espero estejam promptos este mez.” nesta carta refere-se ainda á falta de notícias, tanto mais que “.. o Realista falha aqui enormemente, ou antes só chega por excepção.” e quanto ás actividades de “ conspiração” monárquica diz: “… Tinha mtª vontade de lhe dar “ notícias” mas n’esse género , como em outros, etou seco de todo. Limito-me a ouvir, e como em regra não creio, não transmitto. Enfim tenho razões para dizer que há boas vontades que se affirmam e portanto há bases para manter uma certa temperatura d’esperança.”

- 3ª carta – 11 de Dezembro
: “.. tenho o gosto de poder remetter as 6 inclusas photographias da nossa dadiva. Photographias que são apenas uma pálida imagem do verdadeiro primor artístico do trabalho. Aqui em St. Jean de Luz houve romaria para o examinarem, e o publico não se cançou d’admirar e louvar. Recebi a 2ª remessa (177 fr.) que agradeço muito[… … …] Hei de ir a pouco e pouco remettendo postaes com a reproducção da photographia, com o desejo de que chegue um para cada subscritor.” para o final desabafa, “.. Das nossas cousas [ “conspiração” monárquica ] que hei de eu dizer ? Há esperanças, e há desanimos. Há esforços em sobra também. Que sahirá d’elles ? Não farei juízos, mas continuo até agora a supor que um dia tem que ser.” O presente aqui referido, tratou-se de um exemplar da notável edição dos Lusíadas impressa em Paris pelo Morgado de Mateus, adornada por bonitas gravuras, revestida por uma luxuosa e artística encadernação com as pastas em prata lavrada com embutidos em esmalte fabricada
pela Casa Leitão e Irmão de Lisboa. Este exemplar foi vendido num leilão da Casa Sotheby’s em 1991 para um coleccionador português. Juntamos um bilhete postal com a reprodução da capa do exemplar.

- 141 - HERCULANO, Alexandre.- 1 Documento autógrafo (1p.; 31cm.)
Declaração do insigne escritor a ceder á Livraria Bertrand os direitos de venda dos seus livros publicados até 1859 : “.. Declaro que tendo fechado as minhas contas com a Casa Viuva Bertrand e Filhos no fim de Dezembro de mil oitocentos e cincoenta e nove, ficam sendo próprios da dicta Casa todos os volumes e folhetos por mim publicados á custa da mesma Casa até a mesma data, devendo eu receber [ ?] em prestações mensaes de vinte e cinco mil reis o saldo a meu favor constante dos seus livros commerciais. Declaro mais que a referida Casa fica auctorisada a completar as collecções dos opusculos menores que por intervenção della tenho feito imprimir, de modo que facilite a renda dos exemplares que restam desiguaes em numero, sem que por isso me pertença qualquer quota dessas reimpressões.”
Assinado e datado de Lisboa 2 de Janeiro 1860.

- 147 - JUNQUEIRO, Guerra.- 1 Carta autógrafa ( 1p.; 27cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro desculpando-se pelo longo silêncio, “… Sou o mais desleixado dos amigos. Felizmente você conhece-me e sabe que o meu silencio nunca pode significar ingratidão ou indiferença.” e a confirmar que colaborará numa homenagem á memória de Guilherme [ Guilherme Azevedo ?]. Finaliza com um convite: “… Dia 17 parto para a Fr. [ França ?] tenciono regressar nos meiados de Setembro. Porque não vem você por essa ocasião para um niquito de 3 ou 4 dias através do Minho ? Traga o seu irmão Columbano. Conheço por aqui assumptos magníficos, que estão á espera d’elle.”
Assinada e datada de V. do C. [Viana do Castelo] 10. Dobras c/pequenos restauros.

- 151 - LIMA, Sebastião de Magalhães.- 1 Carta autógrafa ( 1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro:” O meu pedido referia-se ao mesmo obsequio, que de ti sollicitou hoje o Sr. Julio Pereira da Silva, com um bilhete do João de Deus. Roga-se á tua bondade um desenho, como vae indicado no papel incluso, para o frontespício de um nº único, que vae ser vendido pelo Gymnasio Club no bazar do Hyppodromo de Belém a favor da Associação de Escolas Navais. Poderias também nos nos Pontos nos ii fazer qualquer referencia ao caso. Olha que é um grande serviço prestado aos amigos e á causa da instrucção.”
Assinada. Em papel timbrado do Jornal “ O Século”.

- 225 - PACHECO, Luís.- 1 Documento
Provas tipográficas de uma folha volante da CONTRAPONTO para anunciar a publicação de um LIVRO / ENVELOPE de desenhos e textos de João Fernandes e Luis Pacheco.
Apresenta o texto seguinte:
João Rodrigues. 30 anos de idade. Frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa. Nunca
expôs. Nunca publicou. Nunca quis. Ilustrou as 40 Noites de Insónia de António José
Forte e está representado em diversos livros e publicações surrealistas. Trabalhava pouco como desenhador. Ilustrou a edição portuguesa da Filosofia no Boudoir de Marquês de Sade e estava á espera de julgamento. Agora o julgamento fica á espera dele. Tem correcções autógrafas de Luis Pacheco c/indicações de titulo e tiragem. Na margem também autógrafo de Pacheco: “ proposta de Luiz Pacheco : eliminar.”
Pensamos que nunca foi impresso.

- 271 - RELVAS, José.- 1 Carta autógrafa ( 3p.; 18cm.)
Carta a um amigo e correlegionário político provavelmente injustiçado pela imprensa ou opinião pública: “.. Como hei-de agradecer-lhe o interesse tão grande dispensado ao meu pedido, que logo depois de receber a minha carta, tractou d’esse assumpto com o Luiz de Magalhães ? …. …. Eu ainda espero que venha uma situação, que é justamente a dedicação pessoal e a lealdade partidária que pediam áquelle homem. Porque creio que é honesto e justo. Aqui nos Patudos, devendo escolher a segunda quinzena de Setembro, por causa do clima, que então se modifica muito favoravelmente. Escusado era dizer-lhe com que prazer o veremos ali.”
Assinada e datada de 24de Agosto 1906.

-281 - SÁ-CARNEIRO, Mário de.- 1 Documento autógrafo
Original autógrafo do soneto “ El-Rei” datado de Paris 30 de Janeiro de 1916.
“Quando chego – o piano estala agoiro,
E medem-se os convivas logo inquietos…
Recuam as paredes, sobem tectos –
Paira um luxo de Adaga em mão de Moiro
…-Quem me convida mesmo não faz bem:
Intruso ainda – quando, á viva força,
A sua casa me levasse alguém…”
Assinado e datado de Paris 30 de Janeiro 1916. Em papel quadriculado.Este autógrafo é de particular interesse pois trata-se de uma das ultimas poesias do grande poeta, enviado pouco antes da sua prematura morte a Fernando Pessoa, que o publicou na revista “ Athena”. Posteriormente viria a ser incluído no volume póstumo “ Índícios de Oiro” , nos “ últimos poemas” de Sá-Carneiro.


Um conjunto de escolhas que serve para despertar a curiosidade dos nossos ledores e consultarem o catálogo disponível AQUI.

A.A.B.M.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

VIVA A REPÚBLICA! - HÉLDER COSTA



LIVRO: "Viva a República!";
AUTOR: Hélder Costa;
EDITORA: ISPA (2010).

No dia 16 de Junho passado saiu, integrado nas Comemorações dos 100 Anos da República, o livro "VIVA A REPÚBLICA!" (ed. ISPA), com assinatura de Hélder Costa.

"Profusamente ilustrado, consiste na publicação de duas peças:

-"Viva a República!" , espectáculo que teve uma única representação na Sala do Senado do Palácio de S. Bento para assinalar os 75 anos da Constituição Republica na 1911;

- "Abril em Portugal", estreou em Grândola no dia 25 de Abril de 1999, integrado nas comemorações dos 25 anos da Revolução de Abril de 1974.

E refere ainda outros espectáculos da BARRACA que abordaram a República e a Ditadura Salazarista:

"O mistério da camioneta fantasma" sobre os crimes de 19 de Outubro de 1921, conhecidos pela "Noite Sangrenta"; "Obviamente demito-o!" sobre o assassinato do general Humberto Delgado, a mando do ditador Salazar, espectáculo integrado nas Comemorações dos 50 anos da campanha eleitoral para a Presidência da República em 1958.

E ainda se assinalam outras peças criadas no exílio em Paris, pelo Teatro Operário: "18 de Janeiro de 1934" sobre a revolta da Marinha Grande contra a Constituição fascista de 1933 e "O Soldado" contra a Guerra Colonial.
" [via Olhares do Litoral - sublinhados, nossos]

J.M.M.

ANTÓNIO AUGUSTO FRANCO – NOTA BREVE


António Augusto Franco nasceu em Figueira do Castelo Rodrigo a 16 de Junho de 1875. Era filho de Francisco Franco Veloso e de Mariana Vitória, trabalhadores [cf. "Um herói desconhecido: o capitão António Augusto Franco", por (n.s.) Emílio Costa da Loja Bomtempo, in revista Grémio Lusitano, nº15, 1º semestre de 2010, p.94]. Foi empregado do comércio, fundou uma "escola particular na freguesia de Marialva" (Meda).

Aos 19 anos (12 de Outubro de 1894, cf. ibidem) integra, como voluntário, o Regimento de Infantaria nº24 e faz o Curso da Escola Central de Sargentos. Segue para Angola, onde está de Agosto de 1898 a Setembro de 1902 [ibidem]. Em 1907 é promovido a alferes, participando na "coluna de operações dos Dembos", onde é ferido. Permanece em Angola até 1920, colaborando com Norton de Matos, sendo "responsável pelos serviços de contra-espionagem". É promovido a tenente (24 de Agosto de 1912) e a capitão a 10 de Fevereiro de 1917.

É iniciado [21 de Abril de 1913 – cf. ibidem] na maçonaria, ainda em Angola, na Loja Pátria Integral, nº363, de Luanda [loja do REAA fundada em 1912 em Luanda, capitular em 1915, areopagita em 1921. Abateu colunas durante a clandestinidade – cf. Dicionário da Maçonaria, de A. H. de Oliveira Marques, vol II, Delta, 1980], com o n.s. de "Pedro Nunes". Em 1917 [10 de Junho de 1917 – id. ibid.] está filiado na Loja Lusíadas nº388, de Lubango [loja do REAA, instalada no Lubango (Huíla) em 1916], tendo atingido em 22 de Junho de 1919 o grau 33º do REAA. Foi Venerável honorário das Lojas Lusíadas (Lubango) e Pátria Livre, de Moçâmedes [nº389, loja do REAA fundada em 1916].

Regressando ao Continente, torna-se comandante da Guarda-Fiscal (em Chaves), lugar que ocupava quando participa na revolta de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura. Preso [13 de Agosto de 1927 – cf. "Um herói desconhecido..."], acusado de ser o "elemento de ligação entre o comité revolucionário de Chaves e os ferroviários do Côa", é detido na Penitenciária de Lisboa. Mesmo aí, mantêm os seus contactos maçónicos, sendo regularizado [20 de Outubro de 1927 – ibid.] na Loja Cândido dos Reis (Lisboa) e é nomeado [pelo Decreto nº21, de 31 de Dezembro de 1927, in Boletim do GOLU, de Dezembro de 1927 – aliás in "Um herói desconhecido..., p. 94] Inspector Maçónico da Província de Trás-os-Montes e, após a sua libertação, integra a Comissão de Estudos Coloniais do GOLU. Pela participação na revolta de Fevereiro de 1927, é condenado, por sentença do Tribunal Militar Especial do Porto (23 de Março de 1928) a 20 dias de prisão disciplinar agravada, "depois de ter sofrido 223 dias de prisão preventiva, os quais foram cumpridos no Forte de São Julião da Barra" [ibidem]. É libertado a 17 de Abril de 1928.

Separado, então, do exército, participa no movimento revolucionário "Revolta do Castelo”" e, de novo, é preso [1 de Maio de 1928 – ibidem] quando se encontrava com "elementos do Comité Revolucionário de Lisboa". É deportado para São Tomé (4 de Maio), saindo depois com destino a Angola, chegando a 20 de Julho a Moçâmedes e a 24 de Julho a Sá da Bandeira. Restabelece os seus contactos maçónicos, tendo elaborado relatórios sobre as Lojas que "tão bem conhecia".

Regressa (22 de Dezembro de 1929) a Lisboa, via navio Pedro Gomes, apresentando-se no Ministério das Colónias, que lhe fixa residência em Coimbra. E de novo, "assumindo as tarefas de inspector Maçónico das Beiras", é preso em Coimbra a 11 de Junho de 1930 [na rua das Covas, nº15 – ibidem], juntamente com outros 17 maçons, "durante uma sessão da Loja Portugal” [nº 215, loja do RF, fundada em 1901] que foi invadida pela polícia. Na sua condição de militar é libertado, apresentando-se no Quartel-General que lhe fixa residência em Manteigas. Durante o governo de Vicente de Freitas é reintegrado no exército (nos termos do decreto nº18252, de 26 de Abril de 1930).

Em 1931 (13 de Fevereiro) fixa-se em Miranda do Corvo, onde se dedica "a tempo inteiro às tarefas inerentes à sua condição de membro do Supremo Conselho do 33.º Grau do REAA, de Inspector Maçónico das Beiras, confirmado pelo decreto nº29 de 20 de Junho de 1931, e também de Inspector Maçónico da Província de Trás-os-Montes, nomeado pelo decreto de 16 de Março de 1935 [ibidem]. Do seu trabalho "incansável", além de relatórios sobre as diferentes lojas, refira-se a instalação de inúmeros Triângulos e Lojas, caso de "Góis, Manteigas, Covilhã, Sabugal, Lousã, Vila Nova de Poiares, Coimbra, Pampilhosa da Serra, Trancoso, Idanha-a-Nova, Viseu, Batalha, Meda, Anadia, Penedono, Tábua, Cedovim, e mesmo no Alentejo, em Avis, Fronteira e Ponte de Sor" [cf. ibidem. Ver, ainda, "A Maçonaria no Distrito de Portalegre", 2007, de António Ventura].

A 24 de Maio de 1936 foi "preso na mata do Buçaco, juntamente com uma dezena de outros maçons, quando preparavam uma reunião clandestina com responsáveis de Triângulos de Vila Nova de Poiares, Lousã, Vagos, Mortágua, Sangalhos e Pampilhosa da Serra". Foi acusado, pela polícia, de "tentar organizar a Frente Popular das Beiras, sob instruções do Grande Oriente Lusitano Unido" [ibidem]. Libertado provisoriamente a 7 de Julho de 1936, é de novo detido pela PVDE, a 12 de Julho desse ano, "recolhendo à cadeia do Aljube a 14 de Julho de 1937". Refira-se que o então administrador do concelho de Miranda do Corvo "propunha o seu afastamento da localidade", dado a sua "periculosidade" contra a "situação".

Morre em Coimbra, no Hospital Militar Regional, a 5 de Março de 1941.

J.M.M.

terça-feira, 15 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (PARTE III)



Dizia ainda Rocha Martins sobre Luz de Almeida, assinalando a sua morte em 1939 [“Morte de um Personagem Histórico”, Arquivo Nacional, Lisboa, 15-03-1939, ano VIII, nº 375, p. 166-167]:

Aquele homem, sempre vestido de negro [...] lia Paul Féval, muito compenetrado dos misteriosos agrupamentos que transmudam a história das nações. Aquilo nele era uma tendência romântica, e no próprio traje, no negro que jamais largava, havia como o desejo fixo de se meter na sombra, da qual operaria, dirigindo as massas. Ninguém o via nas pândegas, que os homens vulgares mais ou menos amam, de longe em longe: nem hortas, nem tipóias, bordéis ou tavolagens. Frequentava os cafés, de preferência o Gelo, e, no canto preferido, aquele onde o Buíça e o Costa se juntariam, mais tarde, ele, pensativo diante da chávena, quebrando a cinza do cigarro no pires, lobrigava os que iam entrando e arraialavam, a mocidade inquieta das escolas, sobretudo os alunos militares, que eram precisos para a sua organização. Aliciava sempre; falava-se de literatura, caía no Paul Féval e na História das Sociedades Secretas, e, com ideia fixa, sem revelar coisa alguma, analisava o documento humano, e, depois da sondagem, abandonava-o ou adquiria-o.

Há quem faça colecção de selos, de caixas, de jornais velhos; há bibliófilos maníacos desconfiados de que todos lhes disputam os livros e lhes querem mal; ele coleccionava rebeldias.

Entretinha-os, porem, de forma que não o inventariavam a ele; cobria-se com altos personagens, longe da sua agremiação, mas que podiam pertencer-lhe, e assim ia conduzindo os prosélitos, sempre sombrio, grave, tristonho, como quem não veria maneira de coleccionar todos os revolucionários que podiam existir mas que desconhecia.

A Carbonária Portuguesa, da qual foi grão-mestre, não nasceu espontaneamente para o ataque à ditadura de João Franco; foi o fruto de muitos ensaios de Luz de Almeida que jamais desanimava. Mesmo quando existia a paz podre e toda a gente se divertia, ele aliciava. Comprazia-se no trabalho secreto e fugia, naturalmente, de exibicionistas.
[…]
Concluíra o Curso Superior de Letras, conhecia muitos estudantes, mas a sua leitura era a História da Carbonária Italiana. Conhecia de cor não só a organização, mas os nomes dos membros da Carbonária romântica portuguesa, Oliveira Marreca, José Estêvão e Rodrigues Sampaio. Queria continuá-la, e o seu lugar-tenente foi um antigo condiscípulo, Ferreira Manso, que morreu louco pela miséria.

Criaram lojas particulares, a Futuro, a Justiça, a Independência, a Pátria, na qual arregimentavam académicos, que, no fim de certo tempo, as abandonavam sorridentes.

Numa casa na Rua de Santo António da Glória reuniam, sob o aspecto clubesco, alguns estudantes; lá dentro faziam-se iniciações. Era em 1894. […]

Fundara a Alta Venda, cópia, a papel químico, da Carbonária Italiana, não mudando sequer os nomes dos grupos e das categorias. Agora é que ele vivia em pleno Paul Féval. Eram os pensamentos formais, as máscaras, os balandraus, as ruas cavernosas, as reuniões junto dos cemitérios e em alfurjas, outras vezes em quartos e casas particulares, em grande recato.


Um interessante artigo sobre uma personalidade fundamental na História da Implantação da República que recomendamos uma leitura na íntegra.

[Luz de Almeida acompanhando os combates provocados pelas invasões monárquicas de Paiva Couceiro em 1911, na região de Trás-os-Montes, próximo de Vinhais. A imagem foi retirada da revista Ilustração Portuguesa, conforme se pode ver na legenda da própria fotografia.
Clique para aumentar.]

A.A.B.M.

EXPOSIÇÃO - VIVA A REPÚBLICA 1910 - 2010



EXPOSIÇÃO: "Viva a República 1910-2010":
LOCAL: Cordoaria Nacional (Rua da Junqueira, Lisboa);
DATA: Maio a Outubro de 2010;
HORÁRIO: das 10h00 às 18h00.

consultar toda a informação AQUI.

J.M.M.

A PERSPECTIVA FILOSÓFICO-POLÍTICA DO REPUBLICANISMO DO PORTO À LUZ DE SAMPAIO (BRUNO)



CONFERÊNCIA: "A perspectiva filosófico-política do republicanismo do Porto à luz de Sampaio (Bruno)";
ORADOR: Prof. Doutor Afonso Rocha;
LOCAL: Palacete dos Viscondes de Balsemão (à Praça Carlos Alberto);
DATA: 17 de Junho (21,30 h)
ORGANIZAÇÃO: CNC (Porto), em colaboração com o CEPP da Univ. Católica do Porto [incluído no Ciclo de Conferências: "Figuras da Cultura do Porto nas Comemorações da República"]

J.M.M.

ÉPOCA ÁUREA DA TIPOGRAFIA - EXPOSIÇÃO



EXPOSIÇÃO: "Época Áurea da Tipografia"
LOCAL: Espaço das Prisões Académicas da Universidade de Coimbra (Coimbra)
DATA: 2 a 30 de Junho 2010 (9,30h - 20,00h)

"Passados 555 anos do primeiro livro impresso por Gutenberg, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra expõe um pequeno núcleo de obras impressas nas oficinas dos mais importantes tipógrafos do séc. XVI.

O conjunto composto de obras de tipografia italiana, francesa, portuguesa e dos Países Baixos está representado por edições dos mais notáveis impressores, destacando-se as famosas edições Aldinas, as dos Giunta, as da família Estienne e as Plantinianas, Craesbeeckianas e Elzevirianas.

Estas publicações estão inseridas no movimento cultural e humanístico do Renascimento Europeu caracterizando-se por uma simplicidade, sobriedade clássica e estilo marcadamente renascentista
" [ler AQUI]

J.M.M.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (Parte II)



Segundo Rocha Martins [D. Manuel II, vol. I, p. 95-97], que nos deixou uma descrição física de Luz de Almeida, referia-se a ele nos seguintes termos:

O ajudante [de Feio Terenas na Biblioteca Municipal da Rua do Saco], era um rapaz magro, baixo, pálido, de poucas falas, sem gestos, sem vivacidade, sempre vestido de negro e com uma grande gravata Lavalliére pendente sobre o colete. A casa era um rectângulo vasto de prateleiras enfileiradas, atulhadas de grandes livros que se iam buscar para os domicílios; ao lado ficava a sala de leitura e, no canto da janela que deitava para o largo, tristonho, por detrás dum store corrido, o ajudante passava os dias lendo, muito compenetrado, com o seu ar sereno, os olhos tão negros como o fato ao erguerem-se, com um ar resignado, quando o vinham interromper. Chamava-se Luz de Almeida. Ao lado havia uma escola e, de quando em quando, ouvia-se a gralhada do rapazito no grande pátio vizinho, perturbando o silencia grave da biblioteca. Todas as manhãs o homem chegava no seu passo moderado e lento, sentava-se na carteira, começava o seu serviço e depois mergulhava na leitura; às quatro da tarde saía para voltar à noite e de novo, à luz do gás sibilante, continuava a sua tarefa […]. Nós não podíamos imaginar que em plena Lisboa, ali, no fundo daquela biblioteca, na pessoa tristonha daquele rapaz melancólico, estava um organizador como o activo Basard das casas de Belford e da Rochela.

Sobre Luz de Almeida afirma ainda António Maria da Silva [O Meu Depoimento, vol. I, República, Lisboa, 1974, p. 123]:

[…] as reuniões dos conjurados amiudaram-se, agremiando-se muitos elementos populares, devido à infatigável actividade e rara tenacidade do meu velho amigo e antigo condiscípulo no Liceu de Lisboa, Artur Duarte Luz de Almeida, que aí frequentava os preparatórios para a sua admissão no Curso Superior de Letras.
Luz encarregara-se de estabelecer a ligação dos elementos populares que aliciara com os da força pública, muito especialmente sargentos, cabos e marinheiros.
A proficuidade da sua acção evidenciou-se logo.


[Na foto, a estrela símbolo da Carbonária]
A.A.B.M.

sábado, 12 de junho de 2010

REPÚBLICAS DE COIMBRA - "VIVER ASSIM" (GEFAC)




"VIVER ASSIM" foi uma exposição organizada pelo GEFAC, Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra. Vídeo, fotografia e alguns objectos recriaram as repúblicas de hoje, durante 4 dias, no Museu de Antropologia da Universidade de Coimbra [via YoutTube]

FOTOS: ex-libris da REAL REPÚBLICA PRÁ-KYS-TÃO (Casa da Nau), República fundada a 27 de Janeiro de 1951 e por onde passaram ilustres prás, comensais estimados & de rara rebeldia, bravissimos companheiros de viagem, amigos sinceros e de muita saudade [ver mais AQUI].

J.M.M.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (Parte I)



Nasceu em Alenquer, a 25 de Março de 1867, com o nome de Artur Augusto Duarte Luz de Almeida. Era filho de António Augusto de Almeida, regente escolar.

Casou com Maria Amélia Cardoso de Almeida e residente em São Vicente de Fora na cidade de Lisboa.

Era diplomado pelo Curso Superior de Letras, em Lisboa, com o curso de Bibliotecário e Arquivista. Desempenhou funções de docente em Lisboa, na escola de magistério primário nº 4. Começou como ajudante de conservador da Biblioteca Municipal da Rua do Saco.

Ainda enquanto estudante no Curso Superior de Letras foi um dos subscritores do Manifesto Republicano Académico, publicado em 5 de Março de 1897, juntamente com João Gonçalves, Carlos Amaro, Rodrigo Rodrigues, José Ponte e Sousa, Artur Brou, entre outros [António Ventura, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal. As convergências possíveis (1892-1910), Edições Cosmos, Lisboa, 2000, p. 26].
Colaborou activamente na organização dos batalhões escolares municipais.

Um dos principais organizadores da Carbonária em Portugal. A partir de 1907, com a chegada de João Franco ao poder, foi implicado no movimento de 28 de Janeiro de 1908. Preso, acabou por ser libertado algum tempo depois.
Apesar de algumas divergências de datas quanto à fundação da Carbonária, para alguns autores foi em 1895 (por ex. Borges Grainha), para outros (por ex: António Ventura) terá sido 1896. Esta sociedade, a Maçonaria Académica, como era chamada tinha também o nome profano de Junta Revolucionária Académica, sendo que Luz de Almeida era o chefe ou Grão-Mestre [António Ventura, Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal. As convergências possíveis (1892-1910), p. 34]. Terá sido numa reunião em casa de Adolfo Bordalo, então estudante onde participaram bastantes estudantes das escolas superiores de Lisboa que se instituiu a Maçonaria Académica. Nessa ocasião, esta sociedade secreta estava organizada em quatro lojas, cada uma com o seu venerável eleito, existia ainda um Conselho Director, com um presidente, Luz de Almeida e quatro veneráveis das lojas.

[Em continuação]
A.A.B.M.

terça-feira, 8 de junho de 2010

CONFERÊNCIA: A REPÚBLICA ONTEM E HOJE


Amanhã, 9 de Junho, pelas 18h00, na Livraria Almedina/Estádio, em Coimbra vai realizar-se mais uma conferência do programa que tem vindo a ser desenvolvido pela Livraria Almedina, pelo CEIS 20 e pelas Ideias Concertadas.

Desta vez o conferente será o Professor Doutor Amadeu Carvalho Homem, que apresentará algumas das suas concepções sobre A República Ontem e Hoje, a partir das 18 h.

Uma actividade que nos apela a reflectir sobre o regime que se propunha antes de 1910, o que se conseguiu alcançar, o que não foi possível alterar e o que temos na actualidade.

Um evento que recomendamos vivamente aos nossos ledores, apelando à participação cívica e empenhada de todos.

A.A.B.M.

CONFERÊNCIA: FERNANDO VALE. REPUBLICANO E COMBATENTE


Vai realizar-se também no próximo dia 10 de Junho, pelas 16.30, na Biblioteca Alberto Martins de Carvalho, em Arganil, uma conferência intitulada Fernando Vale. Republicano e Combatente

Este evento, organizado por Câmara Municipal de Arganil, vai homenagear uma das figuras ilustres da terra, através de uma conferência a cargo de Mariana Lagarto Santos, doutoranda em História e colaboradora do CEIS 20.

Uma actividade que recomendamos a todos os nossos ledores.

A.A.B.M.

CONFERÊNCIA: A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA EM BRAGANÇA



Vai realizar-se no próximo dia 10 de Junho, feriado nacional, na cidade de Bragança, uma conferência intitulada A Implantação da República em Bragança

O conferencista será Carlos Prada de Oliveira, que irá tentar mostrar algumas das particularidades e personalidades envolvidas no movimento republicano em Bragança.

Esta conferência vai realizar-se nos Claustros do Centro Cultural de Bragança a partir das 16.30 h.

Uma iniciativa a acompanhar com todo o interesse.

A.A.B.M.

LER HISTÓRIA Nº 58


A revista Ler História acaba de publicar o seu número 58 (Maio de 2010), referente ao primeiro semestre de 2010.

Neste número, publica-se um dossier “Goa 1510-2010”, a propósito da passagem dos 500 anos sobre a conquista de Goa por Afonso de Albuquerque, que convida a repensar alguns dos mitos associados ao Império e ao colonialismo português no Índico.

Organizado por Ângela Barreto Xavier, o dossier inclui estudos de Jason Keith Fernandes, Filipa Vicente, Paulo Varela Gomes, Cristiana Bastos, Pamila Gupta e Nandini Chaturvedula.

Um segundo dossier temático, dedicado a “Portugal e Catalunha na Guerra Peninsular”, numa altura em que se continuam a recordar os 200 anos das Invasões Francesas, inclui artigos de Fernando Dores Costa e Antonio Moliner de Prada.

Na secção de Críticas & Debates, Fernando Ampudia de Haro interpreta o fenómeno social do revisionismo historiográfico em Espanha, relativo à Guerra Civil e à ditadura franquista.

Alguns estudos avulsos e as habituais secções de Recensões e Actualidade Científica completam o número 58.

A Ler História, com publicação ininterrupta desde 1983, é uma revista de História e Ciências Sociais de circulação internacional, com arbitragem científica. É dirigida por Magda Pinheiro.

A Ler História 58 está à venda nas livrarias ou pode ser pedida para ler.historia@iscte.pt. Preço de capa: 13,10 euros.

A.A.B.M.

domingo, 6 de junho de 2010

RITUAL DA CARBONÁRIA PORTUGUESA





RITUAL DA C.P. AUTORIZADO PELA V. JOVEN PROTUGAL Traç. em Jerusalem, no Gr. Firm. Fl. Portugueza, aos 15 de Dezembro de 1910, 11 p.

NOTA: O ritual da C.P., em cima apresentado com a capa e dois curtos (e curiosos) excerptos do opúsculo [via espólio A.A.B.M.] está, de algum modo, aproximado da descrição feita na revista ABC [nº356, de 12 de maio de 1927] e citada abundantemente no livro "A Carbonária em Portugal" [Livros Horizonte, pp. 20-23], de António Ventura.

A Venda "Jovem Portugal" era o Órgão Supremo da Carbonária Portuguesa, a secção mais secreta da Carbonária Portuguesa. Os seus membros [Mestres Sublimes] não se conheciam. O seu Presidente era o Grão-Mestre Sublime, o único que os conhecia e o único que "comunicava" com a "Alta-Venda" [órgão de gestão da C. P. ou seu poder executivo, e seu dinamizador. Era composto pelo Grão-Mestre, eleito na Venda "Jovem Portugal", e mais quatro Bons Primos. Os seus cinco membros mantinham-se secretos, mesmo para a "Jovem Portugal", só o G.M.S. conhecia toda a organização. Alguns dos membros que fizeram parte da "Alta-Venda" ("houve seis Altas Vendas”, cf. Episódios da Minha Vida, de Magalhães Lima, p.280), foram: Luz de Almeida (n.s. La Fayette), António Maria da Silva, Machado Santos, Franklim Lamas (chefe da barraca Revolta), César de Vasconcelos, Henrique Cordeiro, José Maria Cordeiro, António dos Santos Fonseca, J. M. Santos Júnior, Ivo Salgueiro, José Soares, Silva Fernandes, Emílio Costa, Ferreira Manso – cf. ibidem; consultar, ainda, a importante obra de António Ventura, “A Carbonária em Portugal”, Livros Horizonte, 2004, pp.14-15].

A Venda "Jovem Portugal" tinha como competências "velar pela observância do ritual, nomear os Juízes do Tribunal Secreto e constitui-se em Alto Tribunal, quando necessário" [in Episódios da Minha Vida, de Magalhães Lima, p.274], eleger o Grão-Mestre e o Grão-Mestre Adjunto. Isto é a Venda “Jovem Portugal” desempenhava as funções de poder judicial [ver António Maria da Silva, "O Meu Depoimento", I volume, p. 172] e "nomeava e escolhia os membros da “Alta-Venda".

Estiveram à frente da Venda "Jovem Portugal", Luz de Almeida [Grão-Mestre Sublime] e, após a sua fuga de Portugal (22 de Janeiro de 1909, para Paris), ficou (por delegação de Luz de Almeida) a desempenhar as funções de poder judicial e de Gão-Mestre Sublime, António Maria da Silva [A.M.S. foi maçon da Loja Solidariedade (iniciado em 1902, com o n.s. Desmoulins; ascendeu ao grau 33.º do REAA, tendo pertencido ao seu Supremo Conselho desde 1926, e entre 1915-26 foi Gão-Mestre Adjunto do GOLU) e foi iniciado na Carbonária em Julho de 1908, numa fábrica de licores situada na Rua do Bemformoso, pertencente ao "carbonário e montanhês" (maçon da Loja Montanha) Acácio Santos. Na mesma sessão foi iniciado Machado dos Santos - ibidem].

J.M.M.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

EXPOSIÇÃO NA TROFA - A CARBONÁRIA EM PORTUGAL



EXPOSIÇÃO - A Carbonária em Portugal [espólio da Biblioteca-Museu da República e da Resistência (Câmara Municipal de Lisboa)];
LOCAL - Casa da Cultura de Trofa;
DIAS - 4 de Junho a 30 de Junho de 2010;
ORGANIZAÇÃO - Câmara Municipal de Trofa.

J.M.M.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

CONFERÊNCIA EM LOULÉ: ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA E A REPÚBLICA POR LUÍS REIS TORGAL


A Câmara Municipal de Loulé vai levar a efeito no próximo sábado, dia 5 de Junho de 2010, pelas 18 h, no Convento de Santo António, uma conferência sobre António José de Almeida e a República.

O conferencista será o Professor Doutor Luís Reis Torgal, professor universitário aposentado, investigador e recentemente vencedor do Prémio Joaquim de Carvalho da Imprensa da Universidade de Coimbra.

Uma actividade a não perder.

[Clicar na imagem para aumentar.]

A.A.B.M.

ALMANAQUE DA REPUBLICA NA LUSA


Mais uma iniciativa interessante, agora da Agência Lusa, que criou o Almanaque da República.

Neste Almanaque, disponível online, podemos encontrar as Figuras, as Datas, as Instituições, a Sociedade, a Multimédia.

Um curioso e bem ilustrado trabalho, com textos de vários autores como: Miguel Sousa Pinto, Maria de Lurdes Lopes, Gualter Ribeiro, Sandra Moutinho, David Montes, Liliana Leandro, Alexandra Oliveira, entre outros.

Já está disponível a informação para o mês de Junho. Ficamos agora a aguardar com alguma curiosidade os meses que se aproximam.

A.A.B.M.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

EXPOSIÇÃO - OH!... A REPÚBLICA ... UM SÉCULO DE MEMÓRIAS



EXPOSIÇÃO: "Oh! ... A República ... Um Século de Memórias"
LOCAL: Torre do Tombo (Sala de Exposições)
DIAS: 17 de Junho a 31 de Janeiro de 2011
HORÁRIO: Segunda a sexta das 9h30 às 19h30; Sábados das 9h30 às 12h30.

"A Exposição desenvolve-se ao longo de três núcleos:

1 - Um dia, dois fotógrafos: o 5 de Outubro visto por Joshua Benoliel e Aurélio Paz dos Reis.

2 - O impacto da República nos Arquivos: novo enquadramento legal e políticas de descentralização – os novos Arquivos.

3 - Comemorar as comemorações: a celebração das datas simbólicas da República ao longo do século
".

J.M.M.