quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O TELEGRAFO PORTUGUEZ OU GAZETA PARA DEPOIS DO JANTAR


O Telegrafo Portuguez ou Gazeta para depois do Jantar [continuação do Lagarde Portuguez ou Gazeta para depois de Jantar, que termina ao seu nº 8]. Ano I, nº 9 (19 de dezembro de 1808) ao Ano V, em 31 de Dezembro de 1814 [ao nº 24, de 9 de Fevereiro de 1809, muda para Telégrafo Português; depois ao nº 25, de 16 de Fevereiro de 1809, surge com o título de Telegrafo Português ou Gazeta Anti-Franceza; a partir de 1 de Janeiro de 1814 regressa ao título Telégrafo Português, e começa a ser numerado a partir do nº1 seguindo até ao nº 105, de 31 de Dezembro de 1814]; Redactor: Luís de Sequeira Oliva e Sousa Cabral (1778-1815); Colaboração (Editor?): Teodoro José Biancardi; Adm. [em 1814]: Travessa de S. Nicolau, nº 67 (junto ao Pote das Almas), Lisboa; Oficinas da Impressão Régia de Lisboa, Lisboa, 1808-1814.

Lembra-me porém, mudando de tom, converter esta Gazeta n’hum Periodico nacional, em que anime, e esclareça o Patriotismo, refute a politica infernal de Bonaparte, destrua os falsos temores, e patentee as tramas com que os inimigos da Patria pretendem amortecer o nosso valor, e constancia; semelhante papel será muito interessante, e ouso dizello, muito necessario nas actuaes circumstancias …

 [inO Telegrafo Portuguez”, nº24]
Trata-se, como AQUI dissemos, da continuação do periódico satírico Lagarde Portuguez ou Gazeta para depois de jantar que, ao seu número nove, passa a chamar-se O Telegrafo Portuguez ou Gazeta para depois do Jantar. O seu redactor, o espirituoso L.S.O. ou seja Luís de Sequeira Oliva e Sousa Cabral, continua o seu combate no periodismo nacional, de pena e espada, contra os “ímpios” franceses. Não deixa de ser curioso referir que Luís Sequeira Oliva, logo no primeiro número do Telegrafo, diz que mudou o nome ao periódico, não só porque o nome Lagarde era detestado, mas porque as “nossas noticias nos são transmitidas quase que com a mesmo velocidade da luz”. Recruta L. S. O. um colaborador, Teodoro José Biancardi (ver verbete em post seguinte), que, apesar da sua enorme combatividade, pouco ou nada escreveu neste periódico, vindo a fundar o Semanário Lusitano (1809-1812), mais tarde substituído pelo título de Mercúrio Lusitano).
 
Luís Sequeira Oliva muda, de novo, o título do jornal para Telegrafo Português ou Gazeta Anti-Franceza ao seu nº 25 (16 de Fevereiro de 1809), conservando-o até ao nº 48 (15 Junho 1809), em que suspende a sua publicação. Reaparece no dia 4 de Janeiro de 1812, mudando de novo o título da gazeta, a partir de Janeiro de 1814, para Telégrafo Português, terminando a sua publicação a 31 de Dezembro desse ano [ler, com muito proveito, o trabalho, por nós já referido, de Carla da Costa Vieira, Animar a Pátria, refutar Napoleão …”].

Não deixa de ser interessante ter aparecido, a 3 de Julho de 1809, um periódico de cunho marcadamente liberal (talvez o 1º periódico liberal em Portugal – cf. Georges Boisvert), O Correio da Peninsula ou Novo Telegrafo, que se “reclamava” da sua continuidade e que era redigido por João Bernardo da Rocha Loureiro (que lançará em Londres, em 1814, um dos mais importante jornais da emigração, O Portuguez) e de Nuno Álvares Pereira Pato Moniz (o inimigo figadal do padre José Agostinho de Macedo). Porém esta presuntiva reclamação da herança do antigo Telegrafo Portuguez mereceu uma Carta do Author do Verdadeiro Telegrafo a hum seu Amigo de Lisboa, isto é, vindo da parte de Luís Sequeira Oliva, que acusava o novo jornal de plágio. A resposta de Rocha Loureiro ao “Explorador do Salitre” ou “Barbadinho de Moira” (i.é. Sequeira Oliva) é muito sarcástica (ver Carla da Costa Vieira, p. 18). Este Novo Telegrafo, pelas suas manifestações liberais e pela polémica que manteve com o padre Agostinho de Macedo em torno da questão denominada Sebastianistas, não teve autorização para prosseguir pelas autoridades, que não lhe renovaram a competente licença.
O Telegrafo Português, ao longo das suas edições dá conta dos avanços e recuos dos franceses, sob comando de Soult, e a correspondente luta (em diferentes localidades) que se lhe fez frente o exército luso-inglês; apresenta, por vezes, algumas transcrições do periódico coimbrão Minerva Lusitana, nunca esquecendo as importantes situações de confronto contra Napoleão, tanto na Península como em toda a Europa; dá pequenas anotações (muitas retiradas da Gazeta de Lisboa) sobre o diário militar da campanha de Wellesley e de Beresford ao longo do país, as deambulações das tropas de Francisco da Silveira, Bacelar; transcreve artigos do valioso periódico liberal espanhol Semanário Patriótico (1808-1812), redigido pelo poeta Manuel José Quintana (1772-1857), da Gazeta Extraordinária de Madrid (1814).

Como curiosidade seja dito que ao seu nº 26 dá notícia da impressão do folheto “Susto que elles voltem”, ao mesmo tempo que diz vender os 24 números da colecção do Telegrafo, em um volume, por 480 réis. Saiu o periódico, por vezes, com um Suplemento com referência aos “francezes revolucionários”, jacobinos ou “franco-manos”, além do “Resumo das novidades da semana” quase sempre noticias militares. .   
Vendia-se este periódico, como se pode ler no seu número 28 (Março 1809) e ss, na loja de Luiz José de Carvalho (aos Paulistas), na loja de Francisco Luiz Leal (em Alcântara), na loja do Carvalho (aos Mártires; curiosamente vendia-se, também, o “Retrato do Grande Palafox”, herói da independência da península), na Loja da Rua da Prata (ao º 227), na loja de Nascimento (rua dos Algibebes).

J.M.M.

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