DISCURSO PROFERIDO NA HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES THOMAZ NO DIA
24 DE AGOSTO DE 2016, NA FIGUEIRA DA FOZ, pelo Grande Secretario Geral do
Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa
“Em nome do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, o GOL está
uma vez mais presente nesta celebração do dia 24 de Agosto.
Ao celebrarmos Fernandes Tomás, estamos inequivocamente a
celebrar o dia 24 de Agosto de 1820 e a Revolução Liberal. Estamos a relembrar
o homem que encarnou a alma dessa revolução, cuja matriz era a elaboração de
uma Constituição, expressão de uma cidadania composta pela participação de
todos da vida da sociedade, moldada em direitos e deveres para com o todo
social. Estamos também a manter vivas as ideias do Bem Comum e do bom governo
que fizeram história a partir do século XVIII, com as teorias de Locke, Hobbes,
Montesquieu ou Rousseau. Aliás, é este quem afirma que a Lei depois de aprovada
pelo soberano, sendo este o povo reunido em assembleia, se converte em vontade
geral, que será posteriormente executada pelo governo, grupo de homens
particulares a quem cabe a aplicação concreta das leis, e que naturalmente
nunca vai contra o Bem Comum.
Ao longo dos séculos mudou a forma como governantes e governados
se vêm mutuamente. Até ao século XVIII um bom governante era aquele que
enriquecia com o governo da nação. No século XIX, um bom governante era aquele
que se sacrificava pelo bem público. Fernandes Tomás encarna este espírito de
salientar a liberdade individual em articulação com o coletivo, opondo-se a
quaisquer privilégios singulares, fossem eles de reivindicada ancestralidade ou
de qualquer outra natureza. Hoje, muitas vezes a crítica fácil e demagógica
leva-nos a olhar para os governantes com desconfiança e mal dizer,
esquecendo-nos que muitas vezes de quem sacrifica a sua vida pessoal e familiar
em prol do Bem Comum.
Por isso, também hoje, depois de um século XX tumultuoso, de
mudança de paradigmas, cabe-nos manter vivos um conjunto de valores onde cada
vez mais a participação cívica ganha peso. Onde, aliado ao alheamento político
muitas vezes visível em períodos eleitorais, se deve evitar a crítica fácil,
não poucas vezes o caminho mais curto para as ditaduras e para a perda da Liberdade,
esse bem que Fernandes Tomás tanto amava, quando criou o Sinédrio ou quando
intervinha nas Cortes Constituintes.
Um dos mais brilhantes parlamentares portugueses, cidadão
exemplar, referência de honra e dignidade, admirado pelas suas faculdades oratórias,
pela sua honradez e pela sua honestidade, Fernandes Tomás foi o pai de muitas
das Liberdades e práticas que hoje damos por adquiridas. Morreu pobre e nada quis
do Estado, o qual muito lhe devia.
O Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa sente
particular orgulho em ter contado de entre os seus membros um Homem com a
grandeza de Manuel Fernandes Tomás. O Grande Oriente Lusitano sente orgulho nos
maçons que hoje, como nos séculos XIX e XX, trabalharam na Figueira da Foz.
Aqui a Maçonaria fundou associações de apoio aos mais
desfavorecidos, criou escolas e exerceu uma profunda influência cultural e
cívica através de associações e jornais. Na história da cidade são
incontornáveis os nomes de muitos que aqui nasceram ou que à cidade estiveram ligados
pela sua actividade profissional ou política. Nomes como António Augusto
Esteves, escritor e bibliófilo, Maurício Águas Pinto, fundador dos Rotários
figueirenses, Joaquim de Carvalho, professor universitário, Joaquim António
Feteira, comerciante, Goltz de Carvalho, professor e naturalista ou António dos
Santos Rocha, advogado e arqueólogo, ou ainda de Gentil da Silva Ribeiro,
operário, dirigente republicano e impulsionador do associativismo e da imprensa
local têm além da sua condição de figueirenses a qualidade de terem sido maçons
do Grande Oriente Lusitano.
Por isso também não podemos deixar de louvar este momento e este
ato levado a efeito pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, na pessoa do seu
presidente, que ao lembrar um filho da terra não esquece a história e o seu
passado, trazendo para as gerações do presente o seu exemplo, tornando a nossa
sociedade mais fraterna e mais participativa. Queremos referir o papel da
Associação Manuel Fernandes Thomaz, na sua luta por manter viva a memória deste
cidadão exemplar lembrando-o nos dias de hoje. Queremos também saudar o
importante papel de intervenção cultural e cívica da Associação 24 de Agosto,
ao instituir esta data como uma das suas referências. Terminamos, deixando uma
palavra aos figueirenses, para que tenham em Fernandes Tomás um exemplo de
cidadão, que ultrapassou as fronteiras da cidade, para dar ao país o seu
melhor. E, por último, também uma palavra para os maçons e para as Lojas da
Figueira da Foz, para que encontrem em Fernandes Tomás um exemplo para o seu
trabalho de todos os dias.
Por último, uma palavra de respeito e de incentivo pelo trabalho
desenvolvido pela Loja Fernandes Tomás, do Grande Oriente Lusitano, ao ter como
patrono este nome ímpar da história portuguesa e ao encontrar nele um exemplo
para o seu trabalho de todos os dias, num contributo árduo e permanente para a
construção de uma sociedade melhor, provando assim que as utopias não cessaram”.
[Grande Secretario Geral do Grande Oriente Lusitano – Maçonaria
Portuguesa , 24 de Agosto de 2016] | sublinhados nossos
FOTO de Mauro Correia, com a devida vénia
FOTO de Mauro Correia, com a devida vénia
J.M.M.
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