sexta-feira, 28 de junho de 2024

A VEDETA DA LIBERDADE (1835-1839)


A VEDETA DA LIBERDADE. Ano I, nº 1 (1 de Maio de 1835) ao nº 296 (31 de Dezembro de 1839 ?); Propriedade: José de Azevedo Gouveia Mendanha; Editor: João Soares Guedes; Redactores: António Carmo Velho de Barbosa (o padre Valbom ou o padre da Vedeta), António Rodrigues Sampaio (1806-1882); Impressão: Imprensa de Coutinho [a partir de 1837, Imprensa Constitucional]; Porto; 1835-1839, 296 numrs (?)

Trata-se de um periódico que integrou a corrente da esquerda constitucional da cidade do Porto. O jornal, “um dos mais lidos” e influentes no norte do país, foi progressista e setembrista, passando depois a cartista, defendendo no final a Constituição de 1822 (ver, José Tengarrinha). Curiosamente no seu número de 2 de Janeiro de 1839 afirmava-se como combatente pela “Constituição de 1838”. Propriedade do negociante da praça do Porto e membro da Comissão Municipal Interina de Gondomar, José de Azevedo Gouveia Mendanha, tinha na redação, além do padre Valdom, o incontornável António Rodrigues Sampaio, o “Sampaio da Revolução” de Setembro (periódico anticabralista que dirigiu a partir de 1844) e que marca a sua estreia jornalística e política. Após conflito entre o padre Velho de Barbosa e o proprietário do jornal (ver Teixeira de Vasconcelos, O Sampaio da Revolução de Setembro), António Rodrigues Sampaio passa a redactor principal d’A Vedeta da Liberdade, antes de ser chamado por José Estêvão para a redação do importante periódico oficioso do setembrista, A Revolução de Setembro.

NOTA: António Carmo Velho de Barbosa (1789-1854) ou padre Valbom, era natural de Barcelos, recebeu em 1805 o hábito de S. Bento no mosteiro de Tibães e, tendo concluído o noviciado no ano seguinte, foi colegial de filosofia no Mosteiro de Santo André de Rendufe (ver Dicionário de Inocêncio F. Silva). Quando das invasões francesas, “tomou armas”, combatendo as tropas de Soult com os seus irmãos frades e, de tal modo, que Rendufe, qual “castelo fortificado”, ficou conhecido pelo “Castelo dos Tiroleses”. Tal rocambolesco facto, aliado à “austeridade” monacal (ainda segundo Inocêncio), fê-lo, juntamente com os seus companheiros, entrar em conflitos com o poder monástico, obrigando uma força militar vindo de Braga entrar “à força” nas instalações para por cobro à situação de “insubordinação”. Como resultado disso, ele e os seus companheiros foram dispersos pelos vários mosteiros da congregação. Ordenado presbítero no mosteiro de Santo Tirso, foi eleito (1819) abade do Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto, e pregador régio. Em 1829 foi preso, colocado na cadeia da relação e enviado sob “rigorosa prisão” para o Mosteiro de Paço de Sousa. Como o mosteiro foi utilizado como hospital militar pelas forças miguelistas, em Junho de 1833, no cerco do Porto, saiu para S. João d'Arnoia (Celorico de Basto), até ser proclamado o governo da rainha D. Maria. Quando se aboliu as ordens religiosas, veio para o Porto, onde em 18 de Julho de 1834 foi eleito pároco de Valbom. É a partir daqui que começa a publicar artigos e a escrever n’A Vedeta da Liberdade. Novas discórdias com os paroquianos fizeram que fosse recolocado na Igreja de Leça de Balio, tendo falecido a 4 de Fevereiro de 1854.

Ilustrado, cavaleiro da Ordem de Cristo, publicou um curioso opúsculo em desabono das famosas cortes de Lamego, que refuta com vigor, intitulado, Exame critico das Cortes de Lamego, Typ. de D. António Moldes, Porto, 1845. Ainda segundo Inocêncio fez sair uma Oração fúnebre do muito alto e poderoso senhor D. Pedro IV (1847), um curioso opúsculo, Explicação do terceiro corpo das prophecias de Gonçalo Annes Bandarra, começadas a verificar no reinado do sr. D. João V, e acabadas no reinado do sr. D. Pedro IV (1852, p. 54), publicou, ainda, Memorias histórica da antiguidade do Mosteiro de Leça, chamada do Balio (Porto, 1852) e uma Memoria acerca da combinação das epochas que contem a inscripção da Torre da Estrella da cidade de Coimbra, aliás, publicada nas Memorias da Academia (1848), entre outros.

J.M.M.

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