sábado, 27 de fevereiro de 2016

ÍNDICE BIOBIBLIOGRÁFICO DE BOCAGE




LIVRO: Índice Biobibliográfico de Bocage. Colecções documentais da Casa Bocage, Biblioteca Pública, Museus e Arquivo Municipal de Setúbal;

Coordenação Geral: José Luís Catalão; Texto: Daniel Pires;
EDIÇÃO: Câmara Municipal de Setúbal, 2016, p. 151.

“Nunca é demais enaltecer a pertinência das bibliografias. A sua consulta constitui o primeiro patamar de uma investigação profícua; permite-nos, por outro lado, num curto espaço de tempo, encontrar pistas ou soluções para equacionar os assuntos que pesquisamos.

Encontra-se na Casa de Bocage uma preciosa colecção da qual constam obras e outros espécimes bibliográficos que se prendem com o poeta. Trata-se da bibliografia activa e passiva – ou seja, obras de e sobre Bocage – mais exaustiva até hoje reunida. Na verdade, é o corolário da convergência de múltiplas sinergias que, ao longo de décadas – mais concretamente desde que o edifício foi adquirido em 1888 por Edmond Bartissol –, se foram manifestando.

Um passo decisivo para a estruturação do presente acervo foi aquele que Fernando Elói do Amaral deu. Depois de organizar metodicamente uma exposição em Lisboa, na Cooperativa Ajudense, entre 11 e 18 de Setembro de 1965, no âmbito das comemorações do bicentenário do nascimento de Bocage, aquele ensaísta doou à edilidade setubalense um valioso espólio. Pertencera esse pecúlio a seu pai, João Elói Ferreira do Amaral, pintor e professor que nasceu em Setúbal (1839-1927) e que contribuiu para eternizar Bocage com um óleo e com a publicação de uma antologia poética. O respectivo protocolo foi assinado no início de 1967, de acordo com documentos que me foram gentilmente indicados pelas doutoras Maria da Conceição Heleno e Ana Catarina Stoyanoff.

Deste legado faziam parte as primeiras edições das célebres Rimas, os livros de fôlego de Bocage; alguns folhetos publicados em vida do escritor, de extrema raridade; as suas não menos incomuns traduções, feitas a partir do francês e do latim; uma panóplia de obras póstumas, entre as quais poderíamos destacar as Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, da responsabilidade do conceituado bibliógrafo Inocêncio Francisco da Silva – um marco relevante, pois pela primeira vez foi publicada, corria o ano de1853, em seis tomos, a obra completa do bardo sadino.

A colecção não se limitava à bibliografia activa de Bocage: a passiva estava igualmente bem representada. Referimo-nos às obras de carácter biográfico, à iconografia relativa ao poeta e à época, aos poemas manuscritos e a outros textos tecidos sobre o escritor.

O acervo, entretanto, foi crescendo, porquanto recebeu os contributos de coleccionadores bem como de autores, compositores e de artistas plásticos que tiveram Bocage como fonte inspiradora – por exemplo, Rogério Chora, Júlio Pomar, Romeu Correia e Frederico Brito.

Ênfase igualmente para a colecção depositada na Biblioteca Municipal de Setúbal, da qual constam periódicos que dedicaram a Bocage particular atenção, entre outros, O Elmano, A Voz do Progresso, Germinal e A Nossa Homenagem, tendo sido este dinamizado por Ana de Castro Osório e por Paulino de Oliveira. Do acervo faz ainda parte a obra de Bocage mais invulgar, porquanto é particularmente ambicionada pelos coleccionadores e terá tido uma tiragem reduzida: Elogio Poético à Admirável In­trepidez com que em domingo 24 de Agosto de 1794 subiu em balão aerostático o Capitão Vincenzo Lunardi.
 
 
Este levantamento bibliográfico não se circunscreve aos acervos da Casa de Bocage e da Biblioteca Municipal de Setúbal: conta igualmente com os espécimes existentes no Museu de Setúbal / Convento de Jesus, no Museu do Trabalho Michel Giacometti e no Arquivo Municipal. No primeiro, encontra-se o espólio do Manuel Maria Portela, dinamizador da inauguração da estátua de Bocage e da comemoração do centenário do seu falecimento, respectivamente nos anos de 1871 e de 1905.

A presente bibliografia é, deste modo, fulcral para o aprofundamento do conhecimento da poesia e da biografia de uma personalidade ímpar da literatura portuguesa; contribui para a compreensão do século XVIII e sugere, por outro lado, a necessidade de se fazer da Casa de Bocage um pólo irradiador da investigação sobre o poeta e a sua época”

[Daniel Pires, in Bibliografia de Bocage, pp 3-4]

J.M.M.

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