LIVRO:
Índice Biobibliográfico de Bocage. Colecções documentais da Casa Bocage,
Biblioteca Pública, Museus e Arquivo Municipal de Setúbal;
Coordenação Geral: José Luís Catalão; Texto: Daniel Pires;
EDIÇÃO: Câmara Municipal de Setúbal, 2016, p. 151.
“Nunca é demais enaltecer a pertinência das bibliografias. A sua consulta constitui o primeiro patamar de uma investigação profícua; permite-nos, por outro lado, num curto espaço de tempo, encontrar pistas ou soluções para equacionar os assuntos que pesquisamos.
Encontra-se na Casa de Bocage uma preciosa colecção da qual
constam obras e outros espécimes bibliográficos que se prendem com o poeta.
Trata-se da bibliografia activa e passiva – ou seja, obras de e sobre Bocage –
mais exaustiva até hoje reunida. Na verdade, é o corolário da convergência de
múltiplas sinergias que, ao longo de décadas – mais concretamente desde que o
edifício foi adquirido em 1888 por Edmond Bartissol –, se foram manifestando.
Um passo decisivo para a estruturação do presente acervo foi
aquele que Fernando Elói do Amaral deu. Depois de organizar metodicamente uma
exposição em Lisboa, na Cooperativa Ajudense, entre 11 e 18 de Setembro de
1965, no âmbito das comemorações do bicentenário do nascimento de Bocage,
aquele ensaísta doou à edilidade setubalense um valioso espólio. Pertencera
esse pecúlio a seu pai, João Elói Ferreira do Amaral, pintor e professor que
nasceu em Setúbal (1839-1927) e que contribuiu para eternizar Bocage com um
óleo e com a publicação de uma antologia poética. O respectivo protocolo foi
assinado no início de 1967, de acordo com documentos que me foram gentilmente
indicados pelas doutoras Maria da Conceição Heleno e Ana Catarina Stoyanoff.
Deste legado faziam parte as primeiras edições das célebres Rimas,
os livros de fôlego de Bocage; alguns folhetos publicados em vida do escritor,
de extrema raridade; as suas não menos incomuns traduções, feitas a partir do
francês e do latim; uma panóplia de obras póstumas, entre as quais poderíamos
destacar as Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, da responsabilidade
do conceituado bibliógrafo Inocêncio Francisco da Silva – um marco relevante,
pois pela primeira vez foi publicada, corria o ano de1853, em seis tomos, a
obra completa do bardo sadino.
A colecção não se limitava à bibliografia activa de Bocage: a
passiva estava igualmente bem representada. Referimo-nos às obras de carácter
biográfico, à iconografia relativa ao poeta e à época, aos poemas manuscritos e
a outros textos tecidos sobre o escritor.
O acervo, entretanto, foi crescendo, porquanto recebeu os
contributos de coleccionadores bem como de autores, compositores e de artistas
plásticos que tiveram Bocage como fonte inspiradora – por exemplo, Rogério
Chora, Júlio Pomar, Romeu Correia e Frederico Brito.
Ênfase igualmente para a colecção depositada na Biblioteca
Municipal de Setúbal, da qual constam periódicos que dedicaram a Bocage
particular atenção, entre outros, O Elmano, A Voz do Progresso, Germinal e A
Nossa Homenagem, tendo sido este dinamizado por Ana de Castro Osório e por
Paulino de Oliveira. Do acervo faz ainda parte a obra de Bocage mais invulgar,
porquanto é particularmente ambicionada pelos coleccionadores e terá tido uma
tiragem reduzida: Elogio Poético à Admirável Intrepidez com que em domingo 24
de Agosto de 1794 subiu em balão aerostático o Capitão Vincenzo Lunardi.
A presente bibliografia é, deste modo, fulcral para o
aprofundamento do conhecimento da poesia e da biografia de uma personalidade
ímpar da literatura portuguesa; contribui para a compreensão do século XVIII e
sugere, por outro lado, a necessidade de se fazer da Casa de Bocage um pólo
irradiador da investigação sobre o poeta e a sua época”
[Daniel Pires, in Bibliografia de Bocage, pp 3-4]
J.M.M.
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