LIVRO: O caso dos “Divodignos” e as lutas entres liberais e absolutistas. História. Memória e Ideologia;
Autor: Luís Reis Torgal;
EDIÇÃO: Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, 2016.
“A Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova promoveu o lançamento do livro 'O Caso dos ‘Divodignos’ e as Lutas Entre Liberais e Absolutistas: História, Memória e Ideologia”, de Luís Reis Torgal, com o objectivo de documentar, preservar e divulgar a importância deste acontecimento histórico, segundo anunciou, hoje, a autarquia.
O lançamento da obra coincidiu com a inauguração de um memorial,
na sexta-feira, no lugar do Cartaxinho, freguesia de Ega, uma vez que nesse lugar,
a 18 de Março de 1828, deu-se o recontro entre estudantes liberais da
associação secreta designada por “Divodignos” e uma comitiva universitária e
eclesiástica que ia a Lisboa prestar homenagem ao proclamado “Rei Absoluto” D.
Miguel, que se opusera à Carta Constitucional.
Nesse acontecimento morreram dois lentes da Universidade de
Coimbra, tendo sido posteriormente executados nove estudantes, em 20 de Junho
de 1828, no cais do Tojo, em Lisboa.
Com esta inauguração e com a apresentação do livro, o executivo
da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova 'pretende colocar em prática uma das
mais nobres missões do poder autárquico, que é estar ao serviço da preservação
e divulgação da micro-história local, que consiste muitas vezes em pequenos
episódios e acontecimentos cujo alcance, se não têm repercussão fora de portas,
falam todavia no íntimo à comunidade autóctone', justifica a vereadora Liliana
Pimentel no prefácio da obra.
‘O caso dos 'Divodignos', nomeadamente, o recontro entre a
associação secreta dos estudantes liberais e a comitiva universitária e
eclesiástica, acontecimento vulgarmente conhecido por 'assassinato dos lentes',
tem sido fortemente divulgado pela literatura, pois os acontecimentos
subjacentes ao drama atingiram notoriedade nacional, tanto assim que
despertaram imediato interesse literário, sob a forma de ficção literária,
cénica, telenovelística e popular', refere a autarquia condeixense”
►“Sociedade dos Divodignos" [Divodigus] ou
Divodis (1828) - Era composta, na quase totalidade, por estudantes
liberais - o seu presidente era Francisco
Cesario Rodrigues Moacho -, e de onde saíram os estudantes que participaram
nos assassinatos e ferimentos aos lentes e cónegos [Jeronymo Joaquim de
Figueiredo e Mattheus de Sousa Coutinho, foram os lentes mortos], no dia
18 de Março de 1828, além de Condeixa [sítio do Cartaxinho]. Tinham as
reuniões na Rua do Loureiro, em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima
do Arco de D. Jacintha" [in, Apontamentos para a História Contemporânea,
p. 93]. Tinham os Divodignos "uma constituição, uma lei orgânica, que
prescrevia a obrigação de actos violentos, e nestes, até o assassinato" [cf.
Alberto de Sousa Lamy, A Academia de Coimbra 1537-1990].
Segundo um elemento pertencendo à sociedade [conta Joaquim Martins de Carvalho] faziam os Divodigus as assembleias num casarão
quase subterrâneo, sito nos Palácios
Confusos. Foi, aí, que se resolveu a trama de Condeixa, isto é, o cumprimento
da deliberação de tirar do caminho de Lisboa os "membros das duas deputações
" que levavam felicitações ao rei d. Miguel.
Assistiram a essa sessão dos Divodignos, 200 académicos
liberais, tendo sido sorteados 13 deles para o cumprimento da missão. Segundo Joaquim Martins de Carvalho [op. cit], os membros dos Divodignos
que "desfecharam as armas"
foram: Delfino Antonio de Miranda e
Mattos [de Barcelos], Bento
Adjuto Soares Couceiro e Antonio
Correia Megre.
Perante a descoberta ocasional do crime ocorreram populares e
uma força de Cavalaria, que ali passava, pondo em debandada os Divodignos. Foram presos e enforcados
[cf. Joaquim de Carvalho, op.
cit, p. 96] nove deles
[Bento Adjuto Soares Couceiro, Delfino Antonio de Miranda e Mattos, Antonio
Correia Megre, Domingos Barata Delgado, Carlos Lidoro de Sousa Pinto Bandeira,
Urbano de Figueiredo, Francisco do Amor Ferreira Rocha, Domingos Joaquim dos
Reis e Manuel Inocêncio de Araújo Mansilha]. Foram conduzidos para Lisboa
e do processo resultou na sentença [muito contestada juridicamente] de morte por
"enforcamento"
no dia 20 de Junho de 1828, no "cais do Tejo, a Santa Apolónia" [cf. Lamy, op. cit].
Ainda segundo J. Martins de Carvalho evadiram-se os quatro
restantes [diga-se que José Germano da Cunha, nos "Apontamentos para
história do Concelho do Fundão" (Lisboa, 1892) diz-nos que foram
enforcados 10 dos membros dos Divodignos e que escaparam 3, referindo: Bernardo
Nunes, o padre Bernardo Antonio Ferreira e Francisco Sedano Bento de Mello],
registando Martins de Carvalho os seguintes:
Antonio Maria das Neves
Carneiro (do Fundão, e que acabou por ser enforcado em 1830), Francisco Sedano Bento de Mello (Caldas
da Rainha), José Joaquim de Azevedo e
Silva (Lisboa) e Manuel do
Nascimento Serpa (falecido na Misericórdia de Lagos, com o nome de "Fresca Ribeira"- ver obra citada e,
principalmente, o Capitulo XII, "Sentença
que condenou à morte os 9 estudantes enforcados a 20 de Junho de 1828";
do mesmo modo, consultar os "Grande
Dramas Judiciários", de Sousa e Costa;
idem para Oliveira Martins, in Portugal
Contemporâneo, vol I.; ou Teófilo Braga,
"História da Universidade de Coimbra",
tomo IV; tb Camilo Castelo-Branco, in "O
Retrato de Ricardina.”
[texto
nosso, publicado no Almocreve das Petas (ver Associações de Coimbra), a 24 de
Novembro de 2003 | outra Anotação nossa]
J.M.M.
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