DISCURSO
PROFERIDO NA HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS NO DIA 24 DE AGOSTO DE 2016, NA
FIGUEIRA DA FOZ, pela Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto
Vão decorridos 196 anos que um punhado de heróis – à frente dos
quais estava o nosso patrício Manuel Fernandes Tomás - ajustou o ideal da santa
liberdade à obra legislativa constitucional de um Portugal que se queria novo e
regenerado, tão cioso estavam da sua independência e da sua liberdade.
Na verdade, o movimento libertador de 24 de Agosto de 1820 na
cidade do Porto, grito memorável da regeneração da Pátria livre e facto
glorioso da nossa história, pôs fim à pesada grilheta da opressão férrea do
estrangeiro, tirana e absurda, e lançou as sementes da reforma
jurídico-constitucional, contra o arbítrio do Estado e os privilégios sociais,
enchendo de júbilo o coração dos portugueses.
Cumpre-nos, portanto, a todos e cada um de nós, em preito de
homenagem, respeito e gratidão pública, honrar a memória desses cidadãos que bem
souberam irradiar a liberdade e redimir a Pátria. E, de entre eles, a veneranda
figura do mais ilustre dos figueirenses, do mais instruído dos magistrados, o primeiro
dos regeneradores da Pátria, o cidadão e o homem de bem, Manuel Fernandes Tomás.
A Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto tem – e terá sempre
- o grato prazer de evocar esse auspicioso dia e laurear o nosso patrício, o Patriarca
da Liberdade, associando-se à sua Homenagem, relembrando o seu exemplo
benemérito e civilizador, honrando as suas virtudes morais e cívicas,
perpetuando e iluminando a sua memória.
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Rememorar acções heróicas dos nossos melhores, expondo os seus contributos,
virtudes e acções pelo bem público, não é apenas ecoar o clamor da epopeia ou venerar
lembranças do passado, mas, outrossim, ao enaltecer os seus talentos, colher os
seus ensinamentos, dignificar as suas palavras, semear os seus exemplos.
Manuel Fernandes Tomás, pela probidade e integridade do seu pensamento
político e obra pública, acrescentou “uma página à história das idades”,
legando-nos um património cívico admirável que persistiu – e persiste – nesta
alumiada terra figueirense. O reconhecimento e a ventura do seu ideário passaram,
de facto, testemunho à geração vindoura, que ousou ser depositária fiel da sua
alma, coragem e luta.
Sim, os ideais liberais e progressivos da revolução vintista
deixaram sempre a sua semente luminosa entre a nossa gente, nesta nossa terra. Do
Liberalismo à República, do Estado Novo à instauração do Regime Democrático,
foram muitos e admiráveis aqueles cidadãos que tão bem souberam materializar os
grandes ideais do humanismo, da liberdade, da fraternidade e justiça e que,
deste modo, se vêem alistar ao lado de Manuel Fernandes Tomás, a que muito
devem e em quem se revêem.
Entre eles, permitam-me lembrar com estremecido júbilo, os
seguintes:
José Maria de Lemos (1805-1886), António Roberto de Oliveira
Lopes Branco (1806-1889), Fernando Augusto Soares (1838-1918), José Joaquim
Alves Fernandes Águas (1840-1919), Ernesto Fernandes Tomás (1848-1902), António
dos Santos Rocha (1853-1910), Joaquim da Silva Cortesão (1853), Pedro Fernandes
Tomás (1853-1927), Fortunato Augusto da Silva (1856-1926), Augusto Goltz de
Carvalho (1858-1913), general Alfredo Augusto Freire de Andrade (1859-1929); José
da Silva Fonseca (1863-1936), Manuel Gomes Cruz (1866-1943), Joaquim José
Cerqueira da Rocha (1870-1928), João da Silva Rascão (1971-1950), Henrique
Raimundo de Barros (1873-1929), José Gomes Cruz (1873-1941), Manuel Gaspar de
Lemos (1874-1967), Frutuoso Abel dos Santos (1878-1928), António Mesquita de
Figueiredo (1880-1954), Manuel Jorge Cruz (1880-1941), João de Barros
(1881-19160), Manuel Cardoso Martha (1882-1958), António Augusto da Gama
(1885-1966), Augusto dos Santos Pinto (1888-1979), José dos Santos Alves
(1888-1958), António da Silva Biscaia (1892-1970), Raymundo Esteves
(1892-1946), Albano Correia Neves Duque (1894-1963), António Augusto Esteves
(Carlos Sombrio) (1894-1949), Maurício Augusto Águas Pinto (1884-1958), Adelino
Ferreira Mesquita (1890-1977), Cristina Torres (1891-1975), Joaquim de Carvalho
(1892-1958), José Rafael Sampaio (1892-1981), José da Silva Ribeiro (1894-1990),
Frutuoso Soares Coronel Pessoa (1906-1980).
Assim, na história da vida figueirense, esta plêiade de notáveis
cidadãos deixou-nos uma contínua (e difícil) utopia da cidadania e de serviço
da causa pública, realizada através de uma fecundidade cívica e cultural
exemplar, na animação da vida política, económica e associativa local, na conquista
da liberdade e da democracia – o que é, afinal, o mais belo legado que prosseguiu
e consolida a obra luminosa de Manuel Fernandes Tomás.
Esse é - Senhoras e Senhores – o maior tributo que se poderá
prestar aos heróis dessa alvorada patriótica de 24 de Agosto (e, bem assim, ao
nosso patrício Fernandes Tomás): avocar as virtudes sociais do combate cívico levado
a cabo por várias gerações que nos precederam, homens e mulheres que irmanados
no espírito e consciência do seu tempo nos souberam transmitir, fraterna e
solidariamente, os valores da Liberdade, Justiça, Verdade, Honra e Progresso.
Nesse mesmo sentido se referiu Manuel Fernandes Tomás, no dizer do
seu Relatório sobre o Estado e a Administração do Reino (3 de Fevereiro de 1821):
“Os homens mais dignos de servir a Pátria viviam no retiro e na
obscuridade. Para os conhecer devia passar tempo”.
Tempo passado, é a hora de evocar na nossa memória, e para os
vindouros, os traços luminosos que moveram à acção de gerações passadas, tempos
históricos, sempre generosos e arrebatados, que deram alma e sonho na vinculação
à polis e alento ao abraço de todos os homens como irmãos.
Por tudo isso dizemos bem alto:
Honra a Manuel Fernandes Tomás!
Viva a Liberdade!
[Associação
Cívica e Cultural 24 de Agosto, 24 de Agosto de 2016]
FOTO de F. Teixeira, com a devida vénia | sublinhados nossos
FOTO de F. Teixeira, com a devida vénia | sublinhados nossos
J.M.M.
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