segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

BENTO GONÇALVES E O "REVIRALHISMO"



A propósito do Colóquio, "A Revolução de Fevereiro de 1927 contra a ditadura: oitenta anos depois", foi dito, aqui, que haveria "muitas questões por esclarecer". Uma delas referia-se ao modo como os comunistas (PCP) olharam esse acontecimento. Ora, num texto policopiado, datado de Setembro de 1969 e que circulou clandestinamente no país, de autoria de Bento Gonçalves, intitulado "Elementos para a História do Movimento Operário Português" [desconhecemos quem a editou ou que organização a apadrinhou, mas trata-se do livro de Bento Gonçalves saído em 1973 (antes em 1969), na Editorial Inova mas sob responsabilidade de Virgínia de Moura, com o título "Palavras Necessárias. A vida proletária em Portugal de 1872 a 1927”". Aliás, conforme está expresso nas sucessivas notas em ulteriores edições, também sob edição da Inova, a sua origem é bem curiosa], lê-se:

"... Até Março de 1927, o Partido [PCP] não em história. A gente de Rates

[Carlos Rates (?-1945), trabalhador rural e antigo militante operário sindicalista, tem a cargo a "responsabilidade" do partido "nos começos do Verão de 1924". Após as divergências entre o grupo Caetano de Sousa-José de Sousa e o grupo denominado "Ratistas" se agravarem, o delegado da I.C. para Portugal, Humberto-Droz, decide a favor do grupo de Rates. A teorização e doutrinação politica torna-se crucial para o "esperançoso" dirigente comunista. Assim, Rates assume como tarefa teórica importante tratar a questão agrícola, ao mesmo tempo que reflecte sobre a questão colonial (em que preconiza a venda das colónias, para efeitos de futuro investimento agrícola e comercial). De outro modo, face às insinuações existentes, refuta publicamente qualquer ligação do PCP com a "Legião Vermelha". Ao mesmo tempo mantêm "guerra" aberta com a CGT e avança numa coligação eleitoral com a "Esquerda Democrática" (onde não consegue qualquer deputado). Entretanto, face à derrota eleitoral e política havida - diz-nos Bento Gonçalves - a "debandada" começava no Partido. O próprio Rates abandona a Maçonaria (Rates foi "regularizado em 1922 na Loja Renascença, com o nome simbólico de Babeuf" - infª de Oliveira Marques) e, depois do convite do jornal O Século, afasta-se do PCP, em 1925. Em 1931 adere à União Nacional, apresentando nas páginas do Diário da Manhã, de 16/07/31, as razões que o motivaram. Morre em 1945]

foi quem lá ficou (...)

... desde que Rates abandonou o Partido até Março de 1927, a actividade comunista não era notada porque, na realidade, não existia. Apenas em 7 de Fevereiro, quando se deu o primeiro ‘putsch’ contra a ditadura fascista, o Partido publicou um manifesto convidando os trabalhadores a persistirem na luta – a não abandonarem as armas – até que o ‘putsch’ ficasse vitorioso. A incapacidade dos dirigentes do Partido era tal que foi preciso que elementos não dirigentes lhes houvessem lembrado a necessidade da publicação referida. Foram esses elementos, com José de Sousa à cabeça, quem editou e fez circular o citado manifesto ..."

[Bento Gonçalves, in Elementos para a Historia do Movimento Operário Português, aliás in Palavras Necessárias, 1974]

J.M.M.

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