terça-feira, 22 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte VI)



Chegados aos dias da revolução, que José Relvas deixou bem documentados nas suas Memórias Políticas, vol. I, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 109 a 148, onde são descritos pormenorizadamente os episódios que viveu, assistiu ou que lhe foram relatados na época. Não iremos, certamente, transcrevê-los, mas podemos considerar que são um elemento precioso para o estudo da época, até porque outros relatos surgiram mas foram publicados na imprensa da época e, já agora a sugestão à Comissão do Centenário da República, porque não recolher esses relatórios e publicá-los enquadrando-os com a diversidade dos participantes.

O relatório de Machado Santos, A Revolução Portuguesa (1907-1910) ainda recentemente republicado, tem sido um bom repositório dos acontecimentos, mas existiram outros que nos recordamos de ter encontrado na imprensa republicana pós 5 de Outubro como os de Afonso Pala, José de Ascensão Valdês, Ernesto Gomes da Silva, Caetano do Carvalhal Correia Henriques, Mariano Choque Júnior, Francisco de Sousa Marques, António Joaquim de Sousa Dinis entre outros que já foram recolhidos e publicados no ido ano de 1978, pela Câmara Municipal de Lisboa, com notas de Carlos Ferrão que mereciam conhecer nova edição, provavelmente, acompanhada de estudos críticos sobre os diferentes autores e respectivos relatórios.[A. H. de Oliveira Marques, Guia de História da 1ªRepública Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1981, p. 140]

Já agora outra sugestão, porque não proceder à publicação da correspondência das figuras importantes da República: Afonso Costa (propriamente sobre a vigência da República), António José de Almeida, Brito Camacho, Bernardino Machado, entre outros, que têm espólios conservados, mas que ainda se mantêm por descobrir pois alguns estão dispersos por várias partes do País e muitas vezes inacessíveis. Ou então, porque não mandar digitalizar esses espólios e colocá-los acessíveis (on line)a todos os interessados seja nas casas-museu, fundações, Assembleia da República, Presidência da República ou outras estruturas que foram criadas ao longo do tempo.

José Relvas revela que o seu círculo privado de amigos era constituído por João Chagas, a que já fizemos referência anteriormente, Manuel de Brito Camacho, José Barbosa, Inocêncio Camacho, António Ladislau Parreira, José Carlos da Maia e Aníbal de Sousa Dias com quem mantinha contacto quase permanente. De certo, a correspondência com estas personalidades seria importante de descobrir e estudar, mas por onde andará?

Quando José Relvas foi nomeado Ministro das Finanças, ele que era tido como um moderado, como afirmou Vasco Pulido Valente, tal como António José de Almeida e Brito Camacho e que "queriam uma república liberal, ordeira e respeitável" [Vasco Pulido Valente, Moderados e Radicais na I República: da Conciliação ao Terror(Outubro de 1910-Agosto de 1911)", Análise Social, vol. XI, n. 42-43, 1975 , pgs. 232-265] foi nomeado em 12 de Outubro de 1910 e substituído nas funções governativas em 3 de Setembro de 1911, regressando somente em
1919, após o assassinato de Sidónio Pais. Em 27 de Janeiro de 1919 foi convidado a formar governo, sendo o Presidente do Ministério até 30 de Março de 1919.

Quando presidiu a este último ministério teve que enfrentar as dificuldades provocadas pela revolta de Monsanto e pelo período que ficou conhecido como a Traulitânia.

Entre 1911 e 1914, durante as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, com vista a restaurar a monarquia, partindo de Espanha, Relvas foi o Ministro de Portugal em Madrid, enfrentando grandes dificuldades.

Foi iniciado na Maçonaria com o nome simbólico de Beethoven, em 1911, pertencendo à loja Acácia, mas afastou-se da sociedade em 1913.

Publicou:

- A Questão Económica Portugueza. Aspectos do problema agrícola, Lisboa, 1910 (Conferência realizada no Centro Comercial do Porto em 3 de Março de 1910)
- Memórias Políticas, 2 vols., Terra Livre, Lisboa, 1978, com prefácio de João Medina e apresentação e notas de Carlos Ferrão.(postumamente)

Colaborou nas seguintes publicações periódicas:
- VOLTA DO MUNDO (Á). Jornal de viagens e de assumptos geographicos, illustrado com milhares de gravuras, Porto, 1880 a 1883;
- ARTE MUSICAL(A), Revista quinzenal, Lisboa, 15 de Janeiro de 1899 até o n.º 409, de 31 de Dezembro de 1915, em que terminou esta publicação.

Provavelmente terá ainda colaborado noutras publicações, mas não as conseguimos localizar.

José de Mascarenhas Relvas faleceu na sua Casa dos Patudos em 31 de Outubro de 1929, curiosamente no mesmo dia em que falecia também outra das figuras fundamentais do movimento republicano em Portugal: António José de Almeida.

A.A.B.M.

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