domingo, 10 de julho de 2011

GOMES DE CARVALHO


O conhecido editor Gomes de Carvalho, nasceu em Braga, em 6 de Março de 1867, com o nome completo de Francisco José Gomes de Carvalho. Abandona a escola aos 12 anos para começar a trabalhar. Primeiro, como marçano, na antiga livraria de Ernesto Chardron, no Porto. Trabalhou depois para outras livrarias até se estabelecer em Lisboa.

Nesta cidade exerceu profissionalmente na Livraria Tavares Cardoso & Irmão, que era uma das livrarias mais frequentadas na época, e onde se publicaram edições de grande êxito. Mais tarde passou para a Livraria Central, situada na Rua da Prata, que adquiriu e onde publicou obras de autores já consagrados, mas também lançou algumas figuras novas no panorama literário português. O antigo livreiro Gomes de Carvalho, cuja vida de editor foi iniciada com Os Gatos.

Foi também um dos responsáveis pela introdução de autores estrangeiros, na época pouco conhecidos, mas que depois o tempo se encarregou de divulgar, como Tolstoi, Kropotkine, Dostoiewsky, Wells, Claude Farrére, entre muitos outros.

Dias antes do 28 de Janeiro de 1908, apareceu nas livrarias um livro com o título de O Marquês da Bacalhoa, que, como sabemos, provocou um enorme escândalo. O autor era D. António de Albuquerque do Alardo do Amaral Cardoso, filho do senhor da Casa dos Arcos, em Viseu, aquilo que se podia designar como um fidalgo anarquista. Fazia, segundo se conta, os seus incitamentos à destruição da sociedade, comendo lautas refeições regadas a champanhe. O editor da obra, segundo algumas opiniões, foi Gomes de Carvalho. Este era maçon, republicano, segundo afirma Aquilino Ribeiro em Um Escritor Confessa-se , e viu na publicação do livro uma forma de desacreditar ainda mais a fragilizada instituição monárquica, pois António de Albuquerque criticava fortemente no livro a rainha D. Amélia, romanceando o suicídio de Mousinho de Albuquerque, seu primo, e dando como motivo para esse acto os amores adúlteros do militar com a rainha. Entretanto, a «questão dos adiantamentos à Casa Real» continuava a ser motivo da especulação jornalística.

Anos mais tarde transfere a livraria para a Avenida Almirante Reis e salientam-se desse período as edições de Gomes Leal, Mulher de Luto; Afonso Gaio, Heróis Modernos; Albino Forjaz de Sampaio, Sol de Jordão; Alfredo Gallis, Tuberculose Social; Alberto Bessa, Rocha Martins, João Chagas, Faustino da Fonseca, Heliodoro Salgado, Bourbon e Meneses, César de Frias, Henrique Marques, entre muitos outros.

Participou de forma activa e empenhada nos movimentos que conduziram ao 5 de Outubro de 1910, sendo referida a sua acção no relatório de Machado Santos.
Presidiu por algum tempo à direcção da Escola Republicana 27 de Abril e à Liga dos Direitos do Homem.

Após a implantação da República foi nomeado primeiro-oficial da Junta Geral do Distrito de Lisboa, desde 1914 até 1937, data em que se aposentou.

Utilizou o pseudónimo de Malthus.

Segundo os dados da GEPB, morreu em Lisboa a 24 de Dezembro de 1952, mas numa pesquisa rápida realizada na imprensa da época não se encontram referências, o que nos parece algo estranho e que merece a devida confirmação.

Publicou os seguintes livros:
- Verdade e Justiça;
- Morte Civil;

Colaborou nos In Memoriam de:
- Fialho de Almeida;
- Teófilo Braga;
- Delfim Guimarães;
- João Pedro Monteiro;
- Magalhães Lima;

Na Imprensa conhecem-se colaborações nos seguintes periódicos:
- Jornal de Viseu;
- Vanguarda, Dir. Pedro Muralha;
- Intransigente, Lisboa, Dir. Machado Santos;
- Jornal do Comércio, Lisboa;
- Luta, Lisboa, Dir. Brito Camacho;

De acordo com Armando Ribeiro, Gomes de Carvalho era descrito da seguinte forma:
Era um homem baixo, pálido, de fala demorada e mansa, e ar de quem não quebra um prato e que tem na vida a preocupação única de fazer bem o seu negócio. Pois este livreiro, calmo e meticuloso, tem lá dentro uma alma que é preciso olhar com respeito. Foi um organizador incansável, correu várias terras da província fundando núcleos revolucionários, e desde o dia em que lhe falei até à hora de perigo, teve sempre o ar de quem arrisca a vida como se estivesse na loja a vender um livro. Juntos com ele, como sub-chefe, estavam António Ferreira e Delgado de Assis, seus companheiros . [Armando Ribeiro, A Revolução Portuguesa. Em Plena Revolução, vol. II, João Romano Torres, Lisboa, 1915, p. 105. Cf. A Capital de 16 de Outubro de 1910.]

Gomes de Carvalho foi um dos fundadores do Centro Republicano Radical em 1911 [Ernesto Castro Leal, Partidos e Programas Políticos: o campo partidário português 1910-1926, Imprensa da Universidade, Coimbra, 2009]

Foi um dos envolvidos na revolta radical de 27 de Abril de 1913, tendo sido detido, defendia já nessa época uma profunda alteração ao funcionamento do jovem regime republicano.

Uma personalidade pouco conhecida na sua vertente política, embora bastante conhecida enquanto editor até meados do século XX, que o Almanaque Republicano recupera do esquecimento a que foi votado.

A.A.B.M.

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