AGORA. Semanário da Actualidade Política e Literária - Ano I, nº
1, 18 de Fevereiro de 1961 até ao nº 401, 29 de Março de 1969; Propr. e Editor:
Raul de Carvalho Branco [depois (1966), Camilo da Trindade]; Director: Raul de
Carvalho Branco (oficial do exército); Adm. e Redacção: R. Ferreira Lapa, 32,
4º Dto, Lisboa; Chefe da Redacção: José O’Neill [depois, Goulart Nogueira]; Impressão.
Trav. das Mercês, 4 a 10, 1961-1969
O semanário “AGORA” nasce [cf. Riccardo Marchi, Império Nação
Revolução, Texto, 2009] sob o impulso de José O’Neill [antigo director do
semanário “A Nação”, 1946-48] e dos jovens nacionalistas de Coimbra, Ruy Alvim, José Luís
Nogueira da Brito e Francisco Abreu Lima, acompanhados por Manuel Saldida. O
título retoma [cf. Marchi, ibidem] um antigo projecto de Alfredo Pimenta e tem
o figurino da anterior “A Nação”. Reúne os ultras do regime de Salazar, manifestando
uma radical crítica política à “classe política do Estado Novo” e de vigilância
“aos traidores instalados no regime”. Promove o anti-semitismo, é
claramente contra a administração norte-americana, e faz a propaganda do
neofascismo europeu.
Mantém a linha editorial da revista uma série de conflitos com
os interesses instalados (industriais e militares) e com a Censura, mas cede “a
troco de financiamento” e protecção [cf. Marchi, ibidem]. Tal não impede que
seja suspenso [Dezembro de 1964], vendo José O´Neill, nesse facto, uma
“vingança” da empresa “Amoníaco Português”, pelos artigos publicados. O mesmo
sucede, a 27 de Novembro de 1965 [a que se seguiram outras mais suspensões],
por não terem acatado a proibição de um artigo pela censura. De novo, a
direcção do semanário recorre a Salazar, referindo as “promessas” que
lhe foram feitas e os compromissos e protecção assumidos. Curiosamente a
própria União Nacional [vide Marchi, ibidem, p. 195] “toma inteira
responsabilidade pelas despesas de composição e impressão”, nesse período. Não
impede que o próprio Salazar considere [ibidem] que apesar de ser um periódico
situacionista, pelos ataques “intoleráveis aos ministros do Governo”, se
justificava uma “acção de vigilância da ortodoxia da Revolução”.
Diga-se que em Janeiro de 1965 se constitui [cf. Marchi, ibidem]
a "Editorial Agora SARL", com os seguintes sócios: José O’Neill, Manuel Fonseca,
Rui Tato Marinho, Manuel Saldida, Camilo da Trindade, José Pinto de Aguiar,
Montenegro Carneiro, António Celorico Drago, Renato Assis Borges. Colaboram
então, Galamba de Oliveira, José Pinto de Aguiar, Cabral Leitão, Eduardo
Rodrigues Caldeira.
Face a sucessivas suspensões, José O’Neill abandona o semanário
a 28 de Maio de 1967 e a direcção do “AGORA” é assumida por Goulart Nogueira
[26 de Agosto de 1967], e conta desde logo com “novas ajudas por parte do
regime”.
Com
a direcção de Goulart Nogueira e a chegada do grupo de jovens neofascistas
oriundo da revista “Tempo Presente” (Maio de 1959- Julho de 1961) – que até
então os nacionalistas conservadores do “AGORA” enjeitavam – o periódico toma uma
feição declaradamente neofascista e de intervenção doutrinária. Pontifica na
afirmação e propaganda do neofascismo, o pensador António José de Brito, que
marca toda uma geração de nacionalistas radicais. A homenagem a José António
Primo de Rivera, o elogia da política da Rodésia [a revista promove a comissão
organizadora do jantar de homenagem à independência rodesiana, que era formada
por: António José de Brito, Camilo da Trindade, Caetano de Melo Beirão, José
Maria Alves, Ruy Alvim, Luís Fernandes, Jaime Nogueira Pinto e José Rebordão
Esteves], textos sobre a “lealdade e firmeza” [como o que foi feito a Rodolfo
Hess, por António José de Brito] e, principalmente, o Suplemento panegírico do
Fascismo, no seu nº 329 [4 de Novembro de 1967], marcam a fase neofascista do semanário
e o apelo “à área nacional-revolucionária” e de oposição ao governo do Estado
Novo.
[Alguma]
Colaboração/textos: A. de Magalhães Vieira, Alexandre Vasconcelos, Alves
Coelho, Américo Urbano, Ângelo César, António José de Brito [ideólogo e animador
da corrente neofascista portuguesa; vinha da direcção do periódico fascista de
Coimbra, “Mensagem” – liderada por Caetano de Melo Beirão -, colaborando depois
na revista “Tempo Presente”, revista que foi dirigida por Fernando Guedes e sob
impulso de Moreira Baptista, do SNI], António de Navarro, António Soares, Aureliano
Dias Gonçalves, Aurélio de Castro, Azinhal Abelho, Bento Leite de Castro, Braamcamp
Sobral, Cardoso da Cunha, Carlos Castelo-Branco, Casal Soeiro, César de
Oliveira, Charles Maurras, Cunha e Costa, Duarte Caravellas, Eduíno de Jesus, Elmano
Alves, Ernesto de Moura Coutinho, Ester de Lemos, Eunice Munoz, Fernando
Baptista, Filipe Manuel de Morais, Francisco Bento, Francisco Ribeiro Soares, François
d’Orcival, Guilherme de Barros, Goulart Nogueira [poeta e escritor, de
tendência vanguardista, foi um dos mais curiosos intelectuais do nacionalismo-fascista,
tendo vindo da revista “Tempo Presente”], Jaime Nogueira Pinto [na juventude,
milita no “Movimento Jovem Portugal” – iniciativa do neofascista Zarco Moniz
Ferreira e Vasco Lourinho -, no Porto. Refira-se que a “Jovem Portugal” mantém
um espaço reservado na revista “AGORA”, com o titulo “Vanguarda”, com fortes
ligações aos graduados da “Mocidade Portuguesa”. A partir de 1968
autonomiza-se, muda para “Movimento Vanguardista”, publicando uma publicação,
“Vanguarda”, em Março de 1969, que se reclama de “neofascista”], João Afonso,
João de Albuquerque, João Ameal, João de Castro Osório, João Mendonça e Sylva, Joaquim
Toscano Sampaio, Jorge Brum do Canto, José de Aguiar, José Alves, José António
Ribeiro, José Augusto de Almeida, José Cavique dos Santos, José Corte-Real, José
Furtado Leite, José Maria Gonçalves Dias, José Manuel de Lemos, José O’Neill
[germanófilo, tinha antes dirigido o semanário “A Nação”, onde pontificava o então
fascista Alfredo Pimenta; O’Neill, curiosamente, é visado pela censura no
“Agora”, por ter acusado no jornal os quadros do governo de traição a Salazar;
pouco depois abandona o semanário; refira-se que foi preso, quando
dirigia o “Tempo Presente” por “ter desviado fundos da caixa de Previdência do
pessoal da Indústria Corticeira, onde trabalhava, para cobrir dívidas de jogo –
cf. Riccardo Marchi, ibidem”], José Valle de Figueiredo [que integrava o
“Movimento Jovem Portugal”, de cariz neofascista, sendo colaborador da sua
revista, “Ofensiva”], Júlio Evola, Júlio Fraga, Lencastre da Veiga, Luís
Alberto de Oliveira, Luís de Andrade Pina, Luís de Azevedo, L. F. Oliveira e
Castro, Luís Fernandes, Luís Trindade [cartoonista], Manuel Anselmo, Manuel
Cabral Leitão, Manuel Corrêa Botelho, Manuel Corrêa de Oliveira, Manuel Lamas, Manuel
Saldida, Marcello Branca, Maria Celeste Sepulveda, Miguel Freitas da Costa, Miguel
de Seabra, Mota de Vasconcelos, Natércia Freire, Nuno de Miranda, Nuno de
Valverde, Otto Skorzeny, Pedro de Mendonça, Pedro Soares Martinez, Pinharanda
Gomes, Robert Brasillach, Rodrigo Emílio, Rui Romano, Ruy Alvim, Sárrea de
Barros, Teresa Vasconcelos, Tiago de Menezes, Tomé Vieira, Vasco de Jesus.
J.M.M.
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