Existe
uma curiosa carta de Nobre França a Friedrich Engels, datada de 24 de Junho de
1872 [Cf. Carlos da Fonseca, Integração e
Ruptura Operária. Capitalismo, Associacionismo, Socialismo (1836-1875),
Editorial Estampa, Lisboa, 1975, que publica um conjunto interessante de
documentação operária desse período] em que ainda era estudante de medicina e o
autor da carta o reconhece como tendo sido o autor de uma folheto que circulava
anónimo, sobre a Comuna de Paris, que se publicou em Lisboa, intitulado A Comuna de Paris vista por um Verdadeiro
Liberal. Além disso atribui-lhe a colaboração regular no jornal Pensamento Social, com vários artigos
publicados ao longo da existência da publicação.
A saída
de Eduardo Maia do republicanismo federal para o anarquismo terá acontecido
devido às influências que sobre ele exerceu Tomás Gonzalez Morago, que
juntamente com Francisco Mora e Anselmo Lorenzo estiveram em Portugal em 1871,
numa missão para criar a secção portuguesa da Associação Internacional dos
Trabalhadores. Esta acção foi importante, porque se estima que um ano depois
desta viagem existiriam, em Portugal, vários milhares de aderentes, contando a
região de Lisboa com 10 000 aderentes e 8 000 no Porto. Além da influência de
Morago também se refere a leitura dos jornais anti-autoritários acabaram por
influenciar a sua aberta adesão ao anarquismo sobretudo na sua linha bakunineana,
tornando-se no fundador da corrente anarquista pós-proudhoniana em Portugal.
Anos mais
tarde, Silva Pinto recorda-o num pequeno parágrafo, onde afirma: “Foi meu
companheiro no período do jacobinismo. Depois perdi-o de vista e de notícia,
até vir encontrá-lo, muito mais tarde, rico, médico e chamando nomes feios e
deprimentes a Sousa Martins. Toda a gente se riu; eu não tive tempo para
chorar.” [Cf. Silva Pinto, Pela Vida Fora: 1870-1900, Livraria Editora
Guimarães, Libânio & Cª, Lisboa, 1900, p. 125].
Em 1876 é
um dos responsáveis pelo discurso feito à beira da sepultura de José Fontana
aquando da sua morte [cf. João Medina, As Conferências do Casino e o Socialismo
em Portugal, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1984, p. 251-255].
A partir
de 1879, Eduardo Maia adere ao anarco-comunismo de Kropotkine e segue a linha
do jornal francês Le Revolté.
Em Abril
de 1887 integra o Grupo Comunista-Anarquista de Lisboa, que publica o jornal Revolução
Social e onde se destacaram personalidades como Hermenegildo António Martins, João
António Cardoso, José Bacelar e Tiago Ferreira.
O Dr. Eduardo Maia escreveu, em 1888, um
opúsculo de 32 páginas intitulado "Autoridade e Anarquia. Carta ao Exmo
Sr. Conselheiro M. Pinheiro Chagas", rechaçando a impostura que se
escondia por trás do episódio: “Agonia da monarquia” de que era porta-voz no
parlamento e na imprensa o conhecido escritor e jornalista Manuel Pinheiro
Chagas. Este tinha sido agredido pelo operário Manuel Joaquim Pinto, devido aos
insultos que tinha dirigido a Louise Michel, a heroína da Comuna de Paris.
Em 1890
foi candidato a deputado pelo partido republicano pelo círculo eleitoral de
Setúbal. Deve assinalar-se que os
resultados eleitorais obtidos foram surpreendentes: pela primeira vez, o
candidato republicano conquistou uma expressiva votação no círculo 80. Analisando
com maior detalhe verifica-se que o Dr. Eduardo Maia ganhou na cidade de
Setúbal, com 956 votos, contra 502 do seu adversário. Mesmo no concelho de
Setúbal, o Dr. Eduardo Maia, com 1.077 votos, aproximou-se bastante do
engenheiro Augusto Carlos Sousa Lobo Poppe (1850-1892), candidato do Partido
Regenerador, que obteve 1.325. Por seu lado, no concelho de Alcácer do Sal, concelho
que também integrava o círculo eleitoral de Setúbal, por acção do caciquismo
local, em particular, devido ao papel importante de José Maria dos Santos, o
candidato do Partido Regenerador alcançou uma expressiva vitória no concelho
com 1266 votos, contra 52 no candidato republicano.
Em 1892 acabou por não se apresentar como
candidato a deputado por Setúbal, por não estarem reunidas as condições
necessárias para se conseguir a eleição de um candidato republicano, mas
indicou aos seus votantes que deveriam votar em João Pinheiro Chagas. Nestas
funções políticas, desenvolveu comícios e reuniões populares, destacando-se a
sua facilidade de contacto com os mais pobres, ajudando os operários com mais
parcos poderes sem exigir qualquer pagamento.
Foi
também um dos sócios envolvidos por Sebastião de Magalhães Lima na criação do
jornal Vanguarda em 1891,
contribuindo com o seu poder económico para consolidar a empresa jornalística
ligada aos republicanos.
Em 1894
pertencia ao grupo Revolução Social, de que era animador juntamente com J. M.
Gonçalves Viana.
No dia 27
de Janeiro de 1897, foi acometido de uma congestão cerebral, que acabou por o
levar ao falecimento em 3 de Fevereiro de 1897, com 52 anos. No seu funeral,
realizado civilmente, para o cemitério do Alto de S. João, discursaram junto ao
féretro Manuel José Martins Contreiras, Gomes da Silva, Faustino da Fonseca,
Martins Vagueiro, Agostinho da Silva, António Maria de Miranda e Brito, e Augusto
de Figueiredo.
Foi seu
testamenteiro Augusto César Correia.
Publica:
- A
Comuna por um verdadeiro liberal: A origem da 1ª Internacional, Lisboa, Typ. Do
Futuro, 1871;
- A
Internacional, Sua História, Sua Organização e seus Fins, Lisboa, 1873;
- Da
Propriedade (Conferência), Lisboa, 1873;
- A Autoridade e a Anarquia. Carta ao Exmo Sr.
Conselheiro M. Pinheiro Chagas, Lisboa, 1888 (2ª ed., Porto, Tip. Insular,
1907)
Colabora
nas seguintes publicações periódicas:
- Noventa
e Três
- Pátria
- Partido
do Povo
- O
Pensamento Social
- O
Protesto
- Povo
Republicano
- O Rebate
- O
Revoltado, Lisboa, 1897;
- O Século:
-
Sufrágio Universal
-
Transmontano
-
Vanguarda
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA:
Diário de
Lisboa, 04-02-1897, Ano 26, nº 8578, p. 1, col. 4;
Vanguarda,
Lisboa, 04-02-1897, Ano II (VII), nº 84 (2029), p. 1, col. 6; p. 2, col. 1;
Voz
Pública, Porto, 04-02-1897, Ano 8, nº 2101,
p. 2, col. 7;
FONSECA,
Carlos da, A Origem da 1ª Internacional em Lisboa, Editorial Estampa, 1973;
FONSECA,
Carlos da, Integração e Ruptura Operária. Capitalismo, Associativismo e
Socialismo (1836-1875), Editorial Estampa, Lisboa, 1975;
MEDINA, João,
As Conferências do Casino e o Socialismo em Portugal, Publicações Dom Quixote,
Lisboa, 1984;
PINTO, Silva, Pela Vida Fora:
1870-1900, Livraria Editora Guimarães, Libânio & Cª, Lisboa, 1900.
A.A.B.M.
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