Uma Flor na Campa de Raul Proença, de José Rodrigues Miguéis, BNP, 1985 [trata-se da reunião de textos publicados com o mesmo título no jornal “Diário Popular” nos dias 12, 19, 26 de Abril e 3 de Maio de 1979]
“Por essa época (1925-1926), do fundo da minha insignificância de novato, ousei um dia perguntar-lhe [Raul Proença], sem o reforço de elogios, se a polémica – o ‘cacete florido’ na sua expressão – não prejudicaria a obra do escritor de ideias, do organizador sem par que ele era, apto a formar e inspirar uma plêiade de eruditos e investigadores excepcionais. Sem deixar de admirar o combatente, era pela sua obra criadora que eu sobretudo receava, embora sem o confessar. Com o rosto aceso de fervor e a veemência concentrada que lhe era habitual, mas temperada pela brandura (pois nada de magister, do pedante, do bonzo ou padre-mestre havia neste chefe exigente e severo), Proença - lembro literalmente as suas palavras – respondeu: ’Não só não julgo que a Polémica seja o aspecto menos válido da minha obra como até talvez a considere o melhor’. Diante disto curvei-me
(Três anos depois eu poria o mesmo problema a António Sérgio, exilado em Paris: Não seria a Polémica o parasita da sua criação pessoal, de que tantos esperávamos? ‘Para escrever – tornou-se ele exaltado – eu preciso de ter o antagonista aqui na minha frente, como este tinteiro!’ E o tinteiro de estanho, uma antiguidade, espirrou um resto de tinta e algumas moscas mortas a razoável altura)”
in “Uma Flor na Campa de Raul Proença”
J.M.M.
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