“A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
Fita, com olhar sphyingico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal”
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
Fita, com olhar sphyingico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal”
[Fernando Pessoa, O Dos Castellos]
“… Na verdade, a reacção,
política e moral, que vem seguindo seus tramites neste país parece que não está
cerce ainda do término do impulso de seu movimento primário; antes a todos se
prefigura que ela continuará a desenrolar-se por âmbito ainda longo também. De
dia para dia, os governantes vão desgastando, com efeito, em todas as regalias
liberais.
O que há de mais desanimador
neste painel de uma retrogação constante é a indiferença com que uma população
inerte assiste a semelhante progressiva usurpação dos seus direitos. Se o
movimento descensional não encontrasse os embargos de causas exteriores,
poderíamos, mesmo, supor que na ordem política se regressaria ao puro governo
absoluto e na ordem moral á extrema intolerância religiosa. Não seria, pois,
inteiramente abusiva a hipóteses de que em Portugal se reintegrassem as
instituições de períodos históricos ultrapassados e supostos, logicamente,
extintos. Em Lisboa voltar-se-ia a acender as fogueiras dos autos-de-fé da
Inquisição; e, no Porto, volver-se-ia a montar as forcas das execuções da
Alçada. Se hoje há corregedores, breve haveria também sargentos da ordenança; e
uma turba embrutecida gritaria novamente: ‘Viva o senhor capitão-mor, que já
nos pode mandar enforcar!’
[Sampaio Bruno, in O
Encoberto]
"O novo mundo é todo uma alma
nova,
Um homem novo, um Deus
desconhecido!
Tronos, tiaras, cetros,
potestade,
Que pesam na balança da
Verdade?
É a Revolução! a mão que
parte
Coroas e tiaras!
É a Luz! a Razão, é a
Justiça!
É o olho da Verdade!"
[Antero de Quental]
J.M.M.
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