Alberto
[António] Sampaio, filho de Felicidade Maria dos Anjos (solteira), nasceu a 20 de Agosto de 1874, em Viseu.
Foi
tipógrafo de profissão [trabalhou na Tipografia Central, Escadinhas da Sé,
Viseu], sindicalista fervoroso, excelente orador e um “impulsionador dos ideais
socialistas na cidade de Viseu”. Tinha um “olhar perfulgentissimo, tez pálida,
delgado, flexível, vidente e sonhador, passou a vida escrevendo e prégando ás
multidões, o amor pela humanidade, e sonhando levantar das ruínas desta
sociedade egoísta, uma nova sociedade de paz e de amor, de igualdade e de
fraternidade” [in “A Voz da Oficina”, nº 900, 29 de Março de 1914 – aliás,
“Comemorando a Morte de Alberto Sampaio”, parte III, texto de Humberto Liz, in
Jornal do Centro, 27 de Abril de 2007]
Alberto
[António] Sampaio foi maçon, com o n.s. de “Fontana”, tendo pertencido aos
quadros da Loja “Viriato” [loja do Rito Francês, instalada em Viseu em 1900,
nascida da conversão do triângulo nº18, e que abate colunas em 1913 – cf. A.H.
de Oliveira Marques].
Como
jornalista, fundou e dirigiu o semanário apoiante da causa republicana e
socialista, “A Voz da Oficina”, “Órgão do Operariado Visiense”:
[Ano
I, nº1 (10 de Junho de 1898) ao Ano XX, nº1220 (24 de Abril de 1921) - Proprietário:
Bernardo Ribeiro de Sousa; Editor: Manuel Maria Leitão; Director: Alberto Sampaio
(depois Bernardo Ribeiro de Sousa); Typ. Central, Viseu (depois Typ. Popular);
saiu, ainda, um número único, no 1º de Maio de 1925, sob publicação do Grémio
Alberto Sampaio]; mais tarde [1904] passa a denominar-se “Jornal Socialista”].
Na
qualidade de director e jornalista d’A Voz da Oficina, foi por duas vezes
processado e condenado por “crime de abuso de liberdade de imprensa”.
Colaborou, ainda, no periódico “Voz da Verdade” [?].
Alberto
Sampaio, escreveu uma peça de teatro, “O Libreto do Operário”, representada no 1º
de Maio de 1903, no Teatro Viriato. Foi um ardente impulsionador da fundação da
associação “Instituto Liberal de Instrução e Recreio” [com sede na Rua Direita,
nº58, Viseu], “agrupamento de fortes simpatias pelo ideário republicano”.
[O
“Instituto Liberal de Instrução e Recreio”, 1904-1926, foi uma das associação
mais antigas da cidade de Viseu; dela fez parte dirigentes, como o advogado, deputado
constituinte, primeiro governador civil de Viseu e ministro da Marinha no
governo de António Granjo, o republicano Ricardo Pais Gomes; Bernardo Ribeiro
de Sousa, farmacêutico e governador civil do distrito de Viseu; assim como outros
associados, caso do professor e poeta Carlos de Lemos e sua mulher, pioneira da
emancipação feminina, Beatriz Paes Pinheiro de Lemos (1872-1922), Alberto da
Silva Basto, António da Silva Sequeira, etc.; mais tarde, o “Instituto” deu
origem ao Centro Republicano de Viseu (que foi inaugurado a 30 de Janeiro de 1905,
por Bernardino Machado), ou também chamado Centro Democrático, mais tarde encerrado
pela ditadura em 1936. Refira-se que o Instituto patrocinou uma escola pelo
método João de Deus, chamada Escola Alves Martins, que foi fechada pela “administração
monárquica” em 1908, tendo sido reaberta, mais tarde, em 1910],
Alberto
[António] Sampaio não assistiu, porém, à sua inauguração [8 de Dezembro de 1904, com a presença de Heliodoro Salgado], pela sua
morte prematura, por tuberculose, na manhã de 29 de Março de 1904.
No
seu funeral [Humberto Liz, in Jornal do Centro, ibidem] participaram, com os seus estandartes e paramentos, várias
associações operárias [Construtores Civis, Manufactores de Calçado, Empregados
do Comércio], o Centro Democrático de Viseu, o governador civil, muita gente da
classe popular, que num cortejo cívico imponente [duas mil pessoas]
homenagearam o estimado e combativo “lutador pela causa dos oprimidos” [curiosamente,
diga-se, romagem que ainda hoje persiste, na tradição republicana de Viseu, na justa
homenagem a Alberto Sampaio]. Usaram da palavra, Augusto da Fonseca, em nome
dos Empregados do Comércio de Viseu [Associação fundada em 1903], José Gomes
Júnior, “antigo e dedicado companheiro” [que teceu “comovidas palavras da mais
profunda saudade e lembrando a guerra sem trégoas com que a reacção clerical e
jesuitica pretendera esmagar o grande apostolo das reivindicações operarias”],
o dr. Pereira Victorino, o dr. João Costa, e por último, o dr. José Augusto
Pereira, “que historia em belas palavras a missão nobilissima desempenhada, em
vida, pelo saudoso morto, e verbera acre e justamente, num repto brilhante, o
odioso e infame trabalho dos elementos reaccionários que nem um só instante
deixaram de perseguir Alberto Sampaio, reconhecendo nele um dos seus mais
valentes e audazes adversários” – cf. In “O Povo Beirão”, aliás via
“Comemorando a Morte de Alberto Sampaio”, parte IV, texto de Humberto Liz, in
Jornal do Centro, 25 de Maio de 2007]
A
Câmara Municipal de Viseu [em Dezembro de 1910], deu o seu nome à rua nº1 do
Bairro de Massorim e em 1914 foi-lhe prestada nova homenagem, com a “colocação
da pedra tumular, onde foi depois assente o monumento alegórico”, este
inaugurado no dia 1 de Maio de 1924.Por último, e ainda em sua memória, foi atribuído o seu nome a um Centro - o Grémio Alberto Sampaio -, por volta de 1915 [ou 1917?] e que se manteve em actividade até 1936, ao qual, segundo informação da PIDE (1936), “ocorrem caixeiros,estudantes e outros elementos comunistas e afins”. O Grémio Alberto Sampaio foi, assim, encerrado pela ditadura, pelo despacho do Ministro do Interior, de 16 de Novembro de 1936.
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário