segunda-feira, 21 de julho de 2014

A TOLERÂNCIA – RAUL PROENÇA


Em Portugal não há tolerância, nem governamental nem pessoal. Num certo sentido, Portugal é uma nação de correligionários

… a tolerância (…) é a contra-partida da liberdade de pensamento. É reconhecermos nos outros o que nós queremos e exigimos para nós. É aceitar nos diferentes um igual direito à vida. Se A não tolera as opiniões de B, é porque não reconhece em B a liberdade de pensamento; isto é: A é um reacionário. Direi: o direito de pensar livremente é a liberdade vista por dentro; a tolerância a liberdade vista por fora. Na essência, uma única e uma mesma coisa.

Quem é contra a tolerância é contra a liberdade. E quem me pregar a liberdade, contanto que essa liberdade seja a de defender as sua opiniões e de não tolerar as dos outros, pode ir passear: a liberdade de alguns é a escravidão do resto, e o mais que se pode dizer de s. ex.ª é que é um belo estofo de ditador …

Raul Proença, "Opiniões de Depoimentos – A Tolerância", in “Alma Nacional”, nº 12, 28 de Abril de 1910, p. 189

FOTO: Raul Proença, em 1939, “isto é, após a provação do exílio e da doença”, in “O Pensamento especulativo e agente de Raul Proença”, de Sant’Anna Dionísio, Seara Nova, 1949

J.M.M.

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