quarta-feira, 10 de setembro de 2014

LEÃO TOLSTOI – GUERRA E PAZ


Leão Tolstoi, “Guerra e Paz” [trad. José Marinho; capa de Fred Kradolfer], Lisboa, Editorial Inquérito, 1942-43, III vols  

"[...] Não é um romance, e ainda menos um poema, ou uma crónica histórica. “Guerra e Paz” é o que o autor quis e pôde exprimir na forma que lhe deu. Uma tal declaração de indiferença pelas formas convencionais da obra artística em prosa poderia parecer orgulho se não fôsse intencional e se não houvesse muitos exemplos disso. A história da literatura russa, desde Puskine, não só apresenta muitos casos de um tal afastamento das formas europeias, mas até nos fornece um único exemplo do contrário. Desde as “Almas Mortas” de Gogol, até à “Casa dos Mortos” de Dostoiewsky, no novo período da literatura russa não há uma única obra artística que se tenha ajustado inteiramente à forma do romance, do poema ou da novela. [...]" [José Marinho]

FOTO via FRENESI

“- A sabedoria, a verdade suprema é como um licor muito puro que desejamos absorver. Como posso ajuizar da sua pureza, se o deito num copo sujo? Só depois de purificar o mais íntimo do meu ser poderei beber desse líquido precioso num grau de pureza relativa.

Sim, sim, é isso mesmo! - exclamou Pedro, reconfortado.

- A suprema sabedoria não se baseia nem na razão, nem nas ciências profanas, como a física, a química, a história e outros ramos do conhecimento humano. A sabedoria suprema só conhece uma ciência, a ciência do Todo, a ciência que explica toda a criação e o lugar que o homem ocupa nela. Para compreendermos esta ciência é indispensável purificar e renovar o nosso íntimo; antes de conhecer, é preciso acreditar e aperfeiçoarmo-nos. É para conseguirmos alcançar essas finalidades que foram depositadas na nossa alma essa luz divina a que chamamos consciência.

- Sim, sim - aprovou Pedro.

- Contempla o teu ser interior com os olhos da tua alma e interroga-te: sentes-te verdadeiramente contente contigo próprio? Até onde chegaste com o simples auxílio da tua razão? … O senhor é jovem, rico, inteligente, instruído. Que destino deu o senhor a todos esses bens que lhe couberam em sorte? Está satisfeito consigo próprio e com a espécie de vida que escolheu?”

Leão Tolstoi, in “Guerra e Paz”, II Parte, Cap II

J.M.M.

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