quarta-feira, 25 de outubro de 2017

[COIMBRA] SESSÃO EVOCATIVA DOS 150 ANOS DA PUBLICAÇÃO DO I VOLUME DE “O CAPITAL” DE KARL MARX


 
 
CONFERÊNCIA: Sessão Evocativa dos 150 Anos da Publicação do I Volume de "O Capital" de Karl Marx

ORADOR: Doutor António Avelãs Nunes
DIA: 27 de Outubro de 2017 (21,00 horas);
LOCAL: Casa Municipal da Cultura [Rua Pedro Monteiro], Coimbra;
 
ORGANIZAÇÃO: Ateneu de Coimbra;

Karl Marx publica o volume I de “O Capital”, em Hamburgo, em 1867. Obra importante e estimada - que continua o seu trabalho anterior de crítica da Economia Política (saída em 1859) - publicada em III volumes, ainda hoje é bibliografia incontornável para uma análise do capitalismo e um legado de referência para o pensamento operário e socialista. A influência de Marx no pensamento contemporâneo é enorme, contribuindo para um intenso debate (ainda hoje conceptualmente presente) que vai da Economia (Política) às Ciências Sociais. O que é (ou foi) considerado como "marxismo" [curiosamente e segundo Engels, numa carta escrita a Conrad Schmidt, Marx teria dito: “Tudo o que sei é que eu não sou um marxista”; na verdade o “marxismo”, na sua prática de luta de classes, surge-nos bem antes da sua recepção teórica, que é quase sempre desconhecida] suporta ao longo do tempo reinterpretações sucessivas, controvérsias insanáveis, dando-lhe no entanto, pelas características ideológicas da sua metodologia de análise filosófica, económica e social, um significado ideológico e político distinto e, no tempo presente, uma continuidade, duradoura e intensa, na vida política e partidária em diferentes países do mundo.  



Com a morte de Karl Marx (1883), o seu amigo Friedrich Engels edita, a partir dos seus manuscritos (muitos ainda hoje inéditos), os volumes seguintes de ”O Capital” (o volume II, em 1885 e o III em 1894), não sem alguma polémica. De notar que a 1ª tradução d’O Capital, em português, foi feita a partir da sua tradução francesa, (Agosto de 1883, em França), saindo das Oficinas da Imprensa Lucas, em 1912, e onde surge, curiosamente, o nome do autor, como Carlos Marx.

Abra-se um parêntesis para dizer que os acontecimentos de França de 1848 [Karl Marx, sobre este particular assunto publica “As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850“] e que varreram toda a Europa, chegaram a Portugal de forma ainda incipiente, a que não era estranho o relativo atraso do desenvolvimento capitalista em Portugal [por exemplo, a greve dos metalúrgicos de Lisboa, em 1849, é a primeira greve no sector industrial; e até então só se tinha feito sentir os protestos dos operários dos têxteis da Covilhã, em 1846; no entanto, é bom de reter, a importância que teve o movimento social e político, fortemente contestatário, da “Janeirinha” (1868), contra o Fontismo (e que levou à queda do governo), que de algum modo revelava já mudanças significativas da estrutura produtiva e, principalmente, é de destacar o conturbado período de 1871 em diante, em que a questão social se torna objecto económico e socialmente analisável].

Será interessante salientar a importância nessa geração, para a difusão das ideias libertárias ou revolucionárias, o trabalho proporcionado pela imprensa, com foi o caso do aparecimento de alguns periódicos operários combativos [principalmente com “O Eco dos Operários” (1850; fundado por Lopes de Mendonça e Sousa Brandão, Henriques Nogueira Vieira da Silva Júnior e J. Maria Chaves); refira-se, porém, que antes disso já tinha saído do prelo jornais de classe, como “O Cortador”, de 1837; a “Alvorada”, jornal republicano de 1848, não propriamente operário; “Eco Metalúrgico”, em 1850]. Curiosamente, o mesmo é possível de verificar em artigos de revistas académicas, como, por exemplo, as polémicas sobre a “questão social” traçadas na revista do Instituto de Coimbra (1853). Por outro lado, não terá sido indiferente a fundação da Associação Operária Mutualista Portuguesa (1839), o aparecimento do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosos (1852), as “Conferências Democrática do Casino” (1871), o surgimento da associação de trabalhadores “Fraternidade Operária” (1872), a fundação do Partido Socialista (1875; com José Fontana, Azedo Gneco, José Correia Nobre França e José Tedeschi) ou a criação do núcleo português da AIT, que contribuem decisivamente para o impulso do associativismo dos trabalhadores e para uma curial reflexão nacional sobre a “questão operária” e a “miséria” do proletariado.
 
 

Refira-se que a produção teórica sobre o “miserabilismo das classes trabalhadoras” e a sua emancipação eram (então) sufragados pelo movimento proudhoniano, anarquista e libertário e pelo curioso sindicalismo revolucionário [sobre o assunto ver, Alfredo Margarido, “A Introdução do Marxismo em Portugal 1850-1930"; ver, ainda, António Pedro Pita, "A recepção do marxismo pelos intelectuais portugueses 1930-1941"]. Na verdade a influência do pensamento de Proudhon na história das ideias em Portugal, nessa época, é incontornável.

De facto, a recepção ao pensamento de Proudhon [principalmente a partir da sua obra, “O Que é a Propriedade”, de 1840, a que se seguiu o cintilante “Sistema de contradições econômicas ou Filosofia da Miséria”, 1846, que, aliás, sofre uma violenta crítica de Karl Marx, em a “Miséria da Filosofia”, 1847; mas também, foi relevante, pela controvérsia anticlerical que proporcionou, o seu livro, datado de 1858, “A justiça na Revolução e na Igreja”] abre um curioso debate em Portugal, entre figuras de grande valia, como Pedro Amorim Viana (1882-1901), José Júlio de Oliveira Pinto Moreira (um inconfessável adepto de Bastiat e dos poucos que leu Marx), João da Silva Ferrão de Carvalho Mártens, J. J. Rodrigues de Freitas, José Frederico Laranjo, Batalha Reis, Sampaio Bruno, Basílio Teles, Sebastião Magalhães Lima, Silva Mendes, entre outros, de boa memória e interessante de acompanhar.   

 J.M.M.

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