CONFERÊNCIA: Sessão Evocativa dos 150 Anos da Publicação do I Volume de "O Capital" de Karl Marx
ORADOR: Doutor António Avelãs Nunes
DIA: 27 de Outubro de 2017 (21,00 horas);LOCAL: Casa Municipal da Cultura [Rua Pedro Monteiro], Coimbra;
ORGANIZAÇÃO: Ateneu de Coimbra;
► Karl Marx publica o
volume I de “O Capital”, em Hamburgo, em 1867. Obra importante e estimada - que
continua o seu trabalho anterior de crítica da Economia Política (saída em
1859) - publicada em III volumes, ainda hoje é bibliografia incontornável para
uma análise do capitalismo e um legado de referência para o pensamento operário
e socialista. A influência de Marx no pensamento contemporâneo é enorme, contribuindo
para um intenso debate (ainda hoje conceptualmente presente) que vai da
Economia (Política) às Ciências Sociais. O que é (ou foi) considerado como
"marxismo" [curiosamente e segundo Engels, numa carta escrita a Conrad
Schmidt, Marx teria dito: “Tudo o que sei
é que eu não sou um marxista”; na verdade o “marxismo”, na sua prática de
luta de classes, surge-nos bem antes da sua recepção teórica, que é quase sempre
desconhecida] suporta ao longo do tempo reinterpretações sucessivas, controvérsias
insanáveis, dando-lhe no entanto, pelas características ideológicas da sua
metodologia de análise filosófica, económica e social, um significado ideológico
e político distinto e, no tempo presente, uma continuidade, duradoura e intensa,
na vida política e partidária em diferentes países do mundo.
Com a morte de Karl
Marx (1883), o seu amigo Friedrich Engels edita, a partir dos seus manuscritos
(muitos ainda hoje inéditos), os volumes seguintes de ”O Capital” (o volume II,
em 1885 e o III em 1894), não sem alguma polémica. De notar que a 1ª tradução d’O
Capital, em português, foi feita a partir da sua tradução francesa, (Agosto de
1883, em França), saindo das Oficinas da Imprensa Lucas, em 1912, e onde surge,
curiosamente, o nome do autor, como Carlos Marx.
Abra-se um parêntesis
para dizer que os acontecimentos de França de 1848 [Karl Marx, sobre este
particular assunto publica “As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850“] e que
varreram toda a Europa, chegaram a Portugal de forma ainda incipiente, a que
não era estranho o relativo atraso do desenvolvimento capitalista em Portugal [por
exemplo, a greve dos metalúrgicos de Lisboa, em 1849, é a primeira greve no
sector industrial; e até então só se tinha feito sentir os protestos dos
operários dos têxteis da Covilhã, em 1846; no entanto, é bom de reter, a
importância que teve o movimento social e político, fortemente contestatário,
da “Janeirinha” (1868), contra o Fontismo (e que levou à queda do governo), que
de algum modo revelava já mudanças significativas da estrutura produtiva e,
principalmente, é de destacar o conturbado período de 1871 em diante, em que a
questão social se torna objecto económico e socialmente analisável].
Será interessante
salientar a importância nessa geração, para a difusão das ideias libertárias ou
revolucionárias, o trabalho proporcionado pela imprensa, com foi o caso do aparecimento
de alguns periódicos operários combativos [principalmente com “O Eco dos
Operários” (1850; fundado por Lopes de Mendonça e Sousa Brandão, Henriques
Nogueira Vieira da Silva Júnior e J. Maria Chaves); refira-se, porém, que antes
disso já tinha saído do prelo jornais de classe, como “O Cortador”, de 1837; a “Alvorada”,
jornal republicano de 1848, não propriamente operário; “Eco Metalúrgico”, em
1850]. Curiosamente, o mesmo é possível de verificar em artigos de revistas
académicas, como, por exemplo, as polémicas sobre a “questão social” traçadas na
revista do Instituto de Coimbra (1853). Por outro lado, não terá sido
indiferente a fundação da Associação Operária Mutualista Portuguesa (1839), o
aparecimento do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosos (1852),
as “Conferências Democrática do Casino” (1871), o surgimento da associação de
trabalhadores “Fraternidade Operária” (1872), a fundação do Partido Socialista (1875;
com José Fontana, Azedo Gneco,
José Correia Nobre França e José Tedeschi)
ou a criação do núcleo português da AIT, que contribuem decisivamente para o
impulso do associativismo dos trabalhadores e para uma curial reflexão nacional
sobre a “questão operária” e a “miséria” do proletariado.
Refira-se que a
produção teórica sobre o “miserabilismo das classes trabalhadoras” e a sua
emancipação eram (então) sufragados pelo movimento proudhoniano, anarquista e
libertário e pelo curioso sindicalismo revolucionário [sobre o assunto ver,
Alfredo Margarido, “A Introdução do Marxismo em Portugal 1850-1930"; ver, ainda,
António Pedro Pita, "A recepção do marxismo pelos intelectuais portugueses
1930-1941"]. Na verdade a influência do pensamento de Proudhon na história das
ideias em Portugal, nessa época, é incontornável.
De facto, a
recepção ao pensamento de Proudhon [principalmente a partir da sua obra, “O Que
é a Propriedade”, de 1840, a que se seguiu o cintilante “Sistema de contradições
econômicas ou Filosofia da Miséria”, 1846, que, aliás, sofre uma violenta
crítica de Karl Marx, em a “Miséria da Filosofia”, 1847; mas também, foi
relevante, pela controvérsia anticlerical que proporcionou, o seu livro, datado
de 1858, “A justiça na Revolução e na Igreja”] abre um curioso debate em
Portugal, entre figuras de grande valia, como Pedro Amorim Viana (1882-1901), José
Júlio de Oliveira Pinto Moreira (um inconfessável adepto de Bastiat e dos
poucos que leu Marx), João da Silva Ferrão de Carvalho Mártens, J. J. Rodrigues
de Freitas, José Frederico Laranjo, Batalha Reis, Sampaio Bruno, Basílio Teles,
Sebastião Magalhães Lima, Silva Mendes, entre outros, de boa memória e
interessante de acompanhar.
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