LIVRO:
Gomes
Freire de Andrade. O Mártir do Mito;
AUTOR:
Fernando
Marques da Costa;
EDIÇÃO: IPEM [Instituto de Estudos
Maçónicos], Outubro 2017, p. 140.
“Herói
para uns, traidor para outros, as opções interpretativas variam desde 1818. Em
torno destas duas «bandeiras» alinham-se os autores que tratam da sua vida e
obra. São dois grandes «exércitos», que a bibliografia sobre a conspiração de
1817 e sobre Gomes Freire de Andrade é vasta, ainda que na generalidade pouco
isenta.
Será que se justifica tamanha polémica? A sua figura nunca foi
consensual, nem em vida, nem na morte. Olhando com serenidade, o seu maior
martírio não foi a forca que lhe extinguiu a existência, mas a historiografia,
que ao longo de dois séculos continuou a torturar a sua vida, manipulando-a ao
serviço de opções ideológicas diversas.
Gomes Freire foi um militar profissional que exerceu a sua
profissão ao serviço de diversos países, num dos períodos mais conturbados e
fascinantes da história europeia, no trânsito do século XVIII para o XIX, na
charneira entre dois mundos. A maior parte da sua vida viveu-a fora de
Portugal; mesmo quando por cá esteve, passou uma parte desses anos em campanhas
militares. Foi preso várias vezes, passou fome e miséria, conheceu a fama e a
glória, foi condecorado por todo o lado, viveu sempre falido, é provável que
poucos o tenham amado e muitos o odiaram, parece que fervia em pouca água e que
era impulsivo e vaidoso. Nunca casou e a única relação afetiva que se lhe
conhece é com uma mulher casada que com ele partilha os sete anos de campanhas
napoleónicas, e com quem vive quando regressa. É um personagem singular,
complexo, dividido, mas impar em Portugal, naquela época. Dos militares
portugueses do seu tempo é ele, sem dúvida, o que tem a carreira e a vida que
merece uma biografia séria e que pode ser comparada com a de outros militares
dessa Europa destroçada.
Como Maçon tem de singular o facto de ter sido «praticante»
durante quase quatro décadas, facto pouco usual à época. Praticou Maçonaria na
Áustria, onde foi iniciado, em diversos países europeus, por onde passou:
França, Rússia e Prússia, seguramente. Praticou-a em Portugal, quando por cá
esteve, criou lojas nos regimentos militares em que serviu, participou na
formação do Grande Oriente Lusitano, desempenhando funções na Grande Dieta e
foi Grão-Mestre entre 1815 e 1817. A sua persistência denota um gosto próprio e
um apego singular à prática da Maçonaria. É inquestionável que Gomes Freire
atribui um significado especial à Maçonaria e que esta está presente ao longo
de toda a sua vida. A Maçonaria que o atrai não tem a ver com as práticas de
matriz inglesa ou francesa, mais comuns em Portugal. O Rito de Zinnendorf, o
Rito Escocês Rectificado, o martinismo e o templarismo são as suas escolhas. É
o seu percurso maçónico, e os episódios a ele ligados, que este livro procura
descrever.” [do Livro - sublinhados nossos]
J.M.M.
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