“ … Mas o que é a
Republica? ou antes, como se apresenta ela hoje a este mundo velho e sem
coragem, e de que modo pretende rejuvenescer e reconstruir as sociedades
segundo o seu plano de justiça e de bem? Como há perto do cem anos, a Republica
apresenta-se ainda hoje sendo a enérgica revindicação do eterno direito humano,
proscrito ou desconhecido por governos opressores ou por instituições artificiosas:
mas o instrumento dessa revindicação não é já hoje, como então foi, a luta e a
paixão, mas a ciência, o pensamento. Falava então ás consciências indignadas: fala
hoje aos espíritos esclarecidos. Então era um plano de campanha: hoje é um código
de leis […]
A Republica é, no
estado, liberdade; nas consciências, moralidade; na indústria, produção; no
trabalho, segurança; na nação força e independência. Para todos, riqueza: para
todos, igualdade; para todos, luz.
Que há de mais prático? e de mais praticamente imediato,
necessário? Não é só a reorganização do estado nas instituições; é ainda a reorganização
do individuo nos sentimentos, por que se a república assenta sobre o direito, o
direito republicano esse assenta sobre a moral. Aos outros governos bastam-lhe súbditos:
este (e é a sua maior gloria) precisa de homens. O cidadão deixa de ser uma abstração
legal para se tornar enfim uma realidade humana. Só homens são dignos da Republica,
e fora dela ninguém pode também chamar-se verdadeiramente homem.
Em nome pois da República apelamos não somente para
os interesses do país, mas também para os seus sentimentos. Enganar-nos-emos
acreditando que há nos portugueses de hoje a virilidade antiga, o caracter e a
hombridade de seus avós? Mas que nobre e alta glória para o povo que fez o seu aparecimento
na história abrindo à Europa o caminho de um novo mundo, concluir agora a sua
missão apresentando às nações maravilhadas não já um novo continente, mas um
novo mundo social, um nundo de justiça, a Republica! Como portugueses, queremos
ainda espera-lo”
[A República, por Antero de Quental, in A REPUBLICA,
Jornal da Democracia Portugueza, nº1, 11 de Maio de 1870]
J.M.M.
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