Ramon Machado de La Feria nasceu na freguesia de São Salvador,
concelho de Serpa a 27 de Junho de 1919. Era filho de Helena da Ascensão do
Prado Machado e do médico republicano e ilustre maçon Ramon Nonato de La
Feria
[nascido a 18 de Julho de 1886, em Serpa – cf A.H.de Oliveira
Marques, Dicionário de Maçonaria,
vol. 1, p. 563; bacharel em medicina e republicano militante do partido
Unionista, de Brito Camacho; é ele que anuncia a boa-nova da implantação da
Republica ao povo de Serpa; combateu em França na I Grande Guerra e foi um
íntegro combatente contra o Estado Novo, foi preso por diversas ocasiões (na
sequência da revolta da Madeira; entre 1937-1939, curiosamente acusado de
integrar a maçonaria - Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 29,
registo nº 5776), presidiu (1925) à direcção do Grémio Alentejano; pertenceu ao
MUD e esteve sempre presente nos diversos combates eleitorais; Ramon Nonato de
La Feria foi iniciado na Maçonaria com o n.s. de Claude Bernard, em 1914, na
Loja Cândido dos Reis, onde teve diversos cargos, entre eles de Venerável;
pertenceu ao Supremo Conselho do grau 33 do REAA, tendo sido eleito Presidente
do Conselho da Ordem para o período de 1927-29 e 1930, demitindo-se, neste ano,
a 12 de Setembro; integrou, em 1930, a Comissão de Estudos Profanos do GOLU,
que presidiu – cf. António Ventura, Uma História da Maçonaria em Portugal,
p, 698, 736; integra, em 31 de Março de 1935, o Conselho da Ordem, então
presidido por Maurício Costa, mantendo-se no cargo até ao 25 de Abril de 1974; morre
a 10 de Novembro de 1970, em Lisboa]
Frequenta os seus estudos liceais no Liceu Camões (em Lisboa), cursou
medicina na Universidade de Lisboa (no Campo Santana), ingressando na carreira
médica com a especialidade em Anestesiologia Cardíaca. Chefe de clínica, foi
desde 1960 responsável pelos Serviços de Anestesiologia e Reanimação do
Hospital Pulido Valente. Teve copiosos trabalhos de investigação publicados e
diversos cargos na Ordem dos Médicos e
da Liga dos Direitos do Homem.
Como estudante universitário foi preso a 28 de Março de 1947,
por mandado de captura do inspector da PIDE, capitão José Catela, e enviado
para a cadeia do Aljube. Tinha-lhe sido atribuído o crime de ter assinado em
nome da direcção universitária de Lisboa do MUD Juvenil (como outros seus companheiros: José Carlos Gonçalves, Fernando Pulido Valente, Joaquim
Ângelo C. Rodrigues e Carlos Gomes) e distribuído, um panfleto ciclostilado intitulado
“Em defesa da Universidade” e onde se verbera a iníqua detenção do estudante da
Faculdade de Ciências (e também membro do MUD Juvenil – organização ilegal e clandestina
para a PIDE) Mário Ruivo. Teve como seu defensor em Tribunal Plenário, o
advogado João Manuel da Palma Carlos. Cumpriu pena de prisão em Caxias, com
perda de direitos políticos por cinco anos.
Isto é, desde a primeira hora que Ramon Machado de La Feria
marcou a sua posição contra o salazarismo e o Estado Novo. Republicano
assumido, pertenceu à direcção do MUD Juvenil e integra ao longo da sua vida
diversos centros republicanos, assumindo mesmo a Presidência da Comissão
Permanente das Assembleias Gerais dos Centros Republicanos de Lisboa,
“procedendo à reestruturação das instituições [republicanas] que chegaram até ao
25 de Abril” – cf. António Valdemar, República, 10 de Dezembro de 2003, p. 8. -,
presidindo às Comissões Cívicas da Comemoração do 5 de Outubro até à sua morte.
Em 1952, estando a cumprir o serviço militar como oficial
miliciano, foi de novo detido pela PIDE (no Aljube e Caxias, durante 2 meses e
meio) por “envolvimento num movimento de oficiais milicianos ligados a Henrique
Galvão” [António Valdemar, ibidem]
contra Salazar. Em 1968 é de novo preso no Aljube e em Caxias, acusado de ser
um dos responsáveis da tentativa de derrube do regime, com apoio de um grupo de
militares. Já em 1973, enquanto presidente da Ordem dos Médicos, Ramon Machado
de La Feria é preso por ter denunciado em público a intervenção da PIDE no
assassínio do estudante do MRPP, Ribeiro dos Santos. Depois de Abril de 1974,
integra o MDP/CDE e depois filia-se no PS.
Em Fevereiro de 1973, seguindo os passos do seu ilustre pai,
inicia-se na Maçonaria com o n.s. de Marat, na Loja Simpatia e União [A Loja
Simpatia e União, foi das poucas oficinas que não abateram colunas; tinha em
Abril de 1974 cerca de trinta e seis obreiros – ver Casa 4. A Loja dos Grão-Mestres
Sympathia e União 1859-2009, p. 108], por proposta do então Grão-Mestre Luís
Hernâni Dias Amado [n.s. Zacuto Lusitano]. Pertenceu, em 1975, à Loja Cândido
dos Reis (ver Manuel Poirier Braz, Eu
Maçon me Confesso, p. 38 e ss; foi nesta loja que o seu pai tinha sido
iniciado), tendo sido nomeado Grande Secretário das Relações de Justiça do
Conselho da Ordem, depois Presidente do Conselho da Ordem Interino (1975 e 1976); atinge o grau 18 (cavaleiro Rosa-Cruz) em 1975, o grau 25, em 1977, grau 30, em
1979 e o grau 33, em 1980, com um curioso trabalho “Maçonaria - Sociedade
Iniciática”, integrando o Supremo Conselho do Grau 33 do REAA. Em 1987 pertence
ao quadro da Loja José Estêvão. Com um notável curriculum maçónico, é eleito
como Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano para o período entre 1990 a 1993,
tendo como Adjuntos António [Maria Lobo de Vasconcelos] Corte-Real e Mário de
Sousa Dias. Data desse período uma “grave querela” que opõe o REAA e o RF.
Foi associado do Internato de S. João, integrando por diversas
vezes a sua direção, foi sócio da Escola-Oficina nº1, presidiu à Mesa da
Assembleia Geral do Centro Republicano Almirante Reis, do Centro Republicano
Fernão Botto-Machado, do Centro Republicano da Ajuda e foi membro da Comissão
de Romagem aos Heróis de 5 de Outubro (Cemitério do Alto de S. João). A 25 de
Julho de 1989 foi feito Comendador da Ordem da Liberdade.
Morre vítima de doença prolongada a 25 de Maio de 2003.
J.M.M.
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