terça-feira, 1 de dezembro de 2020

IN MEMORIAM EDUARDO LOURENÇO (1923-2020)

Só temos o passado à nossa disposição. É com ele que imaginamos o futuro” [E. L.]

Eduardo Lourenço, esse eterno “emigrante intelectual”, levou uma vida a apontar a luz desse “amor e morte” com que carregamos a Alma portuguesa. O murmúrio saudoso desse “profetismo” (vindo da casa de Garrett, Alexandre Herculano e Antero de Quental), entre sombra e nevoeiro, tem no entanto a aparência de esperança - mesmo se a nossa putativa “hiperidentidade” ainda nos angustie - pela “liberdade e vontade” de irmos percorrendo o caminho ao encontro com os outros e que mais não é que o “verdadeiro encontro connosco”.

Seguimos, de sol a prumo, o seu olhar pela ideia de Portugal, “essa espécie de milagre” que nos enlouqueceu, ali sitiado entre a velha nostalgia do império e a anomia da nossa crua realidade. Repensar Portugal seria na prática e progressivamente, em Eduardo Lourenço, a imperiosa “descentragem dos portugueses em relação á sua realidade”, a nível político e necessariamente histórico.

Entre a contemplação de um “passado glorioso” e a espera de um “futuro utópico”, Eduardo Lourenço foi propondo, para sair deste nosso “Labirinto” um novo discurso e um novo fio historiográfico. Que assim seja! Que assim aconteça! Vale.

Eduardo Lourenço faleceu hoje, 1 de Dezembro, na brisa deste luminoso dia da Restauração. Curiosa representação premonitória. Fica o verbo e a memória de um pensador, ensaísta, “filósofo da cultura”, poeta e professor, iluminado e único.

Até sempre Professor!

J.M.M.     

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