segunda-feira, 7 de março de 2022

ASSIM CANTAVA UM CIDADÃO DO MUNDO – ROBERTO DAS NEVES


LIVRO: Assim cantava um cidadão do Mundo;
AUTOR: Roberto das Neves (1907-1981);
EDIÇÃO: Hora de Ler (reed. da obra publicada em 1952 pela Germinal do Rio de Janeiro – livro proibido pelo Estado Novo), 2022, 160 p.

PEDIDOS: horadelercf@gmail.com

Trata-se da reedição do livro de poemas, de forte inspiração libertária e anticlerical, de autoria do ilustríssimo pedroguense e cidadão do Mundo, Roberto das Neves, anarquista individualista, poeta, espiritualista, maçon (o Irmão Satã, iniciado na Loja Rebeldia, em 29 de Fevereiro de 1930), grafólogo, esperantista, vegetariano, naturista, jornalista e editor [ver, AQUI]. Preso pela polícia política, em 1926 em Coimbra (pela publicação e distribuição de poemas político-satíricos – como o Espectro de Buiça, curiosamente dedicado aos seus amigos e camarada anarquistas como Arnaldo Januário, Afonso de Moura, Mário Castelhano, Lomelino Lentes e José de Almeida), continuou a ser alvo de intensas perseguições políticas desde o inicio do Estado Novo, tendo passado por inúmeras prisões e algumas rocambolescas fugas, empenhado desde sempre no movimento libertário, anarquista e anticlerical. Em 1942 parte para o Rio de Janeiro, falecendo aí a 28 de Setembro de 1981 [consultar, com proveito, esta 2ª ed. do “Assim cantava um cidadão do mundo”, Aires B. Henriques, pp. 17-35].


UMA PÁTRIA PLANETÁRIA

Natural de Pedrógão Grande, ROBERTO DAS NEVES é uma daquelas personalidades cuja vida e obra se fundem. A sua vida (1907-1981) desenrolou-se num tempo pródigo em acontecimentos mundiais de forte impacto global (duas guerras mundiais, a guerra civil de Espanha e, mais próximo, o 25 de abril de 1974). Sem dúvida um tempo pródigo em mudanças globais, mas também em 'debates políticos, culturais, espirituais e artísticos' muito intensos.

ROBERTO DAS NEVES foi um devotado anarquista. Sendo, ainda, esperantista; maçon; ateu; vegetarianista; pacifista; jornalista; anticlerical; antissalazarista e anticomunista (recusando o caráter concentracionário do socialismo real). Foi, sem dúvida, um incansável lutador pela liberdade em todas as suas vertentes.

Depois de conhecer, por diversas vezes, o cárcere salazarista, escolheu o Brasil como terra para tentar realizar os seus sonhos e ideais. Digamos que nessa escolha mostrou muito do seu apego à Língua Portuguesa que tanto amava e que tanto cultivou. ROBERTO DAS NEVES foi um escritor de vasta e multifacetada obra e foi poeta. Alguém lhe chamou de poeta maçónico.


O livro "
ASSIM CANTAVA UM CIDADÃO DO MUNDO", da autoria de ROBERTO DAS NEVES, é reeditado pela mão de um pedroguense da melhor casta: o Dr. Aires B. Henriques. Saúdo aqui, especialmente, esta iniciativa de defesa da memória e do património cultural de Pedrógão Grande, de Portugal e, claro, também do Brasil e da Lusofonia!

Os tempos de hoje precisam de mulheres e de homens que defendam uma Pátria Planetária como ROBERTO DAS NEVES militantemente defendeu no seu tempo.

[MÁRIO MÁXIMO, Escritor e poeta Ex-Presidente da Associação Fernando Pessoa/ Gestor de Assuntos Lusófonas – in contracapa do livro]

RAZÕES DE UMA EDIÇÃO

Jornalista e escritor, maçon, homem culto e de causas, Roberto Barreto Pedras das Neves é porventura um dos cidadãos que em Portugal mais viveu intensamente o curso dos diferentes períodos da política nacional, ao ponto de, pela acção e pelo verbo, nelas pretender intervir a bem dos valores da paz, da livre convivência e do progresso.

Por isso, Roberto das Neves foi lembrado pela Casa (regional) de Pedrógão Grande em Lisboa em 2006, quando se celebrava o centenário do seu nascimento, decorrido a 7 de Setembro de 1907, e quando então presidíamos à sua Direcção.

Com a colaboração do seu genro, o coronel Manuel Pedroso Marques, também ele refugiado no Brasil, e que com Roberto mais de perto convivera, tivemos a oportunidade de publicar uma primeira nota biográfica sobre o homem e o cidadão, as suas convicções, as suas lutas e os seus desfechos, que o forçaram a procurar refúgio no Brasil após o período dramático da Guerra Civil de Espanha e o início da II Guerra Mundial em que a repressão policial mais se agudizava em Portugal.

 


Ora, que se celebram 40 anos sobre a data do falecimento de Roberto das Neves no Rio de Janeiro, não podemos deixar de mais uma vez o relembrar, encontrando na reedição deste seu livro de poemas - "Assim Cantava um Cidadão do Mundo" - porventura a mais grata forma de o fazer, homenageando o cidadão e o escritor, enquanto fazemos prova do seu imenso talento, imbuído de ardentes palavras de paz e amor às comunidades por quem, não escusando a liça, sempre se empenhou.

Irmanado dos mesmos propósitos cívicos de muitos outros concidadãos amigos e de ideal - como Tomás da Fonseca, Francisco Barata Dias, o Padre Joaquim Alves Coreia e Vasco da Gama Fernandes -, Roberto das Neves esmerou-se ao longo de toda a sua vida por que o trabalho de burilamento do seu ser - a sua pedra “milheira" beirã – se convertesse numa imensidão de reluzentes "grãos” ou tocantes partículas capazes de iluminar o mundo à sua volta, de preferência sem iníquas fronteiras e falando urna só língua universal.

A leitura da sua obra e mensagem é para nós por demais gratificante. Por isso, depois de "Pestana Júnior, Profeta Republicano" (2010) e de "Leiria no Reviralho - João Lopes Soares às Avessas" (2020), o Museu da República e Maçonaria não poderia deixar de promover mais uma honrosa edição que verdadeiramente atesta do melhor que a nossa "História & Memória" colectiva do republicanismo tem para nos presentear. E que com ela, ora 70 anos após a edição brasileira, bem possamos ainda sublinhar os dotes poéticos de Roberto das Neves a iluminar um caminho mais fraterno, de esperança, justiça, tolerância e paz, inspirador dos cidadãos de boa vontade.

Dotes poéticos esses que o também poeta Tomaz da Fonseca sublinha ao caracterizar o "Assim Cantava um Cidadão do Mundo" como "um livro que esmaga quem o lé", pois "jamais se escreveu em língua portuguesa nada mais arrasador contra os privilégios e os preconceitos", como "um grito a favor dos humilhados"; como um livro a que está "destinado um lugar inconfundível na história da literatura mundial e, particularmente, na da literatura libertária e da resistência ao totalitarismo em Portugal, que encontrou em (Roberto das Neves) o seu épico".

[O Editor (Aires B. Henriques), Villa Isaura, 7 de Dezembro de 2021, pp.7-8]

 J.M.M. 

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