terça-feira, 14 de janeiro de 2025

A INICIAÇÃO DE VOLTAIRE NA LOJA DAS NOVE IRMÃS

 


LIVRO: A Iniciação de Voltaire na Loja das Nove Irmãs;
AUTOR: A. Germain;
EDIÇÃO: BMBM | R’.’ L.’. “8 de Maio”, Janeiro de 2025, 52 p.

Trata-se da interessantíssima edição, agora em tradução portuguesa, do conhecido livreto (1874) de A. Germain, Initiation de Voltaire dans la Loge des Neuf-Soeurs. A curiosa iniciação de Voltaire, aliás François-Marie Arouet, em 1778, presidida por Jérôme Lalande (invulgar astrónomo e um dos enciclopedistas de renome) e assistida por Benjamin Franklin foi um acontecimento triunfante da história da franco-maçonaria francesa. A Loja das Nove Irmãs (1776), de que fizeram parte numerosos homens de letras, foi herdeira da “Loge des Sciences”, fundada pelo filósofo Claude Adrien de Helvétius (1715-1771) e pelo próprio Lalande (1732-1807).

Esta edição magnifica, de elevado merecimento literário e de que somente se imprimiram 100 exemplares numerados, está ornada na sua capa com uma formosa ilustração, contém uma Introdução dos editores e apresenta um estimado prefácio pelo curador adjunto no Instituto e Museu Voltaire, em Genebra, Flávio Borda D’Água.

Um pensador, um filósofo que se tornou escritor – dramaturgo, ensaísta, historiador, poeta e romancista – como forma de se comprometer consigo e compreender os outros.

Nascido no ocaso do século dezassete, ele é a personificação do homem-razão iluminista, o tolerante, o insubmisso panfletário cultor do direito e da justiça, intransigente da liberdade e anticlerical convicto. Dir-se-ia que François-Marie Arouet nasceu para ser maçon, pois sobreviveu apenas um mês à sua irradiante iniciação na querida Loja das Nove Irmãs, em Paris, sob o malhete sagrado de Lalande, em 7 de Abril de 1778.

É por isso que, 330 anos após o nascimento de Voltaire em Paris, a BMBMBiblioteca Maçónica do Baixo Mondego – decide estrear a sua bibliogenia com uma obra que, nas palavras de Hubert, pertence à Maçonaria mais do que a qualquer Loja ou maçon preferido. Mais, associa-se à RL “8 de Maio”, a Or de Coimbra, nas celebrações do seu 25º aniversário.

A INICIAÇÃO DE VOLTAIRE, hoje amável e fraternalmente prefaciada pelo conservador-adjunto do Instituto e Museu Voltaire de Genève, a quem muito agradecemos, é um duplo privilégio que queremos partilhar.

Ao Vale do Mondego, no 330º aniversário de Voltaire, Novembro de 6024.

[Os Editores]

Voltaire e a Maçonaria: uma exploração dos laços entre o pensamento do Iluminismo e o compromisso da fraternidade

Voltaire tornou-se, ao longo dos séculos, um símbolo e um farol da luz intelectual, do pensamento crítico e da afirmação das liberdades. A sua influência ultrapassa fronteiras e transcende épocas, marcando profundamente o panorama da literatura e da filosofia, o desenrolar da história e das sociedades. Por trás dessa figura emblemática do Século das Luzes esconde-se, um tanto negligenciado ainda, um legado singular da sua herança: a sua afiliação tardia à maçonaria.

A brochura que nos é oferecida hoje permite-nos aventurar nos labirintos da história para explorar os laços que Voltaire mantém com a Maçonaria: duas forças imponentes que moldaram o tecido da sociedade europeia do século XVIII e além. As páginas que se seguem servirão como uma exploração aprofundada que desmistifica essa relação, muitas vezes incompreendida e mal transmitida, e esclarecerão as áreas de sombra ao fazer o leitor descobrir, ao longo do tempo, influências mútuas entre o homem e o movimento do pensamento.

Voltaire, conhecido pela sua pena afiada e o seu espírito livre, não pode ser limitado ao papel de escritor. Homem de ideias, homem de convicções, pensador engajado nos debates da sua época, e fundamentalmente contemporâneo, ele encontra na maçonaria um quadro para nutrir e desenvolver as suas ideias. No seio da companhia fraterna, ele encontra um refúgio para o livre-pensamento, um espaço onde as fronteiras da sociedade podem ser empurradas e onde a igualdade, a fraternidade e a tolerância não são meras palavras, mas ideias a serem vividas, promovidas e desenvolvidas.

A partir daí, ao retomar os arquivos e os escritos de Voltaire, bem como os arquivos maçónicos da sua época, o investigador detecta fios invisíveis que tecem, juntos, uma história comum. As descobertas mostram como a entrada de Voltaire na maçonaria influenciou, mesmo que tardiamente, o seu pensamento, as suas acções e, por vezes, o seu estilo literário. Ele deixa, assim, uma marca indelével e misteriosa na maçonaria do seu tempo.

Ao longo desta brochura, a palavra é deixada aos textos que documentam directamente a iniciação de Voltaire e que abrem para o futuro através do fascinante aspecto da história intelectual e social. Espera-se que essa exploração suscite a curiosidade e o desejo de ir mais longe, estimulando a reflexão, incitando talvez as reconsiderações, a uma (re)descoberta de Voltaire como homem, como pensador e como irmão maçom.

Que estes documentos possam ilustrar a última evidência: que a verdadeira luz reside na busca incessante do conhecimento e da verdade, à imagem do historiador frente ao passado dos homens e da grande sociedade humana.

[PREFACIANDO - Flávio Borda D’Água, p. 9 e ss - sublinhados nossos]

 


A. Germain (1801-1882) foi um voltairiano entusiasta, fiel e ilustrado. Em tributo de admiração e reconhecimento ao Mestre, deixou escrito uma interessante notícia sobre a iniciação de Voltaire - que agora apresentamos - nesse memorável dia de 7 de Abril de 1778 e que iluminou a “serena luz maçónica” dos trabalhos da loja Des Neuf Soeurs.

A[thanase] Germain licenciou-se em direito (1821) em Paris, foi advogado da corte, diretor de assuntos argelinos do Ministério da Guerra, mestre de solicitações ao Conselho de Estado, diretor do jornal Le Progrés de l’Eure e membro da loja maçónica, La Sincerité de l’Eure, em Evreux. Foi preso por delito de imprensa em 24 de Fevereiro de 1871. Entre as suas obras impressas, está a curiosa Martyrologe de la presse (1789-1861) e a vigorosa e polémica Réponse à une lettre de M. L. Morin, curé de La Couture-Boussey (1866).

A. Germain integrou o quadro fundador da loja de Evreux (22 de Julho de 1872), La Sincerité de l’Eure, tendo sido seu Venerável entre os anos de 1873 a 1876. A loja, a segunda instalada em Evreux, no final do século entra em “dormência” e só seria de novo erguida em 1925, curiosamente com o título distintivo: Tolérance et Sincerité. A 8 de Julho de 1875, teve Germain ocasião de pedir a palavra na cerimónia solene de iniciação de Émile Littré, na loja La Clémente Amitié, fazendo-lhe oferta do seu livro Initiation de Voltaire dans la Loge des Neuf-Soeurs.

[Da contracapa]

J.M.M.

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