segunda-feira, 7 de março de 2011

JOSÉ CARLOS RATES (Parte I)


A própósito das Comemorações do 90º aniversário do Partido Comunista Português assinalados no passado dia 6 de Março, recordamos um dos primeiros líderes comunistas em Portugal, ainda hoje envolto em alguma polémica e muitas áreas de penumbra na sua vida. Desconhecem-se alguns dados fundamentais, mas muitos outros já são factos constam na já longa e interessante história do partido político há mais tempo em actividade em Portugal.

Vejamos o que se conseguiu reunir sobre a controversa personalidade de Carlos Rates.

José Carlos Rates terá nascido em 1879, mas não se conseguiu apurar com segurança onde. Foi operário conserveiro em Setúbal na primeira década do século XX. Participa no Congresso Sindical e Cooperativo de 1909.

Eleito secretário da Associação dos Trabalhadores das Fábricas de Conservas de Setúbal em 1911. Neste ano envolve-se numa dissensão entre o grupo do Germinal que conduziu à ruptura entre os seus membros. Note-se que este jornal tinha iniciado publicação em Setúbal em 1903 e publicou-se até depois da implantação da República. Nele, os anarquistas intervencionistas conquistaram uma posição de destaque e Carlos Rates surge como um dos seus membros mais activos e dedicados. Integra depois a Comissão Executiva do Congresso Sindicalista, envolvendo-se na propaganda e organização do movimento sindical, em particular no Alentejo, Beiras, Trás-os-Montes e arquipélagos atlânticos. Devido à sua intensa actividade como propagandista torna-se um dos alvos da repressão governamental, sendo preso pelo menos em duas ocasiões.

No Congresso Sindicalista de 1911, iniciado a de 7 de Maio, estiveram presentes 91 associações que representavam cerca de 35000 filiados. Apesar de discutida acabou por ser adiada a questão da Confederação Geral do Trabalho, que veio depois a ser constituída em 1914, nesse período a prioridade era organizar uniões locais e federações, que ainda eram em número reduzido.

Em 1912, o seu nome é apontado como um dos subscritores do manifesto que anuncia o lançamento do jornal anarquista Terra Livre.

Participa no I Congresso dos Trabalhadores Rurais, como representante da Comissão Executiva do Congresso Sindical. Durante o ano de 1913 envolve-se na polémica entre anarquistas e sindicalistas, defendendo a causa de Manuel Ribeiro contra Emílio Costa.

No Congresso Operário de Tomar, realizado de 14 a 17 de Março de 1914, Carlos Rates defende a tese intitulada Projecto de Bases de Organização da União Nacional Operária, sendo ali eleito para a direcção da União Operária Nacional. Foi um dos promotores do radicalismo do operariado contra a tentativa de conciliação com os socialistas. Apesar de não se envolver muito nas iniciativas da UON nos primeiros dois anos, mas participa de forma dinâmica na organização sindical de 1916-1917.

Em 1919, toma parte no II Congresso Operário, realizado em Coimbra, onde subscreve a tese intitulada Reformas Imediatas, que no entanto é rejeitada pelos congressistas. Ainda nesse ano adere à Federação Maximalista Portuguesa e colabora no jornal Bandeira Vermelha.

Em 1921, a 6 de Março, funda o Partido Comunista Português e envolve-se em grande polémica com Emílio Costa, no jornal A Batalha, debatendo a questão candente da Ditadura do Proletariado.

Carlos Rates afirma-se na direcção do jornal O Comunista e torna-se líder da corrente que fora afastada por H. Caetano de Sousa. Consegue manter-se na direcção do jornal até 1925, data em que abandona o partido. O anarquista que evoluiu no sentido do comunismo, torna-se no I Congresso do Partido Comunista, realizado em Lisboa entre 22 e 23 de Novembro de 1923, no secretário-geral do partido. Mesmo os seus opositores no interior do partido reconheciam a sua reputação junto do meio operário, considerando-o um indivíduo estudioso, classificando-o como um intelectual operário.

Rates integra a Comissão Organizadora dos Trabalhos para a Constituição do Partido Comunista (Dezembro de 1920 a 6 de Março de 1921); membro do Conselho Económico (corpo directivo) do Partido Comunista Português (6 de Março de 1921 a Janeiro de 1923); membro da Comissão Reorganizadora do Partido Comunista Português (Janeiro a Agosto de 1923); membro do Comité Executivo provisório do Partido Comunista Português (Agosto a Novembro de 1923); secretário-geral do Partido Comunista Português (Novembro de 1923 a Outubro de 1925).

[Foto: Texto da adesão de Carlos Rates à União Nacional, publicado pelo Diário da Manhã, de 16 de Julho de 1931, e retirado do blogue Estudos Sobre o Comunismo, de José Pacheco Pereira]


1 comentário:

Carlos Gomes disse...

Penso que o percurso de Carlos Rates deve ser entendido num contexto de intenso confronto ideológico marcado não apenas pelo debate entre o anarquismo e o socialismo, no caso português traduzido na conversão ao comunismo de muitos anarco-sindicalistas, como ainda em relação ao fascismo e ao corporativismo. Não foi em vão que Mussolini era oriundo das fileiras socialistas e, mesmo na Alemanha, o Partido Nacional Socialista arrebatou a base social operária à Liga Spartacus.
Entre nós, a ideia da ordem e da colaboração entre as classes em prol da nação, preconizada pelos construtores do Estado Novo, não apenas cativou Carlos Rates como muitos republicanos descrentes da I República e do despotismo do Partido Republicano liderado por Afonso Costa, incluindo alguns dos que estiveram na primeira linha da implantação do regime republicano como sucedeu com o Comandante Mendes Cabeçadas.
É evidente que o PCP não se orgulha minimamente do facto. Mas possui sempre um método que o caracteriza e define, aplicado a inúmeras situações como a célebre fuga de Peniche: apaga na fotografia e revê a História!