LAVRADOR
(José) — A REVOLUÇÃO NA ILHA DA MADEIRA. Depoimento para a história
da política portuguesa. Editorial Alba (2ª ed.), Rio de Janeiro, 1931, 176 p.
"Refere-se o Autor – cônsul do Brasil – a acontecimentos
ocorridos na vila de Machico, na Madeira, entre Fevereiro e Abril de 1931. Foi
assim: quando a banca deixa de cumprir as suas obrigações perante os
depositantes, por “falta de liquidez”, e quando os monopólios cerealíferos
transformam o comércio em pura extorsão das populações, brota o desespero
amotinado, com seus confrontos policiais, o saque de lojas e armazéns, etc...
Mas uma ilha é como um barco! – Uma ratoeira sem saída, onde ganha o mais forte,
aquele que estiver armado até aos dentes. E como o governo salazarista se achou
pouco, ainda fez apelo à armada inglesa, a “invencível”.
Das condições pré-revolucionárias existentes na altura diz-nos,
a certo passo, o Lavrador:
«[...] O Governo da Dictadura agglomerava de deportados a Ilha da Madeira. Era para ahi, que, depois de ligeiras estadias pelas possessões africanas portuguezas, seguiam, mais por um acto de benevolencia do proprio Governo, todos os chefes de goradas conspirações, de movimentos abortados ou revoluções vencidas.
Havia, entre os deportados, homens publicos notaveis pelo seu saber e de certo renome no paiz, altas patentes do exercito e da marinha, e tambem jornalistas e alguns funccionarios publicos.
É preciso ter estudado a psychologia das multidões para se poder
comprehender o vulto que essas figuras tomavam na imaginação do povo
madeirense. Ellas evidenciaram-se como verdadeiros martyres, sacrificadas por
um ideal, sendo, assim, acolhidas com admiração, não só na intimidade das familias
como tambem – principalmente os officiaes deportados – em fraternal camaradagem
pelas forças aquarteladas na Madeira.
Deu-se o que era inevitavel. As idéas anti-situacionistas
foram-se alastrando e, creando profundas raizes no espirito da collectividade,
diffundiram-se por todas as classes. E o povo ficou completamente empolgado por
essas idéas, convencido que nellas estava a sua propria redempção.
O espirito da revolta, que condensou todo o movimento militar,
foi inspirado em amistoso convivio numa pensão da rua dos Netos, em Funchal,
entre officiaes deportados e especialmente vindos com as tropas do Continente
para manter a ordem. [...]»
via FRENESI
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário