JOÃO ABEL MANTA “nasceu em
1928, em Lisboa. É filho dos pintores Abel Manta e Maria Clementina Carneiro de
Moura Manta. Formou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de
Lisboa (1951), tendo-se dedicado como artista plástico, à pintura, cerâmica,
tapeçaria, mosaico, ilustração, artes gráficas e cartoon. Na área da sua
formação académica foi o responsável, com Alberto Pessoa e Hernâni Gandra, pelo
projecto dos blocos habitacionais da Avenida Infante Santo, referente de
qualidade na arquitectura da cidade, com o qual ganhou o Prémio Municipal de
Arquitectura (1957). Recebeu ainda o Prémio Nacional da Sociedade Nacional de
Belas Artes (1949), o Prémio da Fundação Calouste Gunbenkian (1961) e a Medalha
de Prata na Exposição Internacional de Artes Gráficas, em Leipsig (1965).
A sua
pintura, numa primeira fase neofigurativa e eivada de ironia surrealista, tomou
depois uma feição de carácter abstracto. Foi o autor das tapeçarias do Salão
Nobre da sede da Fundação Calouste Gunbenkian. No cartoon, utilizando-o como
forma privilegiada de retrato da sociedade, evidenciou-se de forma ímpar, sendo
os anos de 1974 e 1975, dos mais fecundos da sua produção. Publicou o álbum
Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar (1978), síntese de vincada e
sofisticada ironia onde o lápis do artista traça um quadro negro, mas preciso,
daquele período da nossa história.
No contexto
da arte pública interveio nos pavimentos de mosaico para arruamentos na Praça
dos Restauradores, em Lisboa, e na Figueira da Foz. No campo da azulejaria
concebeu em Lisboa os painéis: do restaurante do Hotel da Avenida Infante Santo
(1952), da Escola Primária do Alto dos Moinhos (1955) e do revestimento do monumental
mural da Avenida Calouste Gulbenkian, aplicado em 1982 (concebido em
1970). Foi ainda autor da série de painéis cerâmicos para o Teatro Gil
Vicente, em Coimbra (1955), dos azulejos para os edifícios da Associação
Académica de Coimbra (1959), bem como de uma composição geométrica para a Caixa
Geral de Depósitos, em Mafra (1972)” [AQUI - sublinhados nossos]
“… Com um
grafismo único, meticuloso, os seus cartoons (veja-se por exemplo Turistas, da
série Reportagem Fotográfica, 1972) marcaram a época anterior ao 25 de Abril:
"Nenhum pintor daqui e de agora resumiu com tantas subtilezas a
temperatura social e política do fascismo agonizante". Nesse "inventário
doméstico" cabe praticamente tudo: "estão em causa os desastres e os
grotescos duma burguesia, a nossa, com os seus emblemas e heróis". João
Abel "aponta à História, ao monumento e em particular à procissão
provinciana da nossa burguesia intelectual"
A sua
intervenção pública intensifica-se em 1974 e 1975, logo após a queda da
ditadura, lançando-se "à batalha com redobrado ardor, multiplicando-se em
caricaturas, posters e cartazes de orientação vincadamente revolucionária",
e tornando-se no "artista máximo, talvez o único afinal, que a revolução
de Abril suscitou". É o que vemos em desenhos como "Um problema
difícil", de 1975, onde um grupo de notáveis – de Marx
e Lenin
a Gandhi
e Sartre –, se interrogam perante um pequeno mapa
de Portugal. João Abel Manta "ficará associado dum modo muito particular
ao melhor e ao pior que em Portugal vivemos nesses dois anos"
A partir de
1976 "o artista alistado João Abel eclipsa-se: os ventos são outros, o MFA
(Movimento das Forças Armadas) dissolveu-se",
e só em 1978 "emerge do silêncio e lança ao público um […] novo álbum:
Caricaturas dos Anos de Salazar",
onde "narra uma história – a nossa história […] onde se encaixam, se
alternam ou se encadeiam […] o ridículo e a tragédia da colonização e da guerra
colonial, o miguelismo e o liberalismo […] a submissão popular e a sua revolta
[…] o folclore musical e o artesanato, o teatro, o cinema ou a pintura …" [AQUI - sublinhados nossos]
J.M.M.
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