domingo, 6 de abril de 2014

JOÃO ABEL MANTA

 
 
 
JOÃO ABEL MANTA “nasceu em 1928, em Lisboa. É filho dos pintores Abel Manta e Maria Clementina Carneiro de Moura Manta. Formou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1951), tendo-se dedicado como artista plástico, à pintura, cerâmica, tapeçaria, mosaico, ilustração, artes gráficas e cartoon. Na área da sua formação académica foi o responsável, com Alberto Pessoa e Hernâni Gandra, pelo projecto dos blocos habitacionais da Avenida Infante Santo, referente de qualidade na arquitectura da cidade, com o qual ganhou o Prémio Municipal de Arquitectura (1957). Recebeu ainda o Prémio Nacional da Sociedade Nacional de Belas Artes (1949), o Prémio da Fundação Calouste Gunbenkian (1961) e a Medalha de Prata na Exposição Internacional de Artes Gráficas, em Leipsig (1965).
 
A sua pintura, numa primeira fase neofigurativa e eivada de ironia surrealista, tomou depois uma feição de carácter abstracto. Foi o autor das tapeçarias do Salão Nobre da sede da Fundação Calouste Gunbenkian. No cartoon, utilizando-o como forma privilegiada de retrato da sociedade, evidenciou-se de forma ímpar, sendo os anos de 1974 e 1975, dos mais fecundos da sua produção. Publicou o álbum Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar (1978), síntese de vincada e sofisticada ironia onde o lápis do artista traça um quadro negro, mas preciso, daquele período da nossa história.
 
No contexto da arte pública interveio nos pavimentos de mosaico para arruamentos na Praça dos Restauradores, em Lisboa, e na Figueira da Foz. No campo da azulejaria concebeu em Lisboa os painéis: do restaurante do Hotel da Avenida Infante Santo (1952), da Escola Primária do Alto dos Moinhos (1955) e do revestimento do monumental mural da Avenida Calouste Gulbenkian, aplicado em 1982 (concebido em 1970). Foi ainda autor da série de painéis cerâmicos para o Teatro Gil Vicente, em Coimbra (1955), dos azulejos para os edifícios da Associação Académica de Coimbra (1959), bem como de uma composição geométrica para a Caixa Geral de Depósitos, em Mafra (1972)” [AQUI - sublinhados nossos]
“… Com um grafismo único, meticuloso, os seus cartoons (veja-se por exemplo Turistas, da série Reportagem Fotográfica, 1972) marcaram a época anterior ao 25 de Abril: "Nenhum pintor daqui e de agora resumiu com tantas subtilezas a temperatura social e política do fascismo agonizante". Nesse "inventário doméstico" cabe praticamente tudo: "estão em causa os desastres e os grotescos duma burguesia, a nossa, com os seus emblemas e heróis". João Abel "aponta à História, ao monumento e em particular à procissão provinciana da nossa burguesia intelectual"
 
A sua intervenção pública intensifica-se em 1974 e 1975, logo após a queda da ditadura, lançando-se "à batalha com redobrado ardor, multiplicando-se em caricaturas, posters e cartazes de orientação vincadamente revolucionária", e tornando-se no "artista máximo, talvez o único afinal, que a revolução de Abril suscitou". É o que vemos em desenhos como "Um problema difícil", de 1975, onde um grupo de notáveis – de Marx e Lenin a Gandhi e Sartre –, se interrogam perante um pequeno mapa de Portugal. João Abel Manta "ficará associado dum modo muito particular ao melhor e ao pior que em Portugal vivemos nesses dois anos"
 
A partir de 1976 "o artista alistado João Abel eclipsa-se: os ventos são outros, o MFA (Movimento das Forças Armadas) dissolveu-se", e só em 1978 "emerge do silêncio e lança ao público um […] novo álbum: Caricaturas dos Anos de Salazar", onde "narra uma história – a nossa história […] onde se encaixam, se alternam ou se encadeiam […] o ridículo e a tragédia da colonização e da guerra colonial, o miguelismo e o liberalismo […] a submissão popular e a sua revolta […] o folclore musical e o artesanato, o teatro, o cinema ou a pintura …" [AQUI - sublinhados nossos]
 
J.M.M.


Sem comentários: