quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

IN MEMORIAM DO PROF. DOUTOR JOAQUIM ROMERO MAGALHÃES (1942-2018) – BREVE NOTA BIOGRÁFICA



O dr. Romero Magalhães, nosso chorado e sempre lembrado Professor e Amigo, partiu nas primeiras horas do dia 24 de Dezembro, sussurrando, decerto, as últimas letras do seu fecundo labor historiográfico e em especial em torno das suas pesquisas da cultura histórico-social e económica do Algarve, assunto de que era referência máxima entre os historiadores contemporâneos. A sua incansável paixão pela história, o saber e espirito de partilha, que a todos e cada um inspirava nessa demanda, é testemunho que muito o gratifica e a todos nós enriquece.

Joaquim Romero Magalhães, que tivemos a honra de privar, como aluno, Amigo, bibliófilo e repúblico (… da Real-República da Prá-Kys-Tão, ali à Se Velha), leitor atento e crítico do Almanaque Republicano, repousa para sempre na ilustre galeria dos Homens Livres e Solidários. Deixa na memória uma imensa saudade. A sua perda é irreparável.

Até sempre, dr. Romero Magalhães 

 


Joaquim Antero Romero Magalhães nasceu em Loulé, a 18 de Abril de 1942. Era o segundo filho de Célia Vasques Formosinho  Romero, professora, e de Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães

[Joaquim da Rocha Peixoto Magalhães (Porto, 1909 – Faro, 1999), licenciado em Filologia Românica (na FLUP), foi professor do ensino secundário em Coimbra (onde estabelece relações com o grupo presencista, publicando um poema na revista Presença, em Abril de 1933), Faro (aqui convive com José Marinho, Silva Dias), Funchal e, de novo, Faro, cidade onde se estabeleceu, tendo sido reitor (1968) do seu Liceu. Republicano, liberal e laico (integrou o grupo Renovação Democrática, em 1932), entusiasta do associativismo (Mutualidade de Faro, Socorros Mútuos da Região-Plano Sul, Santa Casa da Misericórdia, Rotary Clube de Faro), foi um dos fundadores e principal animador do Círculo Cultural do Algarve (1943), Cine Clube de Faro, Alliance Française, Associação dos Pais e Amigos das Crianças Deficientes, foi ensaiador de teatro escolar, desenvolvendo intensa actividade cultural e cívica na região do Algarve. É disso exemplo as inúmeras conferências sobre Manuel Teixeira-Gomes, João de Deus, Cândido Guerreiro, Bernardo Passos, Emiliano da Costa e António Aleixo. Colaborou em vários periódicos, como o Jornal do Algarve e o Algarve (onde foi seu director). Das animadas tertúlias que integrava, conhece António Aleixo (o café Calcinhas era local habitual), tomando o curioso lugar de seu “secretário” e editor da sua obra. A família doou (2010) o seu valioso acervo bibliográfico e documental à Biblioteca da Universidade de Faro, de muita importância para a história algarvia – ver nota biográfica in, Catálogo do Espólio Documental de Joaquim Magalhães (1909-1999)]

Joaquim Romero Magalhães fez a Escola Normal e o Liceu em Faro, partindo depois para Coimbra para cursar História na Faculdade de Letras. Em Coimbra, reside na Real República da Pra-Kys-Tão (à rua das Esteirinhas, Sé Velha), onde encontra uma geração lutadora e de resistência ao fascismo, frequenta as tertúlias culturais e intervenção política, faz se sócio do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (presidente em 1963) e, em 1963, integrando a lista eleitoral vencedora do Conselho das Republicas, pela não homologação do candidato vencedor António Correia de Campos, toma o lugar de presidente da Direcção geral da AAC.

Em 1967, termina a sua tese de licenciatura, e pouco mais tarde, segue a carreira de professor do ensino secundário, até que, em 1973, enceta a carreira docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Ali presta as suas provas de doutoramento (1984); de Agregação (1993), sendo Catedrático, em 1994, e Catedrático Jubilado, em 2012.

No seguimento da revolução de Abril de 1974, toma parte, como deputado eleito pelo PS, nos trabalhos da Assembleia Constituinte (1975-1978). Foi secretário de Estado da Orientação Pedagógica (1976-1978), exerceu o cargo de Presidente do Conselho Diretivo da FEUC (1985- 1989 e 1991-1993), foi nomeado Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002), foi director da revista Oceanos (1999-2001), membro consultivo das Comemorações do Centenário da República (2009-2011) e dirigia a revista “Anais do Município de Faro”.  

Teve inúmeras distinções: Professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1989 e 1999); da Universidade de São Paulo (1991 e 1997); e da Yale University (2003); foi sócio correspondente estrangeiro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (2001); e a Universidade do Algarve atribuiu-lhe o título de doutor honoris causa, no passado dia 12 de Dezembro de 2018.  Em 2002 foi condecorado com a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique,

Da sua vasta e importante bibliografia, muita publicada em revistas da especialidade, registemos as seguintes obras: Para o Estudo do Algarve Económico durante o século XVI (1970; foi depois reed. 1993) | 1637: Motins da Fome (1976) | A Pedagogia e o Ideal Republicano em João de Barros (1979; nota introdutória) | E assim se abriu judaísmo no Algarve (1981; separata) | Alguns aspectos da produção agrícola no Algarve (1987; separata) | Alvorecer da Modernidade, vol. III da História de Portugal dirigida por José Mattoso (1993, coordenação) | Tranquilidade: história de uma companhia de seguros (1997) | Vem aí a República! 1906-1910 (2009) | Miunças (III títulos publicados entre 2001-2013) | Os combates do cidadão Manuel Ferreira Martins e Abreu (2010) | “Economia, instituições e império” (2012; livro de estudos em homenagem ao professor Romero de Magalhães) | João Chagas; a escrita como arma (2014) | Provocações: por dever de Ofício 1987-2014 (2017) |

Faleceu a 24 de Dezembro de 2018, em Coimbra

J.M.M.

Sem comentários: