LIVRO:
A Maçonaria Portuguesa. As suas ideias e a sua relação com a sociedade e as forças políticas;
Autor:
António Lopes;
EDIÇÃO:
Âncora Editora, Maio de 2023, 744 p.
LANÇAMENTO:
DIA:
2 de Junho de 2023 (18,00 horas);
LOCAL: Feira do Livro de Lisboa,
Parque Eduardo VII (Palco Praça Amarela);
ORADOR: Dr. Fernando Marques da
Costa;
► “ … Este estudo é o resultado de uma investigação e reflexão sobre a relação da Maçonaria com as oposições ao Estado Novo, num período pouco abordado, lacuna cujas causas tanto podemos ver no seu tempo recente, como no facto do assunto ser frequentemente remetido para um certo nicho de secretismo, como ainda por uma nítida dificuldade em o abordar pela escassez de documentação e também pela cristalização de alguns mitos. Temos, portanto, consciência da dificuldade de enfrentar esta temática num território relativamente virgem, com todas as desvantagens de que tal se reveste.
Pretende-se, mais do que apresentar nomes, ainda que estes sejam importantes, refletir sobre as ideias que circulavam nas lojas maçónicas ou entre os maçons e as suas relações com os movimentos de oposição à Ditadura, contribuindo para a emergência de uma ideia global sobre o pensamento e a prática maçónica durante este período. Visíveis na correspondência das diversas Lojas, nos trabalhos desenvolvidos pelos maçons e, mais raramente, nos já muito poucos testemunhos orais, essas informações permitem colmatar espaços e traçar um quadro da atividade da Maçonaria numa época que à primeira vista se afigura desértica. Pretende-se ainda perceber os momentos de maior mérito, de vivida dificuldade ou de ausência e de presença nas grandes questões sociais e políticas do país ou ainda as flutuações ou mesmo alterações no discurso dos dirigentes maçónicos enquanto tal ou no âmbito da sua atividade política. Por isso não é uma abordagem desapaixonada.
[…] Ainda que o Estado Novo tenha o seu início em 1933, por motivo de contextualização, o período cronológico abrangido vai do golpe de 28 de maio de 1926 à revolução de 25 de abril de 1974. Período longo, mas que interessa abordar de forma única, permitindo por isso verificar linhas dominantes que justificam coerências ideológicas ou posições conjunturais decorrentes de fenómenos políticos momentâneos e que possibilitam a justificação de alguns acontecimentos. E esta é outra dificuldade inerente a este projeto, que por ser um espaço temporal longo e acrescido da necessária contextualização, implica uma gestão que oscila entre o seu gigantismo e o evitar de quaisquer riscos de superficialidade.
Dividimos a história da Maçonaria e da sua relação com os movimentos oposicionistas ao Estado Novo em três grandes períodos: o primeiro, a Ditadura Militar, entre 1926 e 1933, porque nos permite compreender o ambiente antimaçónico persistentemente construído, com as propostas e anseios da direita republicana, boa parte presente nas Lojas do GOLU (Grande Oriente Lusitano Unido), e ainda porque nos permite perceber as bases ideológicas e estruturais do regime, assim como as convulsões políticas vividas no início da década de trinta e, naturalmente, o trabalho desenvolvido nas Lojas, incluindo as suas próprias contradições ou derivas.
[…] O segundo período vai de 1933 ao início da década de sessenta. É um período longo, e ainda que diferente antes e depois da II Guerra Mundial, em que o regime persiste em nada mudar, mesmo vindo a ser obrigado a fazê-lo face às contingências da Guerra Fria. É um período onde não são claras as fronteiras entre os movimentos republicanos e socialistas e a Maçonaria, onde a ilegalização da Maçonaria constitui um momento marcante, e onde muitos protagonistas atuam simultaneamente em papéis, estruturas e funções diferentes.
[…] O terceiro período, a década de sessenta e a década de setenta até à Revolução de 1974, é aquele em que o regime se mostrou mais desadaptado às novas realidades políticas, sociais e económicas, do país e do mundo, enfrentando novas formas de oposição, que desconhecia e para as quais não estava preparado, nomeadamente por novas camadas sociais, por novas forças políticas e recorrendo com mais frequência a ações de confronto direto.
[…] Este trabalho tem também por intenção que não se percam nas brumas do esquecimento todos aqueles que lutaram pela Liberdade, à sua maneira, de acordo com as suas ideias, numa tarefa árdua e persistente, almejando uma sociedade melhor. Por isso, complementarmente são elencados muitos dos nomes que construíram esse pensamento e as ações de oposição ao regime.
[…] A Maçonaria atravessa todo o período da Ditadura com momentos diferenciados. Mais viva, mais discreta, mais ou menos organizada, até mais ou menos interventiva, mas em todos eles conspirando para mudar o regime e trazer a Portugal a chama da Liberdade. Por isso, a este propósito, em entrevista concedida à RTP em 1988, Adelino da Palma Carlos lembrava que o que faz alguém entrar para a Maçonaria é o amor à Liberdade e a vontade de lutar pela Liberdade.
[in Nota Prévia – sublinhados nossos]
J.M.M.
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