LIVRO: José Boavida Portugal – Da Liberdade à Democracia. Centenário de uma conferência maçónica;
AUTOR: José Boavida Portugal, com texto
de José Herculano e capa de Sara Sampaio.
► Trata-se da
reprodução de uma Conferência – Da Liberdade
à Democracia - proferida pelo jornalista republicano e maçon José Boavida
Portugal (1885-1931), a 10 de Junho de 1823, em Sessão Magna da Loja Irradiação
(Lisboa) e que saiu em competente opúsculo, pela livraria Central Editora. Esta
memória apresenta com uma curiosa biografia do conhecido jornalista do jornal
República e amigo do poeta Fernando Pessoa.
“ Em Sessão Magna da Loja Irradiação, do Grande Oriente Lusitano Unido, a 10
de Junho de 1923, José Boavida Portugal apresenta a conferência Da Liberdade
à Democracia, que nesta data de centenário recuperamos para a memória
viva dos homens e mulheres livres e de bons costumes. A transcrição é fiel ao
original em tudo menos na ortografia, onde optámos por utilizar uma norma
ortográfica um passo mais à frente no caminho da contemporaneidade.
Um Século está naquele ponto em que o nosso olhar encontra tanto de familiar
quanto de estranho. O passado ainda não está no ponto em que tudo nos parece um
conjunto disperso de pedras desgastadas, deslavadas de todas as suas cores
originais, de quotidianos perdidos, mas a sua interpretabilidade já nos obriga
a estudos e cautelas.
A República ainda é jovem de doze anos, a Grande Guerra acabou ainda não há
cinco anos. Na Rússia a vitória bolchevista na guerra civil ainda está a seis
dias de distância. Mussolini chegou ao poder em Itália há apenas oito meses. Na
Alemanha os que se crerão senhores do mundo ainda discursam o ódio pelas cervejarias
da Baviera e se envolvem em pancadarias pelos becos. Em Nova Iorque vivem-se os
loucos anos 20 e a euforia bolsista, que durará ainda mais seis anos.
Em Portugal a promessa da República tarda em se cumprir; facções lutam com
outras facções, há golpes e assassinatos. Mas há também vigor de ideias, e o
tempo está prenhe de imensas possibilidades.
Como ler este tempo? Como ver esta época? Comecemos por ler quem a viveu,
quem a sonhou. Criticamente, sim, mas tendo a noção plena que os homens não
nascem nem se desenvolvem num vazio social, e que por muito que queiram
iluminar os cantos mais sombrios da sua época, por muito que abracem o
progresso e as causas progressistas, são ao mesmo tempo fruto vivo dessa mesma
época e das suas convenções. Leitores críticos, sempre, juízes, nunca. A
estranheza que sentimos ao olhar estes cem anos de distância sentirão em
relação a nós os vindouros. A vida não é uma sequência de portos, mas uma
infindável viagem”.
[José Herculano]
“Eu não sei em que altura da vida o homem exerceu a sua inteira liberdade. E, se liberdade também quer dizer possibilidade, o problema torna-se mais obscuro: o exercício pleno da vontade só devia ter sido possível ao homem selvagem, ao homem isolado e ainda a sua fantasia – a sua vontade não inteiramente subordinada à razão – o havia de torturar, pondo-lhe muitas vezes diante o impossível.
Todavia, a palavra mágica Liberdade resume toda a história do homem. E é hoje a sobrevivência do primeiro grande sonho do homem. Se existiu, pouco durou o estado de liberdade pura e independência absoluta, porque o instinto de sociabilidade, para a família, para a grei, cedo fez que a Liberdade se transfundisse no Direito.
O Direito […]”
[in Da Liberdade à Democracia - sublinhados nossos - LER AQUI]
J.M.M.
1 comentário:
O ano correcto de nascimento de José Boavida Portugal é 1885.
Cordialmente,
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