António
de Macedo nasce em Lisboa a 5 de Julho de 1931, curiosamente na rua da Rosa
(nº9), no mesmo prédio onde nasceu Camilo Castelo Branco [revista Lusophia, nº
44, ibidem]. Depois de fazer os seus estudos secundários ingressa na Faculdade
de Letras da Universidade Clássica e, posteriormente, segue para a Escola
Superior de Belas Artes, onde se formou (1958) em arquitectura.
Durante
oito anos (1958-1964) exerce a profissão na Câmara Municipal de Lisboa. Funda, em
1958, com o escritor Manuel de Seabra e Carlos Gama, a curiosa editora “Clube
Bibliográfico Editex” [sediada em Lisboa, na rua do Fala-Só], que persiste
durante três anos. Nesse período, de jovem arquicteto, realiza os seus
primeiros filmes [“Ode Triunfal”, “Verão Coincidente” (1962 – filme inspirado
num poema de Maria Teresa Horta), “Nicotiana” (1963)]. Publica, ainda, os seus
primeiros livros – “Evolução Estética do Cinema” (1959), “Da Essência da
Libertação” (1961). Abandona em 1964 o seu lugar na Câmara Municipal para se dedicar
a tempo inteiro à actividade de cineasta, escritor e professor.
“Foi
o primeiro a ir a Veneza, o primeiro a estar em Cannes, o primeiro a filmar um
nu integral, a usar jazz e eletrónica; é o único cineasta com obra contínua no
campo do fantástico e ninguém sabe, ninguém se lembra” [João Monteiro – AQUI]
A sua
extensa actividade de cineasta, com “cerca de uma dezena de longas-metragens e
quase meia centena de curtas-metragens”, de forte pendor experimental, inclui longa-metragens
e alguns dos nossos melhores documentários e filmes de intervenção sociopolítica.
António de Macedo, injustamente esquecido, foi, de facto, um vanguardista, um
esteta militante e integra, seguramente, a historiografia do “novo cinema
português”.
Refira-se, de entre as suas obras: “Domingo à Tarde” (1965,
versão do livro de Fernando Namora), “Sete Balas para Selma” (documentário de 1967,
com poemas de Alexandre O´Neill e musica do saudoso Quinteto Académico), “Almada-Negreiros
Vivo Hoje” (1969), “Nojo aos Cães” (1970 – filme que retrata manifestações académicas,
em versão Maio de 1968, e rapidamente proibido pela censura fascista), “A
Promessa” (1972, de Bernardo Santareno), “O Principio da Sabedoria” (1975 –
longa-metragem que marca definitivamente o seu momento de viragem para o
misticismo especulativo), “As Horas de Maria” (1976 – filme polémico que sofreu
duras críticas da Igreja Católica), “O Príncipe com Orelhas de Burro” (1978-
adaptação do romance de José Régio). “Os Abismo da Meia-Noite” (1983), “Fernando
Lanhas. Os Sete Rostos” (1988), “A Maldição de Marialva” (1989), “Chá Forte com
Limão” (1993). Foi homenageado pelo XXX Festival Internacional de Cinema da
Figueira da Foz (2001), “pela relevância da sua carreira e pelo contributo
prestado à cultura cinematográfica portuguesa”. A Cinemateca Nacional realizou
uma restrospectiva da sua obra fílmica, em 2012, publicando um copioso e
curioso catálogo. Nesse mesmo ano foi-lhe atribuído o prémio “Sophia”, atribuído
pela Academia Portuguesa de Cinema. Em 2013, o Fantasporto prestou-lhe uma
dedicada e justa homenagem.
António
de Macedo, a partir de 1971, leccionou em diversas instituições [IADE, Lusófona,
Universidade Moderna e Universidade Nova de Lisboa (onde lecionou um curso
livre de “Introdução ao Estudo do Esoterismo Bíblico”), foi investigador das
tradições esotéricas e iniciáticas (em especial o gnosticismo cristão) e especialista
em religiões comparadas, estudioso do hermetismo, da história da filosofia
portuguesa, da literatura fantástica e da ficção cientifica, tendo sido membro
da Fraternidade Rosacruz (a partir de 1980 – tendência Max Heindel) e “alquimístico”
(como gostosamente se denominava).
Com
participação em inúmeras conferencias e colóquios, publicou ensaios, ficção e peças
de teatro, sendo de referir, entre a sua vasta bibliografia: “Instruções
Iniciáticas” (1999), “Laboratório Mágico” (2002), “O Neoprofetismo e a Nova
Gnose” (2003), “As Furtivas Pegadas da Serpente” (2004, ficção), “Esoterismo da
Bíblia” (2006), “Textos Neo-Gnósticos” (2006), “Cristianismo Iniciático”
(2011). Dirigiu a colecção “Bibliotheca Phantastica” (da Hugin), tendo sido um
dos promotores dos “Encontros Internacionais de Ficção Científica &
Fantástico de Cascais” (desde 1996).
Morre a 5 de Outubro de 2017.
J.M.M.
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