sábado, 30 de dezembro de 2006

AS NOSSAS TRÊS PRIMEIRAS ESCOLHAS

O Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910 vol.III (N-Z) (coord. Maria Filomena Mónica, Instituto de Ciências Sociais / Assembleia da República - Parlamento) é uma obra imprescindível e fundamental para todos aqueles que querem compreender melhor os protagonistas de uma época, tanto do campo republicano como principalmente monárquico. Os três volumes que constituem esta obra, em nossa opinião, tentam ultrapassar uma lacuna muito importante da nossa produção historiográfica: conhecer melhor as actividades parlamentares de algumas das figuras que ficaram perpetuadas, ou algumas vezes esquecidas, na toponímia do nosso país. A dimensão da obra e a variedade de colaboradores são um marco na historiografia portuguesa. Os milhares de verbetes sobre as personalidades que marcaram a história política de Portugal, durante o século XIX e início do século XX, reunidos numa obra de conjunto, são uma mais-valia que não pode ser esquecida. A obra centra-se mais nas intervenções parlamentares e nos trabalhos desenvolvidos no Parlamento do que na biografia das personalidades. É assim um trabalho que consideramos fundamental e de consulta obrigatória para quem estuda o período em questão. Apresenta também um instrumento de trabalho fundamental, a bibliografia consultada. Na segunda posição, colocamos o novo trabalho de Fernando Catroga, Entre Deuses e Césares - Secularização, Laicidade e Religião Civil (Almedina). Neste ensaio sobre a questão da laicidade e da secularização, o autor deixa de se centrar somente em Portugal e aventura-se a tentar acompanhar estes problemas pela Europa. Nesta obra, o autor procura estudar a evolução da laicidade e da secularização, essencialmente desde a Revolução Francesa até à actualidade. As quatro partes em que a obra está dividida são: Secularização e Tolerância Civil, Secularização Política e Religião Civil, Laicidade e Laicismo, Diversidades e Metamorfoses. Sendo um caso pouco vulgar na nossa historiografia, um autor português estudar de forma abrangente um assunto que está na ordem do dia e que tanta polémica tem provocado, especialmente em França, é de destacar. Além disso, representa um aprofundar de temas que o autor já vinha a abordar desde A Militância Laica e a Descristianização da Morte em Portugal (1865-1911), Coimbra, 1988 [Tese de Doutoramento], que teve sequência na publicação de O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos (1756-1911), publicado na colecção Minerva História, Livraria Minerva Editora, 1999. O trabalho deste professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra é já considerado um dos melhores que se escreveu sobre esta matéria, não só no plano interno mas mesmo no plano internacional. A ler com toda a atenção para compreender o exercício intelectual de grande envergadura que lhe está inerente, porque o autor não se coíbe de emitir algumas opiniões, que transformam este trabalho numa obra que tem muito de reflexão pessoal. Finalmente, na terceira posição, porque é um dos assuntos a que temos vindo a dar algum enfase neste espaço: a história da imprensa portuguesa. A obra Jornais Diários Portugueses do Século XX - Um Dicionário (Mário Matos e Lemos, CEIS-UC/Ariadne) revela-se um instrumento de trabalho fundamental para quem necessita e gosta destes temas. Procurando essencialmente elaborar uma ficha (nome dos diferentes directores, editores, tendência política, dimensões, subtítulo...)sobre todos os [300] diários que existiram em Portugal durante o século XX, apresenta também um texto sobre a história da imprensa diária portuguesa que serve para complementar algumas lacunas que se encontram na obra clássica de José Tengarrinha, História da Imprensa Periódica Portuguesa, 1965. Este ano a imprensa foi contemplada com algumas obras fundamentais. Esta tem a vantagem de ser mais abrangente e muito útil para investigadores e mesmo curiosos. As fichas sobre os diferentes jornais são bastante completas e revelam um trabalho de investigação muito aturado. Os historiadores estão a recorrer cada vez mais aos jornais como uma fonte histórica de primordial importância, para se obter informações que ajudem a elaborar melhor um quadro explicativo da realidade num dado momento. Este trabalho publicado pela Ariadne Editora, em parceria com Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, merece todo o nosso apoio e é uma das nossas obras de eleição neste ano de 2006. Mário Matos e Lemos que entrou nesta "aventura" por desafio do professor Reis Torgal, acabou por ser apoiado com os conhecimentos da professora Isabel Nobre Vargues que assina a Nota de Apresentação. AABM

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