Ontem, assinalava-se também a data do nascimento de António Maria Machado Santos, (10-10-1875 a 19-10-1921) muitas vezes denominado "O Heroi da Rotunda". Desta vez não nos vamos preocupar em esboçar a biografia de um dos grandes responsáveis pela vitória da revolta republicana de 5 de Outubro de 1910, vamos antes tentar mostrar, com alguns exemplos, como esta figura foi sendo encarada ao longo do tempo.
João Augusto de Fontes Pereira de Mello, A Revolução de 4 de Outubro (Subsídios para a História). A Comissão Militar Revolucionária, Guimarães & Cª Editores, Lisboa, 1912, p. 18-19:
[Magalhães Lima afirmava numa reunião da comissão militar, que teve lugar a 6 de Outubro de 1909, e que tentava preparar a revolta ] - Veja bem que não há um único regimento que venha com o seu comandante!... E não há um chefe militar que ponha e disponha, enfim, que mande! ...Isto é uma perigosíssima aventura, uma loucura que o Machado Santos vai praticar, que certamente nos vai ficar muito cara, pois eu vejo evidente o insucesso!... E com um insucesso quantos anos vamos atrasar a implantação da República?!... Entretanto, o Machado Santos acha que tem muitos elementos, e todos prontos a entrar em acçao. Para ele tudo é côr-de-rosa, tudo facílimo ... é um optimista, tem fogo de mais.
Claudio Pereira, História do 14 de Maio, Imprensa Nacional, Lisboa, s.d., p. 109-110:
Machado Santos que na conjura para a revolução de 4 de Outubro, desempenhou um papel brilhante, importantíssimo, e que no acto revolucionário de então fo de uma heroicidade e patriotismo notáveis, comandando as forças revoltosas na Rotunda da Avenida da Liberdade, inequecível acto aquele que levou à implantação da República em Portugal, esteve também ao lado do governo ditatorial desde a sua formação.
Não queremos aqui discutir o porquê de tal atitude que também foi seguida por António José de Almeida e Manuel de Brito Camacho, chefes de partido, mudando-a porém, este último na véspera de rebentar o movimento de 14 de Maio [Pimenta de Castro]...
Esteve pois, Machado Santos ao lado da ditadura.
Ao rebentar a revolução que a derrubou, o ex-comandante da Rotunda refugiou-se no Quartel do Carmo.
Quer pelo facto ... de se ter refugiado, quer por constar que estava na disposição de, com um bom número de amigos, reagir contra o estado de coisas, por então, quer pela campanha violenta que há muito vinha fazendo a favor da ditadura no Intransigente, Machado Santos foi feito prisioneiro e conduzido para bordo dum navio de guerra.
Pediu então que se tornasse público que ele recomendava aos seus amigos, em nome da consolidação do regime, que reconhecessem o novo governo e o apoiassem para restabelecimento da ordem e da tranquilidade públicas.
António Maria da Silva, O Meu Depoimento. Da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, vol. I, Col. Documentos, República, Lisboa, 1974, p. 179:
[Luz de Almeida] convidou-me [António Maria da Silva] a ingressar na Carbonária com Machado Santos que eu conhecera aquando do 28 de Janeiro e cuja inteligente cooperação, actividade e faculdades de organizador muito admirava. Em seu entender, os nossos esforços poderiam assim congregar-se com manifesta e evidente vantagem. Concordei plenamente, outro tanto aconteceu com Machado Santos. Desse acordo, resultou a nossa iniciação naquele organismo, levada a efeito em Julho de 1908, na Rua do Benformoso, numa fábrica de licores pertencente ao velho carbonário e montanhês [pertencente à Loja maçónica Montanha], Acácio dos Santos, apadrinhados por Luz de Almeida.
José Relvas, Memórias Políticas, vol. I, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 72:
Em Machado Santos concorriam singulares condições para ser um terrível elemento de combate contra a Monarquia e um agente inquietante para os revolucionários. Pouco inteligente, mas sempre movido por fé inquebrantável, inalteravelmente, animado de uma magnífica confiança no êxito da Revolução, todo o seu trabalho convergiu para a coesão dos soldados de marinha, de preferência à acção que prosseguia junto de alguns elementos do exército de Terra. Por vezes foi o portador de verdadeiros ultimatos ao Directório, chegando a pôr em grave risco a preparação revolucionaria com a ameaça da insurreição dos grupos da marinha, resolvidas todas as audácias, apeasr da reduzida força numérica.
Em Julho e Agosto de 1910 estiveram iminentes algumas tentativas dessa natureza, e foi preciso toda a autoridade do Directório e foram necessárias todas as garantias para impedir actos, que seriam de verdadeira loucura. Dotado de dedicação
e de sinceridade inigualáveis, era contudo Machado Santos perigoso; para a Monarquia, porque a sua irreflectida coragem podia feri-la de morte, num lance de audácia e de fortuna, como veio a suceder com a sua permanência na Rotunda, contra todas as indicações estratégicas; era perigoso para a República porque tendia sempre a precipitar a acção revolucionária em termos de lhe fazer correr riscos, porventura irremediáveis.
Fernando Honrado, Os Fuzilados de Outubro de 1921, Acontecimento, Lisboa, 1995, p. 11:
Machado Santos - como é sabido -foi um conspirador apaixonado contra a Monarquia.E também, sem dúvida, um espírito inconformista, sem cedências, em relação à República que idealizou e aquela que se tornou realidade. Um caso de busca intensa para pôr de acordo ideal e real.
Com a implantação da República tornou-se político muito importante no novo regime. E, muito rapidamente, um crítio duro do que considerava desvios ao ideal republicano. Deste modo, um dos políticos que mais foi por ele combatido foi Afonso Costa. Logo em 1913, em Abril, envolveu-se na revolução contra o Governo presidido pelo chefe do Partido Democrático.
A.A.B.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário