terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

BREVE RESUMO DA REVOLTA ESTUDANTIL DE 1907


Os acontecimentos iniciaram-se no dia 28 de Fevereiro de 1907, quando José Eugénio Dias Ferreira foi reprovado no seu acto de doutoramento(Conclusões Magnas), em plena Sala dos Capelos. O candidato era desconhecido para a maioria dos estudantes da época porque tinha terminado o bacharelato em Direito em Outubro de 1903. Enquanto estudante não tinha assumido papel de destaque na comunidade estudantil conimbricense, mas como eram poucos os estudantes que se candidatavam a este acto, alguns tiveram curiosidade em assistir ao acto solene, especialmente porque começou a correr o boato que o candidato seria reprovado. Este facto acabou por provocar a enchente na Sala dos Capelos que assistiram, como refere Alberto Xavier:

[os professores da Faculdade de Direito] concluiados, combaterem o candidato, desqualificá-lo perante a assistência e conduzi-lo a uma situação de estenderete retumbante. Cada membro do júri, incumbido de intervir no exame, desenvolvia o interrogatório com questões de mesquinho interesse, enunciadas com voz e vivacidade teatral de gestos. O candidato propunha-se responder, esboçava a sua defesa. Mas os professores arguentes interrompiam-no constantemente, não o deixando prosseguir; aguçavam o timbre das suas vozes de sorte a abafar, totalmente, a voz do arguido. Os examinadores continuavam a bradar. Em dado momento, um deles, já sem consciência da sua incompreensível exaltação, chegou a gritar para José Eugénio Ferreira, estupefacto e humilhado:
- Cale-se, senhor, cale-se!
Foi o cúmulo! Não podia ter sido mais desoladora e incrível cena dramática desenrolada na solene e majestosa Sala dos Capelos, diante dum público pasmado, prestes a manifestar-se, mas esforçando-se por dominar o seus sentimentos de indignação. Esboçaram-se murmúrios, logo abafados pela intervenção do Reitor.
[p. 67]

Os estudantes de Coimbra, em primeiro lugar assumiram a revolta como uma questão política e não concordaram com a decisão dos professores de Direito que, por unanimidade reprovaram o acto do candidato. Organizaram uma manifestação que conduziu José Eugénio Dias Ferreira desde o pátio da Universidade até à sua residência na Arregaça, em Coimbra.

Os estudantes que foram punidos com a pena de expulsão da Universidade,na sequência destes acontecimentos foram: Carlos Olavo, Campos Lima e Amilcar Ramada Curto [por dois anos lectivos].

Expulsos por um ano foram: Alberto Xavier, Pinto Quartim, Francisco Mendes Preto, José Rebelo de Pinho Ferreira Júnior.

Nove estudantes que foram indiciados acabaram por ser considerados isentos de culpa por falta de provas: Adelino Furtado, Júlio Dias da Costa, Adriano de Sousa e Melo, Ernesto Carneiro Franco, Vasco Correia da Rocha, Manuel Gregório Pestana Júnior, Francisco António do Vale, Afonso Henriques Duarte de Vasconcelos, Ernani Rebelo Peixoto de Magalhães, Fernando de Reboredo.

Na sequência dos acontecimentos de 28 de Fevereiro a 1 de Março a Academia reuniu-se e pediu a realização de um inquérito ao acto de conclusões magnas, enquanto João Franco solicitava a intervenção do Reitor para punir os estudantes que se manifestavam.

[Na imagem acima os estudantes expulsos por dois anos: da esquerda para a direita Campos Lima, Ramada Curto e Carlos Olavo]

Nos próximos dias continuaremos.

A.A.B.M.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não se tratou de acto de licenciatura, mas de conclusões magnas (correspondente ao actual doutoramento) que era seguido da imposição das insígnias.
LBC

Anónimo disse...

Grato pela correcção e pela atenção com que nos leu. A versão inicial deste post tinha na realidade essa terminologia, porém a leitura de Alberto Xavier confundiu-nos e cometemos este lapso. O nosso agradecimento público a LBC pelo seu contributo.