terça-feira, 24 de abril de 2007

OS QUE ARRANCARAM EM 28 DE MAIO DE 1926


A revolução recebeu inicialmente apoio de variadas facções, de anarco-sindicalistas a católicos, passando por seareiros, integralistas, republicanos conservadores e monárquicos, mas cujos líderes foram sucessivamente devorados (primeiro Cabeçadas e depois Gomes da Costa), até se atingir a estabilidade com Carmona, muito devido ao apoio do Ministro das Finanças, Oliveira Salazar que, pouco a pouco, emergiu como verdadeiro líder. Com efeito, Gomes da Costa, Cabeçadas e Carmona foram as três principais figuras durante três meses. Gomes da Costa iniciou o movimento revoltoso em Braga, às 6 horas da manhã do dia 28, enquanto em Lisboa, uma Junta de Salvação Pública, liderada pelo Almirante Cabeçadas, lançou uma manifesto. No dia 29, depois da guarnição de Lisboa aderir a Gomes da Costa e de Carmona, que se encontrava em Elvas, assumir o comando da 4ª divisão, instalada em Évora, já o governo de António Maria da Silva apresentou a demissão. No dia 30, Mendes Cabeçadas aceitou o convite de Bernardino Machado para assumir a presidência do ministério e a pasta da marinha, acumulando interinamente todas as outras pastas, enquanto Gomes da Costa determinou que todas as forças militares avançassem sobre Lisboa. No dia 31, por ordem do ministro da guerra, foi encerrado o Congresso da República, enquanto Bernardino Machado apresentou a sua demissão perante aquele que fora obrigado a nomear presidente do ministério, Mendes Cabeçadas.


- General Gomes da Costa (Nasce em Lisboa em 14-1-1863, comandante militar do CEP durante a I Guerra Mundial, adere ao movimento revolucionário só a 25 de Maio de 1926, apesar de ter sido convidado em Fevereiro desse ano por Mendes Cabeçadas; em 17 de Junho desse ano depõe Mendes Cabeçadas e a 9 de Julho ele próprio é deposto por Fragoso Carmona; a 11 de Julho parte para o exílio nos Açores; regressa a Lisboa em 21 de Novembro de 1927 e morre a 17 de Dezembro de 1929)



- Almirante José Mendes Cabeçadas (Nasce em Loulé a 19-8-1883, republicano, fundador da República, iniciado na Maçonaria em Lisboa, na Loja Pureza, com o nome de Adamastor em 4-4-1911; em 19-7-1925 revolta-se a bordo do cruzador Vasco da Gama; em Março de 1926 adere à União Liberal Republicana de Cunha Leal; na mesma altura contacta o general Alves Roçadas para liderar o movimento militar que estava a ser preparado; em 31-5-1926 recebe de Bernardino Machado o poder presidencial e de chefe de governo; em 1945 adere ao MUD; em 14-7-1947 é reformado compulsivamente e em 22-6-1947 é preso acusado de presidir à Junta Militar que tentara realizar o golpe frustrado de 10 de Abril; morre em Lisboa em 11-6-1965).


- Óscar Fragoso Carmona(Nasce em Lisboa a 24-11-1869; apoia Sidónio Pais durante o seu consulado e é nomeado comandante da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas; assume a função de Ministro dos Negócios Estrangeiros em Junho de 1926 e no mês seguinte começa a desempenhar o cargo de presidente do Ministéri; em 1928 foi eleito Presidente da República; morre em Lisboa a 18-04-1951).

- José Augusto Alves Roçadas (Nasce em Vila Real, em 6 de Abril de 1865;morreu em 28 de Junho de 1926 [Corrigenda: leia-se 28 de Abril de 1926].Desde o seu regresso ao continente, fez parte do grupo que em torno de Sinel de Cordes, preparou a conspiração que levou ao golpe de 28 de Maio de 1926, sendo o chefe indicado para tomar o poder mas a sua doença afastou-o das ocorrências)



- Francisco Pinto da Cunha Leal (Nasce em Pedrógão, Penamacor, a 22 de Agosto de 1888; morre em Lisboa, a 26 de Abril de 1970)
[Apoiante do golpe de estado de 28 de Maio de 1926, foi escolhido para vice-governador do Banco Nacional Ultramarino, mas a eternização da ditadura leva-o para a oposição ao regime militar]

- Francisco Rolão Preto (nasceu no Gavião, em 12 de Fevereiro de 1896 e morreu em Lisboa em 18 de Dezembro de 1977. Foi um dos fundadores do Integralismo Lusitano, e «Chefe» do Nacional-Sindicalismo português.
Foi também o redactor dos 12 pontos do documento distribuído em Braga no começo do movimento militar de 28 de Maio de 1926, que instaurou a ditadura militar.
Em 1930, dirigiu com David Neto e outros sidonistas a Liga Nacional 28 de Maio, grupo de origem universitária, que se auto proclamara defensora da Revolução Nacional.)

- David Rodrigues Neto (nasceu em Algoz –Silves, a 31-3-1895, assentou praça em 1916, combateu em França, tendo sido feito prisioneiro dos alemães na Batalha de La Lys. Participou activamente na conspiração que conduziu ao golpe de 18 de Abril de 1925, colaborou ainda no denominado o “golpe dos Fifis”. Formou-se em Direito em 1926. Tomou parte activa na preparação do 28 de Maio e na repressão das revoltas de Fevereiro de 1927. Afastando-se do regime salazarista encontramo-lo anos mais tarde a apoiar a candidatura de Quintão Meireles, e, em 1958, participa na campanha do general Delgado. Faleceu em Portimão em 1971).

- Sinel de Cordes (militar participou no CEP, companheiro de o general Gomes da Costa na frente de batalha europeia, participante no 18 de Abril de 1925, foi chefe de gabinete do ex-Ministro Sebastião Teles, considerado um dos mentores da revolta de Maio)

- Filomeno da Câmara (republicano, colonialista, governador de Timor, foi um dos líderes da conspiração de 18 de Abril, no início da revolta parte de Lisboa para o Porto onde consegue a adesão dos líderes militares da cidade)

- Aníbal Lúcio de Azevedo (Nasceu em Lagos em 13-11-1876; obteve a sua formação em engenharia; foi presidente do Conselho Administrativo da Casa da Moeda, republicano, assumiu as funções de deputado e de ministro do Comércio em 1920; faleceu em 14-1-1952, em Queluz)

- Henrique Trindade Coelho (Nasce em 1-7-1885, advogado, jornalista; foi director do jornal O Século; foi também ministro de Portugal em Roma e junto do Vaticano; foi um dos fundadores da Cruzada Nun' Álvares-1921- e apoiou a revolução de Maio de 1926; faleceu em Sintra a8-10-1934)

- José Raúl Esteves [corrigenda: Raúl Augusto Esteves](foi considerado um dos mentores do 28 de Maio, porque esteve preso no Forte de Graça em Elvas, com Sinel de Cordes e Filomeno da Câmara que tinham participado na tentativa de 18 de Abril, tendo negociado com Luiz Charters de Azevedo um dos chefes civis da revolta de 28 de Maio).

- coronel Abílio Augusto Valdez de Passos e Sousa ( nasceu em 1881, combatente na Grande Guerra, após a consolidação da Ditadura Militar torna-se Chefe de Estado Maior do Exército; desempenhava as funções de governador do Forte da Graça, em Elvas, quando estiveram Sinel de Cordes, Filomeno da Câmara e Raúl Esteves estavam presos. Faleceu em 1966.)

- Luíz Charters de Azevedo (principal elemento civil da Revolução de 28 de Maio, conspirou para libertar os envolvidos na conspiração dos “Fifis”)

- Manuel Múrias

Participaram também:

- tenente Carlos de Vilhena;
- Meira e Sousa;
- Armando de Ochôa;
- João Pereira de Carvalho;
- Jaime Baptista;
- Tenente Mata e Silva;
- Tenente Lavoura;
- Tenente Urbano Valente;
- Tenente Marquês de Ficalho;
- Major Miguel Bacelar;
- Carlos Jacques (funcionário superior dos Correios e Telégrafos);
- Carlos de Oliveira (pertencia ao grupo conspirador civil que funcionava junto do jornal O Século);
- Miguel Couto (foi em sua casa que Gomes da Costa, se encontrou o major Mendes Norton, capitão Quadro Flores, capitão Pires de Campos, capitão Frazão, Gonçalves da Silva que constituíam o comité de Braga);
- Tenente Marquês de Ficalho;
- Dr. Alberto Cruz (médico).

Foto: Primeiro Conselho de Ministros (7 de Junho, presidido por Mendes Cabeçadas e que faziam parte Gomes da Costa e Óscar Carmona. Foto da Revista do Povo, nº9, Fevereiro de 1975]

[Corrigendas realizadas no dia 26/04/2007: solicitados por LBC, que muito agradecemos, procedemos a duas corrigendas no nosso trabalho que vêm devidamente assinaladas. O nosso agradecimento aos leitores como LBC que nos lêem com atenção e nos corrigem alguns erros.]

A.A.B.M.

6 comentários:

Anónimo disse...

O nome simbólico de Cabeçadas foi inspirado no do cruzador em que servia a 4 de Outubro de 1910.
Amâncio de Alpoim: podem indicar-me a pista que os leva a relacioná-lo com o 28 de Maio?
Permitam-me: Raúl Augusto Esteves e não José Raúl Esteves. Ainda, Mendes Norton era oficial de Marinha. Por último, Alves Roçadas faleceu a 28 de Abril de 1926.
Com a muita admiração e amizade do
LBC

Anónimo disse...

Como sempre agradecemos os esclarecimentos e as correcções, especialmente do nosso amigo LBC (que nos acompanha desde o início), pois certemente algumas coisas vão falhando.
Este trabalho que desenvolvemos por gosto, de forma gratuita, com o intuito de transmitir alguns conhecimentos a quem nos vem visitar, e, de preservar a memória de alguns factos e acontecimentos, que para muitos hoje são só "poeira de arquivo", leva-nos a trabalhar, após o cumprimento das nossas obrigações profissionais e familiares, ou seja prolonga-se noite dentro, quando a
concentração por vezes começa a falhar o que nos leva a cometer lapsos e incorrecções.
Não servindo isto de desculpa para nada, só nos podemos culpar a nós próprios, neste caso, eu assumo os meus erros de consciência tranquila. Fiz o que podia, como podia e com as condições que tenho.
Posto isto, esclareçamos alguns dados: as achegas biográficas sobre as personalidades que publicámos, são isso mesmo, pequenos retratos de alguns dos homens que se destacaram no 28 de Maio. No caso de Mendes Cabeçadas, apesar de existirem poucos estudos sobre esta personalidade, temos outros elementos que por agora ainda não publicamos, por ainda não ser o momento oportuno; a questão da escolha do seu nome simbólico terá sem dúvida a ver com o facto que refere.
Quanto à participação de Amâncio de Alpoim no 28 de Maio, não a encontramos nem a referimos, referimo-nos sim à sua adesão à greve de 1907.
Quanto à confusão de nomes:Raúl Augusto Esteves é que deveria constar e não José Raúl Esteves (mea culpa).
Por fim, surgiu-nos a dúvida: Alves Roçadas terá falecido em que data? Em 3 obras, e no Portal da História (www.arqnet.pt)a data de morte apontada é a que consta no Dic. História de Portugal (dir. Joel Serrão)- obra de referência (também com lapsos); na realidade, o Prof. José Adelino Maltez, na sua obra Trdição e Revolução, refere a data de 28 de Abril e fomos pequisar na Hemeroteca Digital (Capital, 28 de Abril 1926, p. 1) que confirma a morte do General Alves Roçadas nesta data.
As duas correcções que sugere vão ser realizadas no texto com a devida nota e o nosso agradecimento.
A.A.B.M.

Anónimo disse...

Peço o favor de entenderem as minhas "notas" tão só como uma forma de me associar a um trabalho que é admirável a todos os títulos. E mais, uma forma de diálogo com amigos!
Ainda quanto à data da morte de Roçadas, noticiando 28 de Abril de 1926: Henrique Pires Monteiro, Alves Roçadas,Chefe Militar e Administrador Colonial, Cadernos Coloniais,Lisboa, Editorial Cosmos, s/d, pág. 52.

Anónimo disse...

Reparo agora no meu lapso. Queria escrever Aníbal Lúcio de Azevedo e escrevi Amâncio de Alpoim. Mantenho pois a questão sobre a ligação do primeiro ao 28 de Maio.
Vosso amigo e admirador LBC

Almanaque Republicano disse...

Pessoalmente, não tenho o título que refere, embora conheça a colecção (Cadernos Coloniais)e tenha pessoas de família que o possuem por minha indicação. Quanto a Aníbal Lúcio de Azevedo, encontramos referências, salvo erro, em Oscar Paxeco, "Os que arrancaram em 28 de Maio", porém consultámos outras obras tanto de natureza histórica ou memorialística, onde esse nome aparecia referido.
Sempre grato pela atenção que nos dispensa.
A.A.B.M.

Anónimo disse...

Falta a referência a Armando Humberto da Gama Ochôa!