domingo, 1 de julho de 2007

MANIFESTO DO CENTRO PROMOTOR DE MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS


"... Depois de ouvir o alarido das greves e o estrondo das batalhas, acordou de sobressalto, levantou-se e, estendendo os olhos pelo horizonte, viu ao longe um clarão imenso: eram as chamas ateadas pela Revolução Operária de Paris, nos Paços do Poder momentaneamente derrubado. O operariado já não deve ser como o irracional, a que soltam do trabalho só o tempo necessário para dormir e refazer-se das forças, e a que dão o alimento indispensável somente para não morrer. O operário deve ser um homem com os meios precisos para viver bem; com o tempo suficiente para se instruir e descansar; deve ser um homem no pleno gozo do seu trabalho e no uso perfeito das suas faculdades e dos seus direitos. No mundo social vai, necessariamente, dar-se uma transformação extraordinária, porque não é possível continuar o escândalo absurdo dos trabalhadores morrerem de fome e dos ociosos morrerem de fartura. Quais serão, porém as causas de tamanha calamidade? Nos debates que se deram a respeito do pleito social, o Centro apurou as seguintes causas:

- Opressão, porque só o filho do operário, porque não tem dinheiro para remir-se, serve a Pátria na qualidade de soldado;
- Falta de autoridade, porque o trabalhador não é admitido na administração das coisas públicas;
- Falta de ciência, porque o operário não tem tempo para se instruir, e porque a ciência é monopolizada de modo a que fica só ao alcance dos abastados;
- A má interpretação da propriedade rural, que obriga, aos trabalhadores rurais, a irem para a América a substituir os escravos, ficando inculta a terça parte do País;
- O predomínio, exagerado do dinheiro, que diminui consideravelmente o produto do trabalho individual; e
- A fraqueza individual.

A primeira causa destrói-se pelo serviço militar obrigatório, sem exército permanente; a segunda fazendo derivar a autoridade administrativa do sufrágio universal; a terceira pela liberdade do ensino, sendo o primário gratuito e obrigatório; a quarta não consentindo que alguém seja dono de terrenos incultos, entregando-os estes ao município, obrigando-os a cultivá-los e a empregar os produtos em utilidade pública; a quinta pela troca de serviços e produtos, de sociedade com sociedade, evitando, quanto possível, o uso de numerário (moeda), e a sexta pela associação que produz a força, desenvolve e facilita os recursos ..."

[Manifesto do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, 1872]

J.M.M.

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