domingo, 26 de agosto de 2007
JOSÉ CARRILHO VIDEIRA (Parte I)
Nasceu em Marvão a 6 de Novembro de 1845, filho de João Carrilho Videira e de Teresa de Jesus Paula e Sequeira. Aos dezasseis anos abandona a vida agrícola, que seu pai exerce, porque era proprietário abastado.
Realiza os seus estudos no Liceu de Portalegre, e ali inicia a colaboração na imprensa, começando por escrever na Gazeta de Portalegre, o primeiro periódico impresso naquela cidade.
Entre 1865 e 1868, realiza os estudos preparatórios em Coimbra, e, de forma anónima, encarrega-se de diversas correspondências para jornais, e em especial para a Correspondência de Portugal. Cerca de 1868 ou 1869 abandona Coimbra, e frequenta a Academia Politécnica do Porto. Em 1869 instala-se em Lisboa e matricula-se na Escola Médico Cirúrgica, que frequenta durante dois anos. Abandona o curso para se dedicar á profissão de livreiro e editor, fundando em 1871 a Nova Livraria Internacional.
O editor começou por militar no Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, mais tarde fundou a Internacional Operária, em Lisboa [Cf. Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da Formação ao 5 de Outubro de 1910, FLUC, Coimbra, 1991].
Na livraria de Carrilho Videira, na Rua do Arsenal, nº 96, começam a afluir um conjunto de jovens escritores e outros consagrados onde pontificavam José Falcão, Gilberto Rola, Elias Garcia, Rodrigues de Freitas, Gomes Leal, Nobre França, Silva Lisboa, Silva Pinto e Eduardo Maia, defensores da democratização da vida política portuguesa, que discutiam as novas ideias: a República, o federalismo, a democracia … [Magalhães Lima, In Memoriam do Doutor Teófilo Braga, Imp. Nacional, Lisboa, 1934].
Em 1873 fundou o jornal O Rebate, semanário de que saíram 32 números, tendo iniciado publicação em 29 de Junho de 1873 e terminado a sua existência em 27 de Fevereiro de 1874. Carrilho Videira foi um dos redactores e teve como colaboradores Eduardo Maia, Silva Pinto, visconde de Paiva Manso, Sérgio de Castro, António Joaquim Nunes, Leão de Oliveira, Horácio Esk Ferrari, José Manuel Martins Contreiras, Sebastião de Magalhães Lima, Mariano de Carvalho (Pai), e dr. Teófilo Braga: mas, este último e o primeiro (Carrilho Videira), foram os que sustentaram por mais tempo a sua colaboração. Este jornal dizia-se adepto da “doutrina republicana radical socialista”. Segundo Amadeu Carvalho Homem, Carrilho Videira procurava estabelecer pontes de “aproximação entre republicanismo e socialismo”, sendo defensor de uma via federalista o que veio provocar várias cisões no seio da organização do Partido Republicano ao longo das décadas de setenta e oitenta do século XIX.
Este grupo federalista fundou em Maio de 1873, na sequência da proclamação da República em Espanha, o Centro Republicano Federal de Lisboa.
Coadjuvou em seguida a fundação da Europa, feita em Lisboa por emigrados espanhóis, e ali teve a seu cargo a secção portuguesa. Publicou a República, de que saíram 102 números, o primeiro em 28 de Novembro de 1875 e o ultimo em 4 de Abril de 1875, colaborando neste jornal Consiglieri Pedroso.
Em 1876, envolveu-se em forte polémica com outros membros do Partido Republicano, ao ser acusado de espionagem a favor do Governo pois era acusado de ter contactos com o regenerador António Rodrigues Sampaio e de ter enviado correspondência anónima para Casimiro Gomes que terá ido para o Governo Civil de Lisboa. Devido a estas suspeitas acabaria por ser expulso pouco tempo depois da fundação deste clube. Ele fazia parte do primeiro Directório do Partido Republicano, que procurava abarcar todas as sensibilidades existentes, e tinha sido criado em Abril de 1876 e dando origem ao panfleto de Ladislau Batalha O Directório Republicano, Ed. Nova Livraria Internacional, Lisboa, 1876 que “não permitirá a conspurcação do seu amigo e mestre” [Carrilho Videira] como refere Jacinto Rodrigues aqui.
Em 3 de Dezembro de 1876 funda, juntamente com alguns dos expulsos, uma sociedade de pensamento denominada Clube Mundo Novo, de curta duração. A 2 de Janeiro de 1879 instalaram o Centro Republicano Federal, que se instalou no Largo do Contador Mor, nº 20, 1º e deste centro terá surgido em Setembro de 1879 o comité central do Partido Republicano Federal.
Em 1878, Carrilho Videira juntamente com Cecílio de Sousa e Teixeira Bastos organizam uma Junta Federal Republicana para patrocinar a candidatura de Teófilo Braga pelo círculo 94 [Alfama]. Ainda neste ano foi julgado em tribunal por se recusar a jurar sobre a Bíblia, conforme se referiu aqui.
O jornal republicano A Vanguarda, de que era redactor principal Teófilo Braga e proprietário Carrilho Videira, onde colaboravam também Teixeira Bastos, Silva Graça, Alves Correia e José António Reis Dâmaso. Começou a publicar-se em Lisboa a 12 de Maio de 1880 e termina em 25 de Dezembro de 1881.
Em 1881, a corrente federal dentro do Partido Republicano cinde-se devido à fundação do Clube Henriques Nogueira, o que perturbou bastante o pensamento de Carrilho Videira que nunca aceitou bem esta divisão, até porque este clube continuava ainda a afirmar-se federalista, embora não da forma tão radical como o afirmavam os fundadores do Centro Republicano Federal.
Conhece-se a sua colaboração na Emancipação, o primeiro semanário publicado em Tomar; no Transmontano, no Flaviense, o primeiro jornal publicado em Chaves; na Voz do Alentejo, Eco Micaelense, Democracia, Pensamento Social, Marselheza, Estudo do Norte, Enciclopédia Republicana. Em Elvas foi redactor de A Sentinela da Fronteira (1881-1891), e les États Unis de l'Europe. É presentemente correspondente da Província de S. Paulo (do Brasil).
Da sua autoria publicou Liberdade de Consciência e o Juramento Católico, Lisboa, 1872.
[em continuação]
A.A.B.M.
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1 comentário:
Ao que julgo saber, a bandeira verde-rubra que foi hasteada nos Paços do Concelho de Lisboa por ocasião do 5 de Outubro de 1910, apesar das extraordinárias semelhanças com a bandeira da Carbonária, era na realidade a do Centro Republicano Federal. É evidente que as semelhanças também não eram mera coincidência!
O modelo da bandeira da República no que concerne às cores foi, portanto, a daquele grupo político.
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