segunda-feira, 19 de novembro de 2007

ALBERTO COSTA [PAD'ZÉ]: NOTA BREVE (PARTE I)


Alberto Costa, aliás Alberto António da Silva Costa [ou Pad’Zé], nasce na Aldeia de Joanes, perto do Fundão, a 15 de Abril de 1877. Era filho de Agostinho da Costa Nogueira (empregado de balcão, depois professor da escola camarária no Fundão, administrador do concelho, tendo pertencido ao partido regenerador local) e de Maria Rosa da Costa [cf. J. Mendes Rosa, in Pad'Zé. O Cavaleiro da Utopia, Junta Freguesia de Aldeia de Joanes, 2000 - e que seguimos neste texto].

Alberto Costa faz os seus estudos primários na escola local, segue para a escola camarária no Fundão e, entre 1890-93, frequenta o Colégio de S. Fiel, então dirigido pela Companhia de Jesus [cf. Rosa, 2000]. No ano de 1893-94, Alberto Costa "matricula-se no Liceu da Guarda" e é aí, no dizer de J. Mendes Rosa [op.cit.] que nasce o "boémio" e "folgazão" que mais tarde a Academia de Coimbra bem conhecerá. Depois de um ano em casa "a amadurecer, a tomar juízo" [id. ibid], Alberto Costa ruma para Coimbra, em 1895, cursar Direito.

Chegado a Coimbra – onde é recebido em apoteose pela Academia, avisada previamente por confrades oriundos da Guarda (cf. Rosa, op. cit] da sua fama de irredutível boémio -, instala-se em casa particular, mas cedo ingressa numa República [situada na rua da Trindade. Mais tarde irá parar à Republica Açoriana, na rua da Matemática]. E é nessa casa de estudantes que lhe foram "impostas as insígnias da antonomásia" que o torna para todo o sempre, "aos olhos dos estudantes e da academia", o Pad'Zé ["em homenagem às minhas afinidades místicas, à minha face rapada de clérigo e aos meus óculos faiscantes de excogitador de textos bíblicos", dirá mais tarde o próprio Alberto Costain op.cit.].

Convive em diversas tertúlias e torna-se amigo, no percurso da sua atribulada vida coimbrã, de Afonso Lopes Vieira [que na altura vivia num quarto do antigo Convento dos Bentos, actual Instituto e Antropologia – cf. Rosa, op. cit.], Alberto Pinheiro Torres, D. Tomás de Noronha, José de Bianchi, Egas Moniz, entre outros. Para ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, fazer chacota de algumas revistas literárias então saídas, Pad’Zé fabrica nas aulas de Direito a Revista do Civil [I série, 1899, II numrs e II série, VII] vendendo-a, depois, aos estudantes da Universidade. Colaboraram fugazmente na revista, Santos Monteiro e Afonso Lopes Vieira.

Pad’Zé deixou-nos um curioso livro - "O Livro do Doutor Assis" [Coimbra, 1905] -, em que nos descreve esses tempos de antanho, de múltiplas facécias e povoado de curiosas personagens, entre as quais o Doutor Assis, excêntrico lente de Direito. Também no livro nos deixa algumas notas relevantes sobre o "Centenário da Sebenta"

[no final do século, organizaram-se várias comemorações - Camões, Marques de Pombal, Inf. D. Henrique, Morte do Padre António Vieira, etc. - e, como só em Coimbra aconteceria, um grupo de estudantes propôs uma comemoração (caricatural e de crítica social a esses eventos e aos sebenteiros) a que deu o nome de Centenário da Sebenta (28-30 Abril 1899). E, como seria de esperar, Pad'Zé figurava na sua comissão central, de que faziam parte ainda, Alexandre de Araújo e Albuquerque, João Eloy Cardoso, Veridiano Gonçalves, Vicente Câmara].

[a continuar]

J.M.M.

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