segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

VÍTIMAS E VIOLÊNCIAS NA LISBOA DA I REPÚBLICA

Assinala-se a publicação de um estudo de Doutoramento sobre a vivência da violência em Portugal, durante o período politicamente muito conturbado da 1ª República. Neste caso restringido geograficamente à região de Lisboa, sem dúvida a cidade que mais revoltas e conspirações conheceu na época, dando azo à imagem de instabilidade permanente que se vivia, onde a violênca era muitas vezes uma ameaça constante e servia, como quase sempre, os interesses de algumas elites instaladas.

Vítimas e Violências na Lisboa da I República é um livro que ambiciona responder a duas questões principais: apurar o papel da violência nas relações sociais e perceber o que, na Lisboa desse tempo, significava ser vítima, quem era ela, o que fazia, porque o fora e como era olhada pelos poderes.

A investigação apoiou-se numa fonte inexplorada: os exames directos e de sanidade efectuados, pelos peritos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, às vítimas de crimes contra a segurança, nos anos de 1912 e de 1926. A investigação conclui que a vítima, ainda que fosse essencial a afirmação do poder, foi muito pouco considerada, quer pelo Direito, quer pela Medicina Legal, saberes e poderes mais preocupados com a repressão do agressor.

A origem popular, a profissão, o comportamento, o traje, o analfabetismo e a linguagem reforçavam a convicção de que pouco separava o ofendido do ofensor, ambos encerrados num mesmo mundo de desvio. E para assegurar o monopólio da violência pelas elites no poder, à medida que a violência popular era criminalizada, escondia-se e esquecia-se a dimensão sociabilitária da agressão.

Maria Rita Lino Garnel
É doutorada em História Contemporânea pela Universidade de Coimbra. É membro do Instituto de Sociologia Histórica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e consultora do projecto “Inquérito Nacional sobre a Violência de Género”.

Áreas de interesse científico: História da Violência, História das Mulheres, História das Elites Médicas, História da Saúde Pública em Portugal.

De entre diversas publicações destacam-se: A República de Sebastião de Magalhães Lima, Lisboa, Livros Horizonte, 2004; «A Vítima e o direito penal português. Século XIX», Lei e Ordem. Justiça penal, criminalidade e polícia. Séculos XIX-XX, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, pp. 45-63; «A Loucura da prostituição», Thémis, nº 5, 2002, pp. 139-158; «Mulheres e violência: das imagens e das realidades na Lisboa de 1912», Faces de Eva, nº 10, 2003, pp. 73-95; «O Poder intelectual dos médicos», Revista de História das Ideias, nº 24, 2003, pp. 213-253; «A Loucura feminina nos inícios do século XX: dois estudos de caso», Conceito. Revista de Filosofia e Ciências do Homem, nº 1, Loucura e Desrazão, 2005, pp. 125-140.

É bolseira de Pós-Doutoramento com um projecto sobre «Médicos e Políticas de Saúde no Parlamento da I República».


A.A.B.M.

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