segunda-feira, 24 de março de 2008

JOSÉ ANTÓNIO SIMÕES RAPOSO (1840-1900)




Natural de Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde nasceu a 29 de Abril de 1840. Era filho de Martinho Caetano Simões Raposo e de D. Maria da Conceição Linhares Morgado Raposo, descendentes de famílias ilustres de Trás-os-Montes.

Aos 23 anos veio para Lisboa, foi frequentar a Escola Normal, então em Marvila, atraído pela sua irresistível vocação para o magistério. Estudante sempre muito laureado, obteve distinção nos dois cursos, elementar e complementar. Obteve as habilitações para as funções de professor de segundo grau pela Escola Normal. Foi professor na Casa Pia, provisor de aulas, sub-director (1877)e encarregado da organização, direcção e inspecção dos estudos. Elaborou diversos relatórios sobre a organização de estudos da Casa Pia e sobre diferentes trabalhos escolares. Destaca-se na Casa Pia por introduzir a progressão de estudos por classes graduadas pela primeira vez em Portugal e que se alargou progressivamente a todo o sistema de ensino. Pertencendo a uma geração de professores normalistas que contribuiram para a formação de professores.

Desempenhou ainda as funções de inspector escolar desde Outubro de 1880; foi ainda vereador da Câmara Municipal de Belém, com o pelouro da instrução. Eleito presidente do Grémio Popular de Lisboa, professor de Pedagogia e Métodos na Escola Normal do sexo feminino. Na Escola Normal, do Calvário, desempenhou funções de professor de Pedagogia, e defendendo, em especial, o ensino pelo Método de Froebel. Desempenhou também o cargo de inspector primário no Porto e apresentou-se como candidato a deputado na legislatura de 1887 pelo "professorado primário".

Era sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa e secretário da secção de ensino geográfico, da mesma sociedade, onde realizou conferências importantes. Foi um dos sócios fundadores da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses em 1880. Nesse mesmo ano fez parte da Comissão de Imprensa que se encarregou de promover o Tricentenário de Camões.

Foi enviado pelo Governo como emissário às exposições universais de Viena de Áustria e de Paris. Participou no Congresso Internacional Pedagógico de Bruxelas, e 1880, realizando, posteriormente, uma visita às Escolas Normais da Bélgica, França, Suiça e Espanha. Foi o representante de Portugal no Congresso Pedagógico de Madrid, em 1882, proferindo algumas conferências em castelhano. Participou como conferente no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, de 1892, a convite de Bernardino Machado.

Era sócio honorário da Associação Geral do Professorado Espanhol, tendo sido eleito numa sessão extraordinária da assembleia-geral. Para lhe poder ser conferida esta homenagem, foi necessário alterar os estatutos da referida Associação, porque esta distinção só podia ser concedida a cidadãos espanhóis. Oficial da Academia Francesa, agraciado pelo Governo francês, em virtude da qualidade dos trabalhos apresentados pelos alunos da Casa Pia, na secção portuguesa da Exposição Universal de 1878. Trabalhos esses que mereceram ser arquivados e guardados no Museu Pedagógico de Paris.

Pertenceu a muitas comissões oficiais encarregadas de questões pedagógicas. Por decreto de 1 de Julho de 1880, foi criada uma comissão para organizar e propor os projectos de regulamentos e programas de ensino primário, onde pontificavam entre outros Luís Filipe Leite, José Joaquim da Silva Amado, Dr. Luís Jardim (conde de Valenças), para além de José António Simões Raposo e outros.

Nos últimos anos da sua vida dirige a Escola Normal Primária de Lisboa.
Faleceu em Lisboa a 18 de Junho de 1900.

Colaborou nas seguintes publicações:
- Boletim do Clero e do Professorado;
- Gazeta Pedagógica;
- Revista Pedagógica;
- Ensino Livre;
- Anais de Instrução Pública;
- Froebel;
- A Instrução Portuguesa;
- Revista Semanal do Clero e do Professorado;
- Clamor de Belém;
- Federação (A) escolar, 2.º ano, n.° 54, Número especial, impresso a azul, dedicado á Festa das Crianças, sob a dir. do inspector primário, José António Simões Raposo. Porto, 2 de Outubro de 1887, 4 pag.
- Festa (A) das crianças, 18 de Outubro. Jornal comemorativo da solene distribuição de prémios no Teatro Micaelense aos alunos de ambos os sexos das escolas oficiais e livres, que ficaram aprovados nos exames elementares e complementares no ano lectivo findo. Ilha de S. Miguel, Açores. Ponta Delgada, 1891, Tipografia Popular de Tavares de Resende, 4 innumeradas 27 pag., com colaboração de José António Simões Raposo, entre muitos outros que também fazia parte da comissão directora.

Publicou os seguintes títulos:
- Relatório das Aulas da Real Casa Pia de Lisboa, Lisboa, 1869; idem, 1874; idem, 1878; idem, 1881; idem 1882; idem, 1883; idem, 1884. Nestes relatórios destacam-se o primeiro, de 1869 e o de 1881, porque são os mais volumosos; o de 1869, apresenta um plano de estudos e no de 1881 os resultados obtidos desse plano;
- Tabelas ou Parietais de Leitura, Lisboa, 1866 (nova edição em 1884);
- Ciência para Todos..., Lisboa, 1870;
- Curso Elementar de Escrita, Lisboa, 1877 (reedição em 1880; 3ª ed. em 1882; 4ª ed. 1884);
- Instrução Popular, em três partes, intituladas – Primeiro, Segundo e Terceiro Livro da Escola, publicados em 1877, com gravuras; o Terceiro livro teve mais duas edições (1880 e 1881);
- Conferências Pedagógicas. Relatório das Conferências de Lisboa em 1883, etc. Lisboa na typ. de Matos Moreira, 1884;
- Conferências Pedagógicas do Porto, Porto, 1885.
- Henrique Augusto da Cunha Soares Freire, Selecta, Funchal, 1881, com introdução de Simões Raposo.

BIBLIOGRFIA CONSULTADA:
- Portugal. Dicionário Histórico, Corográfico, Geográfico, Heráldico, Numismático e Artístico, Dir. Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, vol. VI (Q-S), João Romano Torres Editores, Lisboa, 1912, p. 94-95.
- Tiago Moreira, "José António Simões Raposo", Dicionário de Educadores Portugueses, Dir. António Nóvoa, Asa, Lisboa, 2003, p. 1154-1156.

A.A.B.M.

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