domingo, 22 de junho de 2008

IN MEMORIAM DE FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (1927-2008) [CONCLUSÃO]


In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues (conclusão)

Apesar dessa miríade de grupos de tendência marxista-leninista maoísta, o debate para a "reconstituição" do PCP [via COMORG, i.é., Comissão Organizadora do Congresso de Reconstituição do Partido] fez-se principalmente entre as direcções da ORPC(m-l), do CMLP e da OCMLP.

Numa primeira fase, onde um violento criticismo imperou["oportunismo", "trotskismo", "espontaneísmo", "teoricismo", "dogmatismo", "autocrítica", "sectarismo", "cisionismo", "direitismo", "praticismo", "pontos de principio", "espírito de grupo", "golpe anti-partido", eram os termos e epítetos mais utilizados na refrega política por todas as organizações, principalmente por meio da imprensa partidária], perante as críticas e divergências da então direcção da OCMLP face ao processo reconstitutivo do partido, as direcções da ORPC(m-l), do CMLP e um grupo de ex-quadros da própria OCMLP (em dissidência com a sua organização), decidem avançar de vez para o Congresso da Reconstrução do PCP – agora denominado PCP(R) – e que teve lugar entre os dias 27 de Dezembro de 1975 e 5 de Janeiro de 1976. [ADENDA (29/06/2008): sobre o processo de integração da OCMLP no PCP(R), ler os comentários a este post]

Curiosamente, em todo este processo de "reconstrução" do PCP [em pleno PREC] está presente e marca um papel fulcral, "tomando a direcção das operações" e "dando conselhos" via COMORG [in entrevista a FMR, já referida], Diógenes Arruda um dos míticos comunistas brasileiros [do PCdB, refundado em Fevereiro de 1962 e antes PCB, editando Arruda na época o estimado periódico "Problemas", onde escreveram Luís Carlos Prestes, Carlos Mariguella e, até, Roger Garaudy e Togliatti. Diógenes Arruda veio de França, onde estava exilado desde a sua libertação das prisão brasileiras em 1972 - ler aqui uma sua curiosa entrevista - logo a seguir ao 25 de Abril, oferendo-se para ajudar no processo de "reunificação dos comunistas" portugueses. Morreu a 25 de Novembro de 1979 (ano em que foi amnistiado), no dia em que chegou do exílio (a S. Paulo) o seu companheiro João Amazonas (falecido em 2002) e quando ia com ele no carro].

Com o surgimento do PCP(R), Francisco Martins Rodrigues é eleito para o seu Comité Central, mas seis meses passados uma nova reformulação é feita (sob influência de Diógenes Arrudacf. Morais, ibidem) e é destituído do C.C., passando a ser redactor do jornal da organização, o "Bandeira Vermelha".

Mais uma vez a questão do "porte na prisão" de FMR tinha regressado. E com ele (velhas) novas questões se colocavam no noviciado partido: a questão do centralismo democrático, agora transformado (segundo FMR) em centralismo estalinista; a questão da matriz e natureza socialista da antiga URSS; a degenerescência do modelo da China Popular e a situação da Albânia; a questão da etapa da revolução e a crítica agora feita à sua concepção dimitrovista [o que não deixa de ser uma curiosa ironia para FMR, dado que até então a linha estabelecida - etapa da revolução democrática-popular, parte integrante da revolução socialista - e que deu sustentação a todo o movimento marxista-leninista português, de tendência maoísta, foi trabalhado teoricamente por ele próprio, o "camarada Campos"]. Isto é, de novo e "na ordem do dia" para FMR, a questão era qual a "linha proletária" a seguir: conciliação e luta reformista ou revolução proletária [vidé entrevista de FMR e ler a este propósito o livro de FMR, "Anti Dimitrov 1935-1985 Meio século de derrotas da revolução", em que, curiosamente, as criticas de pensadores autogestionários e libertários de antanho à natureza socialista da ex-URSS estão praticamente ausentes].

Por tudo isso, Francisco Martins Rodrigues, em ruptura com os dogmas dos seus camaradas sai (em 1983) do PCP(R) e cria o colectivo comunista "Política Operária", publicando a revista do mesmo nome. Em 1984 funda a OCPO - Organização Comunista Política Operária.

Morre, em Lisboa, na madrugada de 22 de Abril de 2008.

NOTA: este In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues teve 7 (sete) longos posts (que podem aqui serem lidos). Com inteira justiça, diga-se. Francisco Martins Rodrigues ou o "camarada Campos" marcou decisivamente parte de uma geração em Portugal. Geração essa, da década de 70, que se era já de um outro tempo e certamente recolhida a outro noviciado discurso, pela sua atitude de revolta, a sua radicalidade perante a mudança, a sua "paixão do compromisso" e o seu amor romântico da revolução e da vida - mesmo que os silêncios consentidos fossem já ensurdecedores - muito ficou a dever ao "camarada Campos" e às "situações" por ele e outros (re)criadas. Daí este In Memoriam!

J.M.M.

12 comentários:

Anónimo disse...

Li com muito apreço este In memoriam do Franciso Martins Rodrigues. Solicitava um esclareciemnto: ele não foi julgado pelos acontecimentos de Belas no Tribunal Judicial de Sintra?

Anónimo disse...

De facto Francisco Martins Rodrigues foi julgado em 25 de Novembro de 1967, em plenário, no Tribunal de Sintra, pela “execução” de Mário de Jesus da Silva Mateus. Curiosamente no Tribunal de Sintra, os 3 elementos referidos das FAP’s são réus. João Pulido Valente, que não esteve presente, evidentemente, nos factos de Belas, foi acusado por colaboração em actividades contra a segurança do Estado e por ser portador de passaporte falso, sendo condenado a 2 anos de prisão. Segue-se o outro processo contra os 3 militantes das FAP’s, já na Boa-Hora, que começa justamente a 5 de Maio de 1970, conforme pode ler. Mero descuido nosso o não ter referido toda a situação. Agradeço a atenção.

Grato pela visita

José M. Martins

Anónimo disse...

Era estudante de direito na altura, em Lisboa, e assisti a esse julgamento. Estava no 1º ano e foi o meu primeiro contacto com a justiça. Perante a indiferença dos juízes, os réus foram arrastados da sala pelos polícias para obviar a que continuassem a fazer a sua defesa política.
Não querendo cometer uma injustiça, pelo que o diga com reservas, parece-me que o corregedor que presidiu ao julgamento veio a ser, depois de Abril, presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Com estima
A.R.

JOSÉ MANUEL CORREIA disse...

Afirma no texto que “um grupo de ex-quadros da própria OCMLP (em dissidência com a sua organização), decidem avançar de vez para o Congresso da Reconstrução do PCP – agora denominado PCP(R)”. Essa afirmação não é correcta. A 2.ª Conferência da OCMLP, realizada em Fevereiro de 1976, no Porto, durante vários dias, aprovou por larga maioria a retoma das negociações para que a organização passasse a integrar o PCP(R), então já constituído. A anterior Direcção, dominada pela dupla histórica Pedro Baptista-Helder Costa, que inviabilizara a participação da organização no congresso de constituição do novo partido (de reconstrução do partido comunista, como então se dizia), abandonando a COMORG, foi destituída, e os novos dirigentes conduziram o processo de integração de acordo com as resoluções aprovadas democraticamente naquela conferência.

Quem se integrou no PCP(R), portanto, foi a OCMLP, enquanto organização política, e não “um grupo de ex-quadros em dissidência com a organização”, como afirma, presumo que reproduzindo afirmações alheias. Com a integração e a extinção da organização, um punhado de militantes e, eventualmente, algum ou alguns dos anteriores dirigentes, inconformados com a decisão e agastados por perderem o protagonismo político a que estavam habituados, mais tarde voltaram a usar a sigla da organização. Não sei quanto tempo durou essa quixotesca aventura. Apesar de tudo, essas peripécias não chegaram a degradar irremediavelmente as relações pessoais, como se pôde verificar durante o almoço de confraternização com que se assinalou o 25.º aniversário da constituição da organização, no qual participaram fundadores e militantes que a foram integrando ao longo dos poucos anos da sua existência.

JMC.

Anónimo disse...

Queria acrescentar uma correcção à correcção do anterior comentador, JMC.

Considero, na sua substância, correcta a afirmação do autor de José M. Martins, quando diz que “um grupo de ex-quadros da própria OCMLP (em dissidência com a sua organização), decidem avançar de vez para o Congresso da Reconstrução do PCP – agora denominado PCP(R)”.

Na realidade, apesar de ter sido apresentada como integração da OCMLP – enquanto Organização – no PCP(R), é necessário sublinhar que um número considerável de quadros (mas, no entanto, poucos simpatizantes) não se integraram no PCP(R). Para além disso, sectores inteiros da OCMLP – como o da Beira Interior – também não se integraram no PCP(R). Por isso considero mais correcto referir que quem se integrou no PCP(R) foi “um grupo de ex-quadros" da OCMLP.

Não deixa também de ser interessante sublinhar dois importantes "pormenores":

1) que a esmagadora maioria dos militantes da OCMLP que se integraram no PCP(R) foram saindo do mesmo ao longo dos anos de 1977 e 1978.

2) que a OCMLP foi reconstituída pouco depois do tal “grupo de ex-quadros" se ter integrado (ou "entregado" ?) no PCP(R) e, ironia do destino, só se dissolveu em 1988, alguns anos depois do PCP(R) o ter feito.

JMLC

Anónimo disse...

Queria acrescentar uma adenda ao meu comentário:

1 – Há um "de" a mais em "do autor de José M. Martins".

2 – Contrariamente ao que foi escrito, o PC(R) não se dissolveu antes de 1988, tendo-se transformado em associação política no congresso de Junho de 1992, com a denominação "Comunistas pela Democracia e Progresso (CDP)". A confusão deveu-se ao facto do PC (R) se encontrar em crise já há bastantes anos e a sua actividade, enquanto partido político, ser praticamente nula.

JMLC

JOSÉ MANUEL CORREIA disse...

Longe de mim a intenção de polemizar sobre uma peripécia sem qualquer importância ocorrida há mais de trinta anos. Mas não posso deixar sem resposta a afirmação do comentador anterior de apresentar a Direcção saída da 2.ª Conferência da OCMLP e o grosso desta organização como sendo um grupo de ex-quadros. Eles não eram ex coisa nenhuma, porque não saíram da OCMLP. Quem saiu da OCMLP, por recusa de acatar a disciplina interna ou por se ter afastado, ainda antes da integração, no rescaldo da Conferência, é que deve ser qualificado de ex-quadro da OCMLP.

Considero o seu comentário ilustrativo do que nessa altura era designado por grupismo ou espírito de seita. Quando saía derrotado de qualquer luta interna e era destituído dos cargos, um ex-dirigente arregimentava o seu séquito de seguidores fiéis e formava o seu próprio grupo. Por esta razão proliferavam nessa época tantos grupos maoistas. O PCP(R) era uma tentativa séria de inverter essa tendência e de promover uma aglutinação mais ampla. Pelo que se viu depois, só o conseguiu formalmente. Politicamente continuou a padecer dos males que atacavam endemicamente os grupos maoistas – o espontaneismo, o radicalismo táctico e o paleio revolucionário – e conheceu a vida efémera da generalidade daqueles grupos.

E esse espírito de grupo ou de seita ficou bem patente no caso da OCMLP. Ao contrário de um, quem saiu derrotado da 2.ª Conferência da Organização foram precisamente os seus fundadores, representados pelo Pedro Baptista (O Grito do Povo) e pelo Hélder Costa (O Comunista). Acatarem as decisões dessa Conferência foi demais para o direito de propriedade reinante nessa altura. Não surpreendeu, por isso, que se tenham recusado a integrar no PCP(R) e, passado algum tempo, eles ou outros (porque desconheço quem e não pretendo lançar quaisquer anátemas) tenham formado uma nova OCMLP.

Alguns militantes da ex-OCMLP, depois militantes do PCP(R), foram saindo do partido, após 1977. Não sei se muitos, se poucos. E o mesmo aconteceu com militantes de outros grupos que participaram na formação daquele partido. São factos. Que se saiba, não formaram novos partidos ou organizações, o que era já uma postura diferente. Além do mais, terem ido saindo do PCP(R) não elide o facto de nele se terem integrado na condição de membros da OCMLP. E do que estamos tratando é da condição de quem se integrou no PCP(R) e não da apreciação política do que essa integração representou ou deixou de representar.

O comentador confunde as decisões democraticamente tomadas pela 2.ª Conferência da OCMLP aprovando o reatamento das negociações para a integração no PCP(R) com as suas próprias opiniões acerca dessas decisões e acerca da integração. Mal ou bem, foram aquelas as decisões da Conferência, e foram elas que a Organização levou a cabo. Nada do que aconteceu posteriormente consegue transformar estes factos no seu contrário. Mas o que ainda hoje se pensa do dever de acatar decisões democraticamente tomadas é significativo dos princípios democráticos pelos quais cada um se rege.

O próprio partido foi definhando, depois, devido à incapacidade para compreender a realidade política e social e para traçar uma linha de actuação minimamente consistente. A crise política aberta com o 25 de Abril fora tomada por uma crise revolucionária, e o significado do próprio 25 de Novembro também não foi compreendido em toda a sua extensão. Era dessa ilusão que se alimentava o revolucionarismo maoista. Á medida que a agitação social e política foi acalmando e que o movimento operário foi sendo fustigado e entrou em refluxo declarado, sem que mesmo isso tenha sido plenamente compreendido, a euforia revolucionária foi-se mostrando cada vez mais desfasada da realidade, e o desfecho dos grupos maoistas não poderia ter sido outro.

JMC.

Anónimo disse...

Nada tenho contra as polémicas, embora ache que umas valem a pena e outras não – provavelmente esta discrepância com o comentador JMC (e não tanto uma “polémica”) enquadra-se na segunda categoria –, mas uma vez que me atribui tenebrosas elucubrações sobre “o dever de acatar decisões democraticamente tomadas”, as quais (à boa maneira dos antigos grupos maoistas) são (obviamente) elucidativas “dos princípios democráticos pelos quais cada um se rege” – já não falando do “espírito de seita” –, sinto-me na obrigação de esclarecer o meu ponto de vista (absolutamente democrático, como veremos).

Vamos aos factos.

1º facto: Em finais de Janeiro de 1976 a 2ª Sessão da 2ª Conferência da OCMLP aprovou o reatamento das negociações para a sua integração no PCP(R), dando-se início a esse processo, que se conclui em Abril, com a 3ª Conferência, a qual dissolveu a Organização. A OCMLP, enquanto Organização – como referi no primeiro comentário, utilizando precisamente esta mesma expressão – integrou-se formalmente no PCP (R).

2º facto: Contrariamente ao que muitos deram por definitivamente adquirido e ainda hoje lhes custa admitir, a história da OCMLP não terminou em Abril de 1976. Alguns meses depois, ainda em 1976, uma grande parte dos militantes que se tinham afastado, foram expulsos ou que tinham recusado a sua integração no PCP (R), reorganizou a OCMLP, que voltou a desenvolver uma actividade regular até 1988 (incluindo a publicação do “O Grito do Povo” e outras edições, intervindo no movimento sindical, tomando posições políticas públicas, participando em diversos actos eleitorais, etc) embora, compreensivelmente, debilitada pelo anterior processo.

3º facto: Numa perspectiva de médio prazo, que balanço histórico se pode fazer ? Uma boa parte de militantes da OCMLP recusou a integração no PCP (R), incluindo sectores inteiros. Uma boa parte de militantes da OCMLP que se integraram no PCP (R) começaram a abandonar o mesmo, ao ponto de em finais de 1978 já poucos lá se encontrarem. Esses poucos que ficaram tinham sido, fundamentalmente, aqueles que, ainda antes da 2ª Conferência, sempre defenderam a integração no PCP (R).

Que conclusões se podem retirar:

1ª Que não se pode falar da história da OCMLP como tendo terminado em Abril de 1976 com a sua integração no PCP (R), uma vez que a mesma foi logo de seguida reorganizada e se manteve em actividade durante mais de uma dúzia de anos.

2ª Que não é historicamente rigoroso considerar que “um grupo de ex-quadros da própria OCMLP (em dissidência com a sua organização), decidem avançar de vez para o Congresso da Reconstrução do PCP – agora denominado PCP(R)”. O comentador JMC tem razão (quer maior manifestação do meu espírito genuinamente democrático ?) É factualmente incorrecto mas, na sua essência – e só na sua essência, como escrevi no primeiro comentário e volto a sublinhar – não deixa de constituir uma boa interpretação (a médio prazo) do que se passou. E, se aprofundarmos a análise, como se verá na próxima conclusão, até é mais do que isso. No entanto, tal como aparece no “post” de JM Martins é, na realidade, uma questão de “essência”, ou seja, uma “liberdade aceitável” quando se analisa a “peripécia” sem a preocupação de absoluto rigor histórico.

3ª Contudo, ao analisar aquela “peripécia” da forma como o faz, o comentador JMC defende – e, na minha opinião, coerente e correctamente – a posição e a perspectiva do PCP (R). Possivelmente não lhe ocorreu que, na perspectiva da OCMLP (reorganizada) – e uma vez que, factualmente, a mesma continuou em actividade ainda durante bastante tempo –, o que de facto se passou foi a integração de um “grupo de ex-quadros” no PCP (R), independentemente do grau de democraticidade que presidiu a essa deliberação. De outro modo, estava-se a admitir que a OCMLP tinha acabado definitivamente em Abril de 1976, o que não é factualmente verdadeiro, ou a não reconhecer legitimidade para a existência da OCMLP (reorganizada), o que é pior e me parece incorrecto, a não ser que tal entendimento constitua um exemplo “dos princípios democráticos pelos quais cada um se rege”. Seguindo esse raciocínio, e servindo-me de um exemplo estrangeiro, o PCdoB – então “partido irmão” do PCP (R) – nunca terá tido direito a existir porque os seus principais dirigentes – Grabois, Pomar e Amazonas – foram democraticamente expulsos do Partido Comunista do Brasil em 1961, quando após o 5º Congresso este mudou democraticamente de nome para PCB. Contudo, no ano seguinte, esses mesmos militantes – juntamente com todos os que não aceitaram integrar-se no PCB – reorganizaram o antigo Partido, reclamando-se do nome e de todo o passado do mesmo, com o qual estabeleceram uma ligação de continuidade. Para o PCdoB (reorganizado), o que se passou em 1961 foi a integração (democrática) de um grupo de seus ex-quadros num novo partido, o PCB de Prestes. Foi também o que, em 1976, “mutatis mutandis”, se verificou com a OCMLP (reorganizada) em relação aos seus ex-quadros, e agora já não é uma mera questão de “essência”.

4ª Que todas estas “peripécia(s) sem qualquer importância ocorrida(s) há mais de trinta anos”, não podem ser correctamente analisadas fora do contexto político da época e das diferentes posições que os vários “grupos maoistas” então defendiam e dos próprios militantes que defenderam a integração da OCMLP no PCP (R). Como então se dizia “a política é que tem de estar no posto de comando”. Mas essa é, de facto, uma análise que extravasa a “peripécia” em análise.

Por último, devo apresentar uma “declaração de interesses”: não participei no processo de reorganização da OCMLP e nem sequer era seu militante. Esta e outras peripécias interessam-me apenas do ponto de vista da História (que está por fazer).

JMLC

Anónimo disse...

Caros J.M.C. e J.M.L.C.:

“A 2.ª Conferência da OCMLP, realizada em Fevereiro de 1976, no Porto, durante vários dias, aprovou por larga maioria a retoma das negociações para que a organização passasse a integrar o PCP(R), então já constituído” [J.M.C.]

A citação feita de J.M.C. julgo que diz o suficiente para se entender o que se pretendia dizer no nosso post, por ambos citado (passe o facto de não termos sido “felizes” na sua redacção), a saber: que o PCP(R) nasce, sem que a OCMLP (enquanto organização) se ter nele integrado imediatamente. Era isso que se pretendia dizer (o que não ficou evidente, daí os V. oportunos comentários), até porque o post da nossa “lavra” era, na sua essência, uma modesta e simples (e possível) anotação sobre Francisco Martins Rodrigues e não sobre o movimento marxista-leninista ou a OCMLP, em particular.

Conhecemos, no entanto, o conflito de antanho sobre a “refundação do PCP” [não, decididamente, tão bem como J.M.C., dado que – e se tivermos correctos na suposição de quem é a partir das suas iniciais e do que refere no seu estimado blog - presumimos que originariamente vindo da OCMLP fez parte de todo esse processo, passando a integrar depois o PCP(R)] e o seu posterior desenvolvimento, apenas e tal como ele foi registado e observado nas páginas da Tribuna do Congresso [T.C.], no jornal “O Grito do Povo” [G.P.], no jornal “Bandeira Vermelha” [B.V.], no jornal “Viva a Revolução” [da UJECML], ou mesmo através de jornais como “O Comunista” [da UCRP(m-l)], o “União Proletária” [do comité “União Proletária” da OCMLP (em reorganização)] e por alguns (escassos) documentos internos de algumas organizações.

Sabemos, portanto, algumas das peripécias (não as suas minudências) que se desenrolaram desde a reunião de 10/11/12 Agosto 1975 entre as 3 organizações (ORPCML, OCMLP e CMLP) que se dispunham a constituir a Comissão Organizadora do Congresso, passando pela célebre reunião (1 de Dezembro de 1975, se não estou em erro) da 1ª sessão da II Conferencia da OCMLP e da sua importante 2ª sessão [como curiosidade registe-se o que é dito na B.V., Nº 1, sobre a putativa acusação de “cisionismo” aos ex-militantes da OCMLP proferido nessa mesma Conferência ou, até mesmo, à acusação feita a um elemento suplente do antigo CC da OCMLP que tinha aderido ao PCP(R), que vem no B.V., nº 4, p.8], até à não menos conhecida III Conferência da OCMLP (Abril de 1976), onde se proclama a dissolução da OCMLP e a sua inclusão no PCP(R). Deste modo, não somos totalmente desconhecedores das conversações entre as organizações e, obviamente, da expulsão dos militantes - alguns já citados por J.M.C. - “Albano”, “Paulo”, “Dário” e “António” da OCMLP [ref. G.P., nº72, 20 de Março de 1976].

Nota final: é difícil - não só pelas características conspiratórias das organizações citadas, das suas práticas umbiguistas ou pela especificidade própria desse tipo de organizações semi-clandestinas – e arriscado, diremos, fazer o historial desassombrado dessas (e de outras) organizações. Convenhamos, até, que muitos dos seus antigos intervenientes mantêm um estranho silêncio tumular sobre a sua fé e militância política, o que alega, de algum modo e pelo menos para alguns dos mais responsáveis, a total falta de escrúpulos e um manifesto cuidado no seu passado político. Não será por mero acaso. Mas isso é uma outra história. Da nossa parte, com mais ou menos erros e outras tantas imperfeições, no que soubermos e pudermos, com ajuda estimável de quem se interessar por esse passado (ainda aqui tão perto) continuaremos a postar de acordo com o que apodámos, desde início, de “alma republicana”. E tal passará, decerto, por recordar algumas das associações ou organizações políticas, bem como homens ou mulheres, que fazem ou fizeram parte da nossa história contemporânea.

Grato pela atenção

José M. Martins

JOSÉ MANUEL CORREIA disse...

JMLC

Entendamo-nos, porque não me parece difícil. Não lhe atribuo quaisquer tipos de elucubrações, nem tenebrosas nem outras. Apenas afirmei que o seu comentário, corroborando uma afirmação incorrecta constante do texto do post, e reafirmando que quem se integrara no PCP(R) foram ex-quadros da OCMLP, era ilustrativo do espírito de seita vigente na altura, em que a dissidência e a consequente disputa pelos grupos ou pelas suas siglas era coisa corrente.

1-Se não fui bem compreendido, volto a reafirmar: quem se integrou no PCP(R) foi a OCMLP enquanto organização, que por isso ficou extinta; não foi um grupo de ex-quadros. Para serem ex-quadros da OCMLP seria necessário terem sido expulsos, por decisão dos órgãos competentes ou por auto-exclusão. Essa condição de ex-quadros da OCMLP, que depois foi extinta, era a que possuíam as pessoas que vieram a constituir uma nova OCMLP. Não ponho sequer em causa a legitimidade com que o fizeram. A OCMLP fora extinta e eles fundaram outra organização com o mesmo nome, reclamando-se do seu passado, etc. Estavam no seu pleno direito, tanto mais que alguns tinham sido actores desse passado, e não meros herdeiros. Grave seria se tivessem usurpando a identidade de uma organização que continuasse existindo. O que não foi o caso, tanto quanto me recordo.

2-Em relação àquelas decisões, não defendo “a posição e a perspectiva do PCP(R)”. Está, portanto, redondamente enganado. Defendo as minhas posições pessoais de então, que são as mesmas de hoje. Quem constituiu o PCP(R) em congresso interessava-lhe a participação da OCMLP nesse congresso de fundação. Era então, como hoje, também minha opinião que isso deveria ter acontecido. Ter posição coincidente com a de quem fundou o PCP(R) não é sinónimo de defender a sua posição, mas a de defender posição própria e apenas coincidente. Foi defendendo opiniões próprias, muitas delas polémicas e singulares, que intervim activamente nas lutas internas da OCMLP que conduziram à destituição dos seus dirigentes na altura e à sua integração no PCP(R), assim como na primeira grande luta interna que se travou no seio do próprio PCP(R). Nem por ter sido um dos que saiu do PCP(R) pouco tempo depois, em 1978, em profunda divergência política, altera algo em relação aos factos.

3-O exemplo que dá, em relação ao PCdoB, a que se poderiam juntar tantos outros, constitui mero jogo de palavras. Em nada altera o que já disse acima. Quem foi expulso ou se expulsou, passou a ser ex. Quem refundou alguma coisa, fundou-a de novo. Se fundou algo de novo era porque esse algo já não existia. Quem assim fez tinha legitimidade para o fazer. Não usurpou nada. Usou uma sigla disponível e reclamou-se de um passado que também era o seu (eventualmente com maior legitimidade do que muitos outros). O meu julgamento sobre esses factos foi, e é, político. As cisões e as rupturas acontecem, geralmente, violando os princípios democráticos da aceitação das decisões das maiorias. São actos excepcionais que os cisionistas legitimam em nome de valores em seu entender mais importantes. Mas não deixam de ser violações da democracia interna. No caso da OCMLP, contudo, nem foi isso que aconteceu, porque não houve qualquer cisão (que eu tenha tido notícia ou me recorde). Houve expulsões da organização e afastamentos da política, e, depois da organização ter sido extinta, houve uma sua refundação.

4-Por fim, uma declaração de interesses, que ajuda a clarificar as minhas posições e que serve para confirmar as suposições do autor do texto acerca da minha pessoa (de resto, identificada pela url). Fui interveniente activo nessa luta interna travada na OCMLP. Então, como hoje, penso que a decisão tomada foi a correcta. Não foi uma decisão fácil, convém esclarecer, porque as coisas não eram simples nem havia apenas duas posições possíveis, e também porque os contendores eram de respeito (como ainda hoje continuam sendo merecedores de respeito, apesar de algumas questiúnculas e de uma ou outra atitude menos correcta na altura). Mas, tendo em conta todas as vicissitudes e o contexto de então, na pretensão de construir um projecto político mais sólido, foi a decisão correcta. Nem o facto de o PCP(R) não ter conseguido ultrapassar as insuficiências intrínsecas aos grupos maoistas serve de pretexto para o que quer que seja. Nenhum grupo maoista, dos então existentes, nem a própria OCMLP reconstruída, sobreviveu até hoje politicamente activo (persiste o MRPP como resquício caricatural, para não nos fazer esquecer esses tempos). Ironia das ironias, até o maoismo, na sua origem, desapareceu e todo o comunismo ruiu estrondosamente (salvo os restos que se vão arrastando para não estoirarem). Nessa época, os que andámos pela extrema-esquerda marxista-leninista-maoista, andámos a viver um sonho feito de grandes equívocos, que a juventude não nos permitia alcançar (e do qual alguns, infelizmente, ainda não acordaram). De qualquer modo, esses tempos serviram para alguma coisa, pelo menos para mim: ajudou-me a compreender, mais facilmente, o equívoco teórico do marxismo e o logro político da sua profecia.

Os meus agradecimentos ao autor do texto por ter permitido que a simples rectificação de uma sua afirmação viesse a ter este desenvolvimento.

JMC.

Anónimo disse...

JMC

Também não me parece difícil entendermo-nos. Aliás, sintetizando este conjunto de comentários, parece-me que a única divergência existente reside no facto de considerar que a OCMLP foi extinta com a sua integração no PCP (R) e eu não. Compreendo a sua posição, tanto mais que pelos seus comentários constatei que desempenhou um papel destacado nesse processo; eu, como não participei no mesmo, observo-o apenas numa perspectiva histórica, independentemente das opiniões que tenho sobre o que se passou e que já manifestei. Daí considerar que a OCMLP surgiu (oficialmente) em 1973 e acabou em 1988. Na minha perspectiva, não há uma nova OCMLP a partir de 1976; há uma OCMLP reorganizada, e processos de reorganização daquele tipo foram quase uma constante no movimento comunista por esse mundo fora, ao longo dos tempos. Portanto, nada de extraordinário.

Por último, queria-lhe agradecer o contributo para o esclarecimento das suas posições e, também, felicitar o autor do texto inicial (e do blog) por ter proporcionado a discussão deste tema, que decorreu da excelente biografia que elaborou sobre o Francisco Martins Rodrigues. Não conhecia o blog (já nem sei como fui lá parar, mas foi por acaso) mas a partir de agora vou consultá-lo regularmente.

JMLC

Anónimo disse...

Também vim aqui parar por acaso.
Fez-me voltar atrás 30 anos. Fez-me bem.
Mas olhando hoje o mundo será que podemos dizer com absoluta segurança que o marxismo foi apenas um equívoco?
JMCR