sábado, 31 de janeiro de 2009

A REVOLTA DO PORTO DE 1891


"A década de 80 do século XIX em Portugal abre com as comemorações do tricentenário de Camões em Lisboa (1880), um acontecimento histórico-culural com enormes ressonâncias políticas - no meio de ‘grande apoteose cívica’, segundo palavras de Eça de Queirós, desencadeia-se um grande desfile colectivo, vibrante de entusiasmo cívico, que será tal como as comemorações de Pombal (1882), aproveitado para a mobilização popular.

Mas outras circunstancias virão favorecer a afirmação do ideário e do Partido Republicano, o mais forte partido da oposição.

Em 1º lugar, a Conferência de Berlim (1884-85), com o estabelecimento dos princípios básicos da partilha da Africa, reflexo da hegemonia política de Bismarck (...)

A resposta do Ministro português dos Negócios Estrangeiros, Barrros Gomes, do governo progressista da altura, surge na lógica dos acontecimentos - em 1886, mada desenhar um mapa, cobrindo a região entre Moçambique e Angola, que será pintada de cor-de-rosa, reafirmando assim ‘direitos históricos’ sobre a região; abrirá caminho ao Ultimatum Inglês (11 de Janeiro de 1890), momento decisivo utilizado pela propaganda republicana anti-britânica e anti-monárquica, na exploração de sentimentos nacionalistas junto da opinião pública da altura, despertando uma onda de agitação nacional, tanto mais intensa, quanto se inscreve numa conjuntura de crise económica e financeira da monarquia, passado que era apenas um ano desde o inicio do reinado de D. Carlos (...)

Em 1890-91, a propaganda republicana estende-se às principais cidades e vilas, alicerçada cada vez mais em temas patrióticos, de que A Portuguesa, criada então, é o mais evidente paradigma (...)

A partir de 1890, o Partido Republicano adquire uma inserção popular, até então incipiente - a revolta de 31 de Janeiro de 1891 será apropriada para o património do Partido Republicano Português como uma das suas ‘ousadias’, até à Instauração da República em 1910 ..."

[in Revoltas Republicanas no Porto. 31 de Janeiro de 1891. 3 de Fevereiro de 1927, textos de Raul de Castro, Maria de Jesus Sousa Oliveira e Silva, Viale Moutinho, 1997 - sublinhados nossos]

J.M.M.

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