quarta-feira, 24 de junho de 2009

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE


"Toda a igualdade é ilusória se desconhece as diferenças individuais e, sob o pretexto de se realizar, não dá a todos o igual direito de desenvolver a própria personalidade. Por outro lado, toda a liberdade é ilusória quando dá a muitos dos homens, para empregar a forte expressão de Parodi, o direito sem o poder, o direito de ser livre sem o poder de o ser.

É uma irrisão dizer-se aos deserdados da fortuna que são livres quando se lhes dá apenas a liberdade de morrer de fome; que têm absoluta liberdade de voto, quando de facto estão subordinados aos beati possidentes; que têm o direito da instrução, quando as vantagens do ensino só podem ser desfrutadas pelos ricos.

Todos esses direitos de que a liberdade civil e política hoje se ufana só podem, pois, tornar-se efectivos, deixando de ser teóricos e abstractos, como até aqui, por uma realização progressiva das ideias igualitárias. A condição necessária da igualdade dos direitos é a igualdade dos poderes: tanto monta dizer que a liberdade é um ideal inteiramente vão na medida em que não marcha de par com a igualdade. Liberdade e igualdade, assim despidas dos sofismas e dos abusos do pensamento em que as enredam alguns dos seus pretendidos partidários e muitos dos seus inimigos, longe de se nos apresentarem como contraditórias, não são, pois, mais do que as suas faces necessárias da mesma inspiração social, do mesmo desejo de criar na terra, para todos e por todos, uma vida inteiramente humana.

Eliminados, pois, todos os abusos, todas as falsificações e todos os sofismas, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, por maiores crimes que em nomes delas tenham sido cometidos, são ainda as três estrelas máximas que alumiam o firmamento da Razão humana"

Raul Proença, in Páginas de Política.

J.M.M.

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