quarta-feira, 15 de julho de 2009
IN MEMORIAM HERMÍNIO PALMA INÁCIO (1922-2009) - Parte I
Nasce em Ferragudo [concelho de Lagoa] a 29 de Janeiro de 1922. Filho de José Inácio e de Custódia da Palma, ferroviários, Palma Inácio passa a sua infância em Tunes (Silves) de onde sai [com 18 anos] para se alistar voluntariamente na Aeronáutica Militar. Colocado em Sintra (Base Aérea nº 1), tira o curso de mecânico de aeronaves e de piloto civil para aviação comercial. É nesse meio que trava conhecimento com Humberto Delgado e adere à luta contra a ditadura.
Em 1947 [10 de Abril] há uma tentativa frustrada de conspiração civil e militar [Abrilada] pela Junta Militar de Libertação Nacional [movimento militar e civil, que vem na sequência da tentativa de Revolta da Mealhada, presidido por Mendes Cabeçadas, Celestino Soares, João Soares, o general Marques Godinho, o brigadeiro Maia e outros – ver AQUI] e Palma Inácio participa [com Gabriel Gomes – cf. A História da PIDE, de Irene Pimentel, p.143] sabotando os aviões [entre eles o Dakota de Santos Costa] da base aérea da Granja (Sintra). Face ao desaire da conspiração, Palma Inácio é um dos suspeitos e, por isso, foge da Portela de Sacavém onde era mecânico da KLM e refugia-se numa quinta de um amigo em Loures [onde fica 3 meses]. É denunciado por uma "ingénua" rapariga à GNR [cf. "Duas Fugas", rev.História, nº28, 2000] e é detido pela PIDE [cf. Pimentel, aliás in "O aventureiro da liberdade perdida", Visão, 16/06/1994], dando entrada na sua directoria no dia 6 de Setembro, seguindo depois para o Aljube.
Torturado, mas nunca cedendo às promessas da PIDE [como as do capitão Catela – cf. rev. História, ibidem], prepara a sua fuga do Aljube através da "única janela sem grades", de uma sala utilizada pelos guardas como apoio à condução dos presos, e com auxilio de lençóis, que "trazia escondidos nas calças largas", saltou para o saguão onde estava um guarda, correu para escadas que conduziam à rua, "empurrou" o guarda-porteiro do Aljube e correu com um "galope louco" até à rua da Madalena, "onde apanhou um táxi" [a 16 de Maio 1948].
Farto de esperar pela revolução que tardava, resolve partir para Marrocos, "escondido num cargueiro" que partia do Barreiro [rev. História, ibidem], justamente para onde foi levado num "barquinho à vela" por Gabriel Pedro e o filho, e Edmundo Pedro [ibidem]. Em Marrocos contacta com a oposição a Salazar. Parte para os EUA, onde é, de novo, descoberto, levando-o a abandonar o país, seguindo para o Rio de Janeiro. Humberto Delgado e, pouco depois, Henrique Galvão estão por lá, no exílio, mas também uma vasto grupo de exilados, entre os quais João Camoesas, Oliveira Pio ou Sarmento Pimentel.
A 10 de Novembro de 1961, data onde ocorreu a chamada "Operação Vagô" organizada por Henrique Galvão, Palma Inácio participa no comando da tomada do avião da TAP "Mouzinho de Albuquerque", que fazia a ligação Casablanca-Lisboa [juntamente com "Amândio Silva (hoje, director da organização privada Mares Navegados, Brasil), Camilo Mortágua (agora empresário no Alvito), João Martins (proprietário de um restaurante em Bruxelas), Fernando Vasconcelos (residente em Brasília) e Helena Vidal (já falecida)" - ler AQUI e AQUI todas as peripécias da operação], com a intenção de lançar milhares de panfletos [Manifesto da Frente Anti-Totalitária dos Portugueses Livres no Estrangeiro] sobre o país, denunciando a fraude eleitoral que se ia realizar e apelando à revolta. Foi um êxito a operação e perante as pressões do governo português para a extradição do "comando", Palma Inácio e os amigos partem, de novo, para o Brasil.
[foto in História da PIDE, de Irene Pimentel]
[a continuar]
J.M.M.
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