domingo, 29 de novembro de 2009

MÁRIO SACRAMENTO - NOTA BREVE


Mário Emílio de Morais Sacramento nasce em Ílhavo [Largo do Oitão] a 7 de Julho de 1920. Filho de Artur Sacramento (comissário de bordo da marinha mercante, culto e de biblioteca farta) e de Rita Sarmento, de famílias liberais. Frequenta o Liceu José Estêvão (Aveiro) e dirige (em 1935), sob sugestão do Agostinho da Silva, o jornal dos alunos do liceu ("A Voz Académica") até 1938, tendo sido o jornal posteriormente suspenso e Mário Sacramento (então aluno do antigo 7º ano) tem aí a sua primeira prisão (10 de Junho). Antes, a 7 de Abril, subscreve, na qualidade de presidente dos estudantes, uma mensagem escrita a Homem Cristo, no decurso da homenagem ao jornalista aveirense.

Matricula-se em Medicina em Coimbra, tendo-se mudado posteriormente para o Porto, "a fim de nesta ter Pulido Valente como mestre". Em 1945 é aluno da Universidade de Lisboa, onde completa o seu curso médico. Faz parte da Comissão Central do MUD Juvenil [a sua primeira comissão central era constituída, além de Mário Sacramento, por António Abreu, Francisco Salgado Zenha, José Borrego, Júlio Pomar, Maria Fernanda Silva, Mário Soares, Nuno Fidelino Figueiredo, Octávio Pato, Óscar dos Reis e Rui Grácio] e aproxima-se do Partido Comunista [ou já era mesmo membro ou simpatizante]. Fixa-se na sua terra natal, onde exerce clínica (curiosamente na Rua José Estêvão).

Em 1953 “sofre a segunda prisão de ano e meio, e escreve em Caxias a estimada obra, ‘Fernando Pessoa – Poeta da Hora Absurda”. Volta a ser preso em 1955, e em 1957 abre consultório em Aveiro (em frente ao café Trianon), onde se fixa. Faz parte da comissão promotora do I Congresso Republicano [comissão onde se encontravam outros intelectuais aveirenses, como Manuel das Neves (pres.), Álvaro Seiça Neves, João Sarabando, Júlio Calisto, Armando Seabra, Alfredo Coelho de Magalhães, Manuel da Costa e Melo, Joaquim José Santana, Horácio Briosa] e que decorreu no Teatro Aveirense, dia 6 de Outubro de 1957, sob presidência de António Luís Gomes, ele próprio natural do distrito de Aveiro, e único sobrevivente do Governo Provisório [de referir que é também em Aveiro que o II Congresso Republicano se realiza (15 a 17 Maio de 1969 e já depois da morte de Mário Sacramento) e mesmo o III, então denominado Congresso da Oposição Democrática, em 1973. A realização do I Congresso teve a autorização do então governador civil, Vale Guimarães, amigo pessoal de Mário Sacramento e que era conotado com a linha “reformista” do então regime].

Em 1962 sofre mais uma prisão (a quarta), que cumpre em Caxias. Começa a escrita dos seus “Ensaios de Domingo” (publicada em 1974). Participa (1965), em representação da Sociedade Portuguesa de Escritores, em Itália, no Congresso dos Escritores Europeus.

Em 1969, participa, no que será a sua última intervenção política, nas comemorações do 31 de Janeiro, no Teatro Aveirense. Ainda aparece a impulsionar o II Congresso Republicano, mas a sua morte, a 27 de Março desse ano, impede-o de participar.

Mário Sacramento colabora, ao longo da sua vida, em vários periódicos: Árvore (nº3, em 1952), Bandarra, Colóquio Letras, O Comércio do Porto, Cronos, O Diabo (desde o nº26), Diário de Lisboa, Estrada Larga, Europa, O Litoral, Mundo Literário, Pensamento, Seara Nova, Sol Nascente, Vértice. Como ensaísta e crítico literário (inserido na corrente neo-realista) publica obras estimadas sobre alguns dos mais eminentes vultos nacionais, como Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Cesário Verde, Moniz Barreto ou Fernando Namora.

a consultar: Aveiro e o seu Distrito, nº20.

J.M.M.

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