domingo, 14 de fevereiro de 2010

HENRIQUE GALVÃO - CARTA ABERTA A SALAZAR



HENRIQUE GALVÃO [1895-1970] nasceu no Barreiro, concluiu estudos na Escola Politécnica, seguiu a carreira militar. Foi apoiante de Sidónio Pais, participou como cadete no golpe de 28 de Maio de 1926, venerou Oliveira Salazar ("Ninguém conhece melhor o amo que o seu criado de quarto", disse um dia], teve cargos públicos (direcção da Emissora Nacional, foi responsável pela secção colonial da Exposição do Mundo Português em 1940) participa e organiza a Administração das Colónias [foi em 1934 deputado por Angola, depois governador de Huíla e Inspector da Adm. Colonial] - foi escritor com uma vasta bibliografia, tendo deixado alguns dos mais belos livros sobre a vida colonial, a fauna, a zoologia e a caça africana [veja-se, p. ex. o incontornável "Ronda de África, Outras Terras, Outras Gentes, Viagens em Moçambique", II vols; e o "Da Vida e da Morte dos Bichos", V vols].

Afasta-se da ditadura salazarista (a questão em torno dos Estatuto dos Indígenas é crucial), aparece apoiando a candidatura presidencial de Quintão Meireles, conspira nos anos 50 contra o Salazar [surge relacionado com uma presumida insurreição ou intentona contra a ditadura, denominada Intentona da Rua da Assunção, em 1952 – cf. A História da PIDE, Irene Pimentel, pp. 224-227] e é por isso preso pela PIDE e, consequentemente, expulso do exército. Por várias vezes detido nas cadeias Salazaristas, em 1959 consegue uma fuga espectacular do Hospital de Santa Maria (onde se encontrava hospitalizado e vigiado pela PIDE, por transferência da cadeia de Peniche), tendo-se refugiado, posteriormente, na embaixada da Argentina (12 de Maio), seguindo depois para a Venezuela.

É então (1959) que publica uma "Carta Aberta a Salazar", que é, de facto, uma apreciação brilhante, invulgarmente sarcástica e poderosa sobre o ditador e o Estado Novo, edição essa rapidamente apreendida pela PIDE, mesmo após várias tentativas de circulação. Ao que parece saiu uma edição via Venezuela (1960), mas os exemplares da edição coeva são hoje muito raros.

Henrique Galvão continua a sua luta, radicaliza-se, aparece em 1961 como principal instigador do assalto conseguido [levado a cabo pela DRIL, de que fazia parte, tb, Jorge Sottomayor] ao paquete Santa Maria [denominado logo por “Santa Liberdade” - ver AQUI], combate que fazia parte da "Operação Dulcineia" contra o regime (via tomada de Luanda), depois é co-organizador da "Operação Vagô”, de que fez parte o desvio do avião da TAP que vinha de Casablanca. Torna-se, portanto, uma figura de destaque na luta anti-fascista em Portugal, marcando novos caminhos e acções de luta contra a ditadura. Morre em 1970, em São Paulo (Brasil), só e muito desamparado de Portugal e pelos portugueses.

J.M.M

4 comentários:

Anónimo disse...

um homem destes não devia ser esquecido mas sim homenageado

Anónimo disse...

temos então aqui um vira casacas !

Anónimo disse...

Vira-casacas são aqueles lambe-botas sem escrúpulos como o Mota Amaral, o Anticristo dos Açores, que era deputado fascista quando foi o 25 de Abril e ainda chega a Presidente da Assembleia da República.

Anónimo disse...

Á pouco tempo descobri que Henrique Galvão foi tio do meu bisavô materno, e depois de pesquisar um pouco percebi que foi um grande herói de Portugal e que por isso devia de ser homenageado, mas já se sabe como é que é este país!