segunda-feira, 31 de maio de 2010

UM ALVITRE À COMISSÃO NACIONAL PARA AS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA


Entre as muitas e variadas iniciativas que têm surgido por todo o País, impulsionadas pelos municípios, pelas associações, escolas e universidades que envolvem milhares de pessoas. Entre tertúlias, debates, conferências, exposições e colóquios,alguns dos quais temos tido oportunidade de divulgar neste espaço e que revelam algum envolvimento, análise e releituras da República que fomos e que somos, julgamos também necessário alertar os responsáveis para uma carência e uma oportunidade talvez única.

As Comemorações do Centenário da República ainda não ponderaram a necessidade de realizar um evento que desse a conhecer a implantação do Partido Republicano pelo País até 1910? Sabe-se, através da leitura das obras do Prof. Doutor António Henrique de Oliveira Marques, que a ideia de João Chagas tanta vezes repetida, de que a República foi transmitida de Lisboa por telégrafo ao resto do País, não foi só isso. Antes de 1910, o Partido Republicano dispunha de implantação, mais ou menos dispersa pelo País. No total, o Prof. Oliveira Marques assinala, em funcionamento, antes de 5 de Outubro de 1910, "de 12 comissões distritais, 152 comissões municipais, 385 comissões paroquiais e 159 associações, centros e escolas" [Portugal da Monarquia Para a República. Nova História de Portugal, Dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, coord. A. H. de Oliveira Marques, vol. XI, Editorial Presença, Lisboa, 1991, p. 406].

Os estudos de casos locais e regionais ainda são poucos e muito dispersos, era importante congregar e reflectir sobre a acção dos dirigentes regionais e locais. Os mecanismos de propaganda utilizados, os comícios, as conferências, as visitas dos líderes nacionais do partido, mas também sobre o papel da imprensa republicana, os panfletos, folhetos, os postais, as revistas. Faltam-nos estudos sobre os principais jornais republicanos (O Mundo, A Luta, Folha do Povo, A Democracia,O Século, O País, A Capital, A Vanguarda, República, O Intransigente- em Lisboa; Voz Pública, A Folha Nova, O Norte, A Montanha - no Porto; A Resistência, de Coimbra; Voz da Justiça, na Figueira da Foz; A Província do Algarve, de Tavira; O Debate, de Santarém; O Porvir, de Beja;A Voz Pública, de Évora, para citar somente alguns mais conhecidos), mas também sobre as elites políticas republicanas nas diferentes regiões, os dirigentes regionais (muitas vezes futuros ministros ou governadores-civis); a iconografia republicana, recolhendo e analisando fotografias e gravuras da época; os percursos e digressões dos ministros e chefes de governo, bem como a sociologia dos ministros e secretários de estado e os laços de parentesco ao longo do tempo (sugestões apresentadas pelo Prof. Oliveira Marques, numa conferência realizada na Faculdade de Letras, em Coimbra, a 12 de Novembro de 2003); a acção e evolução dos Centros Republicanos ao longo do tempo, dirigentes, actividades, entre muitas outras coisas.

Algumas destas propostas de actividades, sobretudo estudos regionais e locais podiam ser compiladas e recolhidos para publicação, em livro ou online, acessível a todos os interessados, funcionando como um repositório de trabalhos sobre a República em Portugal.

Estas reflexões que temos vindo a fazer e que aqui transformamos num alvitre, são fruto da análise que temos vindo a fazer dos eventos promovidos pela comissão, muitos estão a ser desenvolvidos em parceria com a CNCCR, mas porque longe dos grandes centros perdem grande parte da sua visibilidade pública.

Saúde e Fraternidade!

A.A.B.M.

2 comentários:

Surrealista disse...

Não podia estar mais de acordo.
Sempre que posso e tenho conhecimento, dou de imediato, como, aliás, o faz o vosso blog, de tudo o que é iniciativa ou publicação local.
Infelizmente, temos muita dificuldade em obter publicações, ainda que recentes, publicadas pelas autarquias.

Anónimo disse...

Se pensarmos que as acções militares e a proclamação do novo regime foram feitas em Lisboa, deste ponto de vista, sim, foi um decreto «por telégrafo». A realidade é, como sempre, mais complexa. Desde republicanos entusiasmados do Porto e de Coimbrae irem de carro até Lisboa para saberem o que se passava - exactamente porque os fios do telégrafo foram cortados, a circulação de comboios sabotada, enfim, as siruações locais foram muito mais complexas.