sexta-feira, 18 de junho de 2010

LEILÃO DE MANUSCRITOS, AUTÓGRAFOS, FOTOGRAFIAS E EFÉMERA


A Livraria Luís Burnay vai levar a efeito no próximo dia 19 de Junho de 2010, no Hotel Roma, em Lisboa, um leilão de manuscritos e fotografias.

O leilão terá lugar na Sala Veneza do Hotel Roma, situado na Rua Infante D. Pedro, nº 6, a partir das 15 horas.

Entre os 320 lotes de documentos que vão a leilão destacam-se por exemplo:

-12 - ANDRADE, Gomes Freire de.- 1 Documento autógrafo (1p.; 17cm.)
Carta de recomendação autógrafa do notável marechal de campo, para o Alferes d’Avila “… Je cértifie que Monsieur d’Avilla sous Lieutenant au ci devant cinquiéme Reg.nt d’Inf.e de la Légion portugaise a toujours eu une conduite irréprochable, et qu’il a été proposé par sonColonel pour être emmené au grade de Lieutenant. Grenoble le 28 de Juillet 1811. Le Lieutenant Général Commandant la Légion portugaise – Gomes Freyre.”
Assinado e datado de Grenoble 28 de Julho 1811. O notável militar que viria a ser supliciado em São Julião da Barra seis anos depois, era nesta época comandante dos três batalhões da “Legião portuguesa” e dirigia-se para a Alemanha e Polónia ao serviço de Napoleão que o nomeou governador de Danzigue. Conserva o lacre.

- 15 - ARNOSO, Conde de.- 1 Carta autógrafa (4p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro a pedir colaboração artística:”…O Alfredo Guimarães e eu, em nome d’uma comissão de que fazemos parte e que promove uma recita de homenagem á Actriz Virgínia fomos há pouco a sua casa para lhe pedir para o Raphael se encarregar de desenhar o programa d’essa festa.” Explica depois o projecto da festa em si e reforça o pedido:”… Delegado pela comissão para lhe fazer tamanho pedido gustosamente nos encarregamos d’elle certos que V. admirador também da Virginia mtº folgará em lhe prestar também a homenagem do seu grande talento.”
Assinada e datada de 7 de Junho 1902. Em papel timbrado do “Turf Club” de Lisboa. Juntamos uma carta também dirigida a Bordalo e assinada por Fernando Reis que dá conta que o programa da homenagem teve que ser organizado á ultima da hora porque faltou muita da colaboração prometida.

- 17 - AZEVEDO, Guilherme de.- 1 Carta autógrafa (3p.; 18cm.)
Carta de Paris dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro, ainda antes da colaboração que Azevedo haveria de dar ao António Maria e provavelmente a propósito de uma caricatura sua que Bordalo havia publicado no Album das Glórias. Começa por dizer :” Depois de o reprehender devidamente pela sua traição cumpre-me agradecer a sua obra. Voçê fazer de mim uma celebridade da nossa Terra, reprezenta um excesso, caricaturar-me é para mim uma gloria. A caricatura, se bem que eu não me conheça em efígie sufficientemente, por nunca me ter dado attenção, parece-me admirável, a cor é um pouco de …. [ ? ] de condemnado, mas o lithographo la teria as suas razões. Em todo o cazo dois bons apertos de mãos, um pela obra do seu lápis, outro pelas boas palavras de Ramalho.[Ramalho Ortigão]” continuando a elogiar o Album das Glorias
,” Escuzo de lhe repetir que não só esta obra como todos os typos do Album das Glorias, são admirados pelas pessoas a quem os mostro. Voçê começa a ter um circulo de popularidade no bairro latino.[ em Paris] O ultimo numero do Antonio Maria é um primor.” faz ainda alguma ironia politica com a qualidade artística e humorística das caricaturas: “Quanto lhe deu o Conselheiro Arrobas por você o ter immortalizado vestido de moço de forcado ? Ainda que o próprio Conselheiro se vendesse a peso no Alentejo não seria capaz de pagar dignamente aquelle primoroso typo!” A carta continua com uma interessante descrição de Paris na altura, onde nevava e fazia uma temperatura de 10 ou 12 graus abaixo de 0 que Azevedo confessava” Ser um pouco insuportável”. Termina com a descrição de um costume académico no “Cartier Latin” que o surpreendeu:”Hontem quando vinha para caza […… ] encontrei dois estudantes
de medecina meus conhecidos [… … …], que me convidaram para ir ceiar com elles […
….] Entrámos n’uma Tartine conhecida[… …] Os rapazes compraram varias coisas: uma ceia [… …] Mas á sahida vejo um junto do trottoir a cavar na neve: aproximámo-nos: e nisto surge de dentro do montículo de gelo uma grande lagosta, que tinha arvorada no lombo uma bandeira de papel com este dístico- 10 francos. Enquanto uns compravam os outros roubavam este crustáceo. É o costume aqui no bairro. Quando um grupo entra assim n’uma loja vae sempre um encarregado de roubar uma peça importante.”.
Assinada e datada de Paris, 20 de Janeiro.

- 28 - BELDEMÓNIO (Eduardo de Barros Lôbo).- 1 Carta autógrafa (1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro.Na sua tão característica caligrafia quase microscópica Beldemónio “denuncia” : ” … e o facto suggere-me a idéa de lhe denunciar que não recebi convite para a segunda exposição de faianças. Denunciar, aqui, significa apenas isto: - o meu convencimento final de que o meu caro Bordallo ignorou essa exclusão do meu pobre nome da lista dos convidados – Não posso afinal acreditar que o seu espírito pudesse ser influenciado por um ressentimento qualquer em tal cazo; tanto mais que seria absurdo tal ressentimento. É possível é mesmo certo, que tem havido incompatibilidades críticas entre nós; não houve, porém, incompatibilidades artísticas, e muito menos incompatibilidades pessoaes. Dado o meu
alto conceito da sua individualidade como artista e como homem, aquella exclusão magooume,a principio, porque a principio a julguei um acto da sua vontade. [… .. …] Hoje que vejo de outra forma a exclusão digo-lha, - para que a saiba.”
Assinada e datada de Lisboa 12 de Julho 1886. Pequeno restauro na dobra.

- 41 - BRUNO, José Pereira de Sampaio.- 1 Carta autógrafa (1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Raphael Bordalo Pinheiro pedindo um favor: “… Deve seguir para ahi a Companhia do Theatro do Principe Real d’esta Cidade, que ahi vai dar uma série de recitas no Colyseu. Recommendo á sua benevolência esses artistas, entre os quaes conto alguns amigos.[….] Sei bem que não tenho títulos para lhe solicitar favores mas a gentileza da sua amizade incita-me a esta audácia.”
Assinada e datada do Porto, 19 de Março de 1890.

- 42 - CAMACHO, Brito.- 1 Carta autógrafa (1p.; 22cm.)
Carta dirigida seguramente ao Dr. Manuel de Sousa Pinto: “..Esqueci-me de lhe dizer [… … ] que o Forjaz [ Albino Forjaz Sampaio ?] tem no pelouro da critica litteraria a mesma posse plena e domínio absoluto que o Dr. tem no pelouro do Theatro. Há tempos elle pediu-me para fazer uma chronica sobre coisas theatraes, e eu disse-lhe que se entendesse com o Dr. Comprehende que, depois d’isto, o Forjaz tinha razão para se melindrar se lhe invadissem o campo, sem elle ser ouvido previamente. Assim, pois, o Dr. se entenderá com elle sobre o caso, ficando eu bem com os dois.”
Assinada. Em papel timbrado do Jornal A Lucta. Com furos de arquivador na margem superior.

- 49 - CARLOS I, Dom ( Rei de Portugal ).- 1 Carta autógrafa (2p.; 20cm.)
Carta dirigida ao Dr. José Vicente Barbosa du Bocage, então Ministro dos Negócios Estrangeiros após a famosa Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891 no Porto : “…. Peço-lhe que encarregue o Casal de agradecer muito calorosamente à Rainha o seu amabilíssimo interesse. Escrevi a J. Chrysóstomo, e A. Candido, ainda agora dizendo lhes que a minha opinião era que os do Porto ( paisanos ) deveriam ser julgados pelos tribunais militares. Contudo se a opinião do Conselho de Ministros não for essa sujeitar me hei com a melhor boa vontade.”
Assinada. Em papel timbrado do Paço de Belem – Lisboa.

[Conjunto interessante de 8 cartas de D. Carlos, abordadando questões que vão desde o período ao Ultimato até ao 31 de Janeiro de 1891, sobre os contactos estabelecidos nesse contexto.]

- 61 - CASTELO BRANCO, Camilo.- 1 Carta autógrafa (2p.; 21cm.)
Carta dirigida a Adelino das Neves e Mello a propósito da célebre “ Questão da Sebenta” : “… Muito obrigado pelas informaçoens contradictorias com as que o Dr. Callisto havia dado no Porto: que não recebêra a minha carta. Eu achava mais bonito que elle affoitamente asserverasse e confirmasse os insultos. Eu podia molesta-lo mais do que fiz nas mansas considerações á sebenta , se publicasse a parte da carta inclusa com a authorisação do Victorino da Motta; porém, quando esta carta me veio á mão, já o folheto corria os seus fados. Como quer que seja, desejo que V. Exª aquilate o carácter desse cathedratico dando-lhe conhecimento da carta que o define. É para deplorar que do seio da universidade, onde se presume florescerem ainda
respeitáveis professores, transpirem baixos ódios em baixas palavras, mais proprias das desbragadas piadas dos noticiaristas da imprensa diária. Nunca imaginei que teria de repellir affrontas de tal procedência.”
Assinada e datada de 12 Abril 1883. Juntamos o respectivo envelope.

- 73 - CASTRO, Ferreira de.- 1 Carta autógrafa (4p.;21cm)
Carta dirigida a Reinaldo dos Santos, escrita do Funchal onde o escritor se refugiou por motivos de saúde do Inverno continental. “Cá estou nesta Madeira maravilhosa, cujo Inverno é, na realidade, uma deslumbrante primavera. E não é sequer necessário sair do hotel para me extasiar perante as graças da natureza, cuja prodigialidade me surpreende [… …] vou, por isso, dentro de alguns dias, para o interior da Ilha.”.
Assinada e datada Janº 17 Funchal. Juntamos o respectivo envelope.

- 75 - CASTRO, José Luciano de.- 1 Carta autógrafa (2p.; 18cm.) + 1 Documento
Carta dirigida seguramente ao General Carlos Roma du Bocage : “….Por incommodo de saúde não pude ir hontem á noute assistir á sessão solemne da Sociedade de Geographia em que se rendeu a devida homenagem aos relevantes serviços e eminentes qualidades de seu Pae, e meu respeitável amigo. Venho pedir-lhe a elle , e a V. Exª desculpa da minha falta e associar-me por este modo ás justíssimas demonstrações de affectuosa admiração, e sincero reconhecimento prestadas pela actual geração a quem tão bem tem servido o seu pai.”
Juntamos um ofício do Ministério do Reino a convocar o Dr. José Vicente Barbosa du Bocage para uma reunião do Conselho d’Estado com a assinatura autógrafa de José Luciano de Castro.

- 81 - CHAGAS, João.- 1 Carta autógrafa (3p.; 18cm.)
Carta dirigida ao editor portuense Henrique Guedes de Oliveira. Chagas em Lisboa acaba de fundar “ A Marselhesa”, famoso periódico de cariz republicano e diz ao seu amigo, de quem esperava ilustrações e noticias para o seu jornal : “. .Compreendi e acceitei as explicações. O que não comprehendí e acceitei foi a falta dos prometidos retratos, por que espero e esperarei! Sobretudo aquella celebre cabeça de creança do que em vidas foi João Chagas, o predestinado, bem como aquelle presidiário [… …] Emfim!. Insisto junto de ti por que me descubras um homem para a famosa tirinha de papel com notícias inéditas, contanto que sejam apenas noticias, factos. Espero que em caso de necessidade, me envies quantos telegrammas sejam precisos. Que sejas finalmente no Porto a boa musa da Marselhesa. Esta vae bem – muito obrigado,como tu dizes. Mas precizo trabalhar e teimar muito para vencer todas as difficuldades que
me cercam aqui.”
Assinada e datada de Lisboa 10 de Outubro 1896. Juntamos o respectivo envelope.
[Conjunto de 4 cartas de João Chagas sobre variadas questões.]

- 85 - COELHO, J. F. Trindade.- 1 Carta autógrafa ( 4p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro, para o lembrar de fazer uma faixa artística para adornar um livro que ia editar:” Não me chame massador! Para quem não pensa n’outra coisa de dia e de noite – e até a dormir!- duas cartas não é nada. É que eu sei como é a physiologia doartista, que não gosta que o massem, - porque só espontaneamente trabalha e faz coisas lindas [… …] O livrinho está sahindo uma belleza, um encanto da typographia ! É uma perfeita novidade, e é um encanto ! Mas só o Bordallo lhe pode dar graça! A graça, que é o supremo encanto das coisas e …das mulheres, só o Bordallo lh’a pode dar… venha de lá essa faixa, meu grande Raphael! E olhe que pode acreditar que me tem sempre de joelhos deante de si, mesmo que não me veja… Ando sempre detraz de si, de joelhos e mãos postas, n’uma lamuria pegada:
- “ O’ Bordallo! O’ Bordallo da minha alma! O’ Grande Raphael” “
Assinada e datada de 11 Abril 1901. Em papel timbrado do 2º Districto Criminal.

-86 - COELHO, J.F. Trindade.- 1 Carta autógrafa ( 2p.; 18cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro: “… Queria receber da sua mão os desenhos! Mas receio não o encontrar. Diga-me pelo portador quando, a que horas o encontro em casa. Eu sigo hoje á noite p. Paris e de lá lhe escreverei… Desejo levar eu próprio os desenhos, -- e pena é que não possa ir debaixo do palio dos Jeronymos!.”
Assinada e datada de 25 de Maio 1901. Em papel timbrado do Gabinete do Delegado do 2º
Distrito Criminal.

- 91 - CONTEMPORÂNEA Nº 14 .- 18 Documentos manuscritos e impressos
Trata-se do conjunto de originais e provas tipográficas destinadas ao 14º numero da Revista CONTEMPORÂNEA ainda reunidos por José Pacheco. É constituído por:
( 1f.).-Prova tipográfica da poesia CANÇÃO de António Boto , com correcções e acrescentos e uma nota marginal tudo autógrafo.
(7f.).-Original autógrafo da poesia SATURNO, com correcções.
(2f.).- Original autógrafo da poesia ENCONTRADO PERDIDO, com correcções.
(4f.).- Original dactilografado da poesia CORPO VISIVEL,de Cesariny de Vasconcelos, com correcções autógrafas.
(1f.).- Original autógrafo ( a lápis) da poesia PARTE D’ALMA, de Mário Saa.
(1f.).- Original autógrafo da poesia APÒLOGO DA MADRUGADA, e no verso, o original
também autógrafo da poesia MANIFESTO, ambas de Mário Saa.
(1f.).- Original autógrafo da poesia MARCHA QUÁSI FÚNEBRE, de José Queirós.
(1f.).- Prova tipográfica da poesia VARINA,de António Navarro, com correcções autógrafas.
(4f.).-Caderno já definitivo (3ªs provas ?) das páginas 17 a 24, com a poesia D. Sebastião de Fernando Pessoa, o artigo A Palavra elemento de Beleza de Mário Alves Pereira e o artigo O Pensamento alemão depois da guerra.
( 4f.).- Prova tipográfica da poesia DE LONGE,de Paradela de Oliveira com correcções e acrescentos tudo autógrafo.
(1f.).- Prova tipográfica da poesia QUASI, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) com correcções autógrafas.
(4f.).- Parte do original autógrafo de uma poesia.
(4f.).-Caderno, (2ªs provas ?) com poesia CANÇÃO de Antonio Boto, artigo TOMAZ G.
MASARYK em memória do seu 79º aniversario natalício pelo Dr. Francisco Kaderabek, a
poesia VATICINIO de Judith Teixeira, e o Artigo DEUS OS FEZ- Epilogo do romance de duas almas por Armando Ferreira.
(5f.).- Original autógrafo da poesia O ULTIMO POEMA D’AFRICA de Antonio de Navarro,
com correcções.
(5f.).-Original dactilografado das poesias EXERCICIOS ESPIRITUAIS I e II, de Casais Monteiro, com uma estrofe riscada.
(3f.).- Provas tipográficas do artigo O VIOLINISTA LUIZ BARBOSA de Carlos Parreira.
(6f.).- Provas tipográficas do poema LA VEJEZ DE BRADOMIN do Marquez de Quintanar,
com correcções autógrafas.
Este conjunto do maior significado literário, esteve inédito até 2005 quando dele se fez uma edição destinada a colecionadores com uma tiragem total de apenas 50 exemplares.(34-V)

- 96 - COSTA, Afonso.- 1 Carta autógrafa (2p.; 21cm.)
Carta dirigida a Adriano de Melo: “…. Recebi hoje a carta de seu irmão pedindo-me para avançar aqui uma pequena soma por causa de um Gramophone que lhe saiu em sorte… Encarreguei o Alfonsito de tratar do assunto e cá adeantarei o dinheiro se se tratar de coisa a valer [ …. ….] Como sabe, faz no dia 16 cinco anos que perdi o meu querido filho Fernando. Peço-lhe pois, que nesse dia vá levar algumas flores ao nosso mausoléu, pondo-as também e em especial junto do caixão […. ….] E não deixe de ir apontando todas as despesas que fizer….”
Assinada e datada de Paris 12 Dezembro 1929.
[Conjunto de três cartas de Afonso Costa escritas já no seu exílio em Paris.]

- 100 - COUCEIRO, Henrique de Paiva.- 3 Cartas autógrafas
Cartas dirigidas a um amigo e correlegionário monárquico a pedir ajuda na angariação de fundos para a aquisição de um presente dos monárquicos emigrados na Galiza, para o casamento do Rei D. Manuel com a Princesa Maria Augusta Victoria de Hohenzollern em Sigmaringen em 1913. 1ª carta- 18 Maio : “.. Abro uma subscripção com quota minima de 1 Fr. – entre os emigrados da Galliza, para offerecer a SMRei D. Manuel por occasião do seu casamento, e em nome da Galliza, um exemplar dos Lusíadas, d’edição escolhida, e capa artística fabricada no Leitão de Lisboa. Peço que abra ahi a dita subscripção entre os nossos amigos e companheiros da Galliza, - todos sem distincção nem excepção. – E que ao mesmo tempo lhes recolha as assignaturas n’uma folha de bom papel, sem designação outra senão o nome de cada um. Há urgência.”

2ª carta – 10 de Agosto : “..Venho agradecer os trabalhos a que ahi se entregaram
a respeito da subscripção – Recebi já os 416,66 Fr. E estou esperando as assignaturas. Remetto n’esta data ao nosso qdº amigo C. Martins de Carvalho photographia da capa dos Lusíadas, que espero estejam promptos este mez.” nesta carta refere-se ainda á falta de notícias, tanto mais que “.. o Realista falha aqui enormemente, ou antes só chega por excepção.” e quanto ás actividades de “ conspiração” monárquica diz: “… Tinha mtª vontade de lhe dar “ notícias” mas n’esse género , como em outros, etou seco de todo. Limito-me a ouvir, e como em regra não creio, não transmitto. Enfim tenho razões para dizer que há boas vontades que se affirmam e portanto há bases para manter uma certa temperatura d’esperança.”

- 3ª carta – 11 de Dezembro
: “.. tenho o gosto de poder remetter as 6 inclusas photographias da nossa dadiva. Photographias que são apenas uma pálida imagem do verdadeiro primor artístico do trabalho. Aqui em St. Jean de Luz houve romaria para o examinarem, e o publico não se cançou d’admirar e louvar. Recebi a 2ª remessa (177 fr.) que agradeço muito[… … …] Hei de ir a pouco e pouco remettendo postaes com a reproducção da photographia, com o desejo de que chegue um para cada subscritor.” para o final desabafa, “.. Das nossas cousas [ “conspiração” monárquica ] que hei de eu dizer ? Há esperanças, e há desanimos. Há esforços em sobra também. Que sahirá d’elles ? Não farei juízos, mas continuo até agora a supor que um dia tem que ser.” O presente aqui referido, tratou-se de um exemplar da notável edição dos Lusíadas impressa em Paris pelo Morgado de Mateus, adornada por bonitas gravuras, revestida por uma luxuosa e artística encadernação com as pastas em prata lavrada com embutidos em esmalte fabricada
pela Casa Leitão e Irmão de Lisboa. Este exemplar foi vendido num leilão da Casa Sotheby’s em 1991 para um coleccionador português. Juntamos um bilhete postal com a reprodução da capa do exemplar.

- 141 - HERCULANO, Alexandre.- 1 Documento autógrafo (1p.; 31cm.)
Declaração do insigne escritor a ceder á Livraria Bertrand os direitos de venda dos seus livros publicados até 1859 : “.. Declaro que tendo fechado as minhas contas com a Casa Viuva Bertrand e Filhos no fim de Dezembro de mil oitocentos e cincoenta e nove, ficam sendo próprios da dicta Casa todos os volumes e folhetos por mim publicados á custa da mesma Casa até a mesma data, devendo eu receber [ ?] em prestações mensaes de vinte e cinco mil reis o saldo a meu favor constante dos seus livros commerciais. Declaro mais que a referida Casa fica auctorisada a completar as collecções dos opusculos menores que por intervenção della tenho feito imprimir, de modo que facilite a renda dos exemplares que restam desiguaes em numero, sem que por isso me pertença qualquer quota dessas reimpressões.”
Assinado e datado de Lisboa 2 de Janeiro 1860.

- 147 - JUNQUEIRO, Guerra.- 1 Carta autógrafa ( 1p.; 27cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro desculpando-se pelo longo silêncio, “… Sou o mais desleixado dos amigos. Felizmente você conhece-me e sabe que o meu silencio nunca pode significar ingratidão ou indiferença.” e a confirmar que colaborará numa homenagem á memória de Guilherme [ Guilherme Azevedo ?]. Finaliza com um convite: “… Dia 17 parto para a Fr. [ França ?] tenciono regressar nos meiados de Setembro. Porque não vem você por essa ocasião para um niquito de 3 ou 4 dias através do Minho ? Traga o seu irmão Columbano. Conheço por aqui assumptos magníficos, que estão á espera d’elle.”
Assinada e datada de V. do C. [Viana do Castelo] 10. Dobras c/pequenos restauros.

- 151 - LIMA, Sebastião de Magalhães.- 1 Carta autógrafa ( 1p.; 21cm.)
Carta dirigida a Rafael Bordalo Pinheiro:” O meu pedido referia-se ao mesmo obsequio, que de ti sollicitou hoje o Sr. Julio Pereira da Silva, com um bilhete do João de Deus. Roga-se á tua bondade um desenho, como vae indicado no papel incluso, para o frontespício de um nº único, que vae ser vendido pelo Gymnasio Club no bazar do Hyppodromo de Belém a favor da Associação de Escolas Navais. Poderias também nos nos Pontos nos ii fazer qualquer referencia ao caso. Olha que é um grande serviço prestado aos amigos e á causa da instrucção.”
Assinada. Em papel timbrado do Jornal “ O Século”.

- 225 - PACHECO, Luís.- 1 Documento
Provas tipográficas de uma folha volante da CONTRAPONTO para anunciar a publicação de um LIVRO / ENVELOPE de desenhos e textos de João Fernandes e Luis Pacheco.
Apresenta o texto seguinte:
João Rodrigues. 30 anos de idade. Frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa. Nunca
expôs. Nunca publicou. Nunca quis. Ilustrou as 40 Noites de Insónia de António José
Forte e está representado em diversos livros e publicações surrealistas. Trabalhava pouco como desenhador. Ilustrou a edição portuguesa da Filosofia no Boudoir de Marquês de Sade e estava á espera de julgamento. Agora o julgamento fica á espera dele. Tem correcções autógrafas de Luis Pacheco c/indicações de titulo e tiragem. Na margem também autógrafo de Pacheco: “ proposta de Luiz Pacheco : eliminar.”
Pensamos que nunca foi impresso.

- 271 - RELVAS, José.- 1 Carta autógrafa ( 3p.; 18cm.)
Carta a um amigo e correlegionário político provavelmente injustiçado pela imprensa ou opinião pública: “.. Como hei-de agradecer-lhe o interesse tão grande dispensado ao meu pedido, que logo depois de receber a minha carta, tractou d’esse assumpto com o Luiz de Magalhães ? …. …. Eu ainda espero que venha uma situação, que é justamente a dedicação pessoal e a lealdade partidária que pediam áquelle homem. Porque creio que é honesto e justo. Aqui nos Patudos, devendo escolher a segunda quinzena de Setembro, por causa do clima, que então se modifica muito favoravelmente. Escusado era dizer-lhe com que prazer o veremos ali.”
Assinada e datada de 24de Agosto 1906.

-281 - SÁ-CARNEIRO, Mário de.- 1 Documento autógrafo
Original autógrafo do soneto “ El-Rei” datado de Paris 30 de Janeiro de 1916.
“Quando chego – o piano estala agoiro,
E medem-se os convivas logo inquietos…
Recuam as paredes, sobem tectos –
Paira um luxo de Adaga em mão de Moiro
…-Quem me convida mesmo não faz bem:
Intruso ainda – quando, á viva força,
A sua casa me levasse alguém…”
Assinado e datado de Paris 30 de Janeiro 1916. Em papel quadriculado.Este autógrafo é de particular interesse pois trata-se de uma das ultimas poesias do grande poeta, enviado pouco antes da sua prematura morte a Fernando Pessoa, que o publicou na revista “ Athena”. Posteriormente viria a ser incluído no volume póstumo “ Índícios de Oiro” , nos “ últimos poemas” de Sá-Carneiro.


Um conjunto de escolhas que serve para despertar a curiosidade dos nossos ledores e consultarem o catálogo disponível AQUI.

A.A.B.M.

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