segunda-feira, 14 de junho de 2010

LUZ DE ALMEIDA (Parte II)



Segundo Rocha Martins [D. Manuel II, vol. I, p. 95-97], que nos deixou uma descrição física de Luz de Almeida, referia-se a ele nos seguintes termos:

O ajudante [de Feio Terenas na Biblioteca Municipal da Rua do Saco], era um rapaz magro, baixo, pálido, de poucas falas, sem gestos, sem vivacidade, sempre vestido de negro e com uma grande gravata Lavalliére pendente sobre o colete. A casa era um rectângulo vasto de prateleiras enfileiradas, atulhadas de grandes livros que se iam buscar para os domicílios; ao lado ficava a sala de leitura e, no canto da janela que deitava para o largo, tristonho, por detrás dum store corrido, o ajudante passava os dias lendo, muito compenetrado, com o seu ar sereno, os olhos tão negros como o fato ao erguerem-se, com um ar resignado, quando o vinham interromper. Chamava-se Luz de Almeida. Ao lado havia uma escola e, de quando em quando, ouvia-se a gralhada do rapazito no grande pátio vizinho, perturbando o silencia grave da biblioteca. Todas as manhãs o homem chegava no seu passo moderado e lento, sentava-se na carteira, começava o seu serviço e depois mergulhava na leitura; às quatro da tarde saía para voltar à noite e de novo, à luz do gás sibilante, continuava a sua tarefa […]. Nós não podíamos imaginar que em plena Lisboa, ali, no fundo daquela biblioteca, na pessoa tristonha daquele rapaz melancólico, estava um organizador como o activo Basard das casas de Belford e da Rochela.

Sobre Luz de Almeida afirma ainda António Maria da Silva [O Meu Depoimento, vol. I, República, Lisboa, 1974, p. 123]:

[…] as reuniões dos conjurados amiudaram-se, agremiando-se muitos elementos populares, devido à infatigável actividade e rara tenacidade do meu velho amigo e antigo condiscípulo no Liceu de Lisboa, Artur Duarte Luz de Almeida, que aí frequentava os preparatórios para a sua admissão no Curso Superior de Letras.
Luz encarregara-se de estabelecer a ligação dos elementos populares que aliciara com os da força pública, muito especialmente sargentos, cabos e marinheiros.
A proficuidade da sua acção evidenciou-se logo.


[Na foto, a estrela símbolo da Carbonária]
A.A.B.M.

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